====== Byung-Chul Han (2024) – o sublime ====== A sobredimensionalização das coisas de Zhuang Zhou não tem a intenção de gerar um sentimento do sublime, que surgiria pelo fato de o objeto ultrapassar a medida imaginável. Kant chama de “sublime” o que é “//absolutamente grande//” (//absolute non comparative magnum//), o que é “//grande além de qualquer comparação//” ]. O sentimento do sublime surge quando o objeto, devido ao seu tamanho, ultrapassa a capacidade da imaginação na estimação estética de grandeza. A imaginação não consegue compreendê-lo em uma imagem. Com o fracasso da representação, ela é levada para além de si mesma para outra faculdade cognitiva, a razão, que, por não depender da sensibilidade, é capaz de ideias, como a ideia do infinito, por exemplo. O sentimento do sublime se deve ao conflito entre imaginação e razão, entre o sensível e o suprassensível. Ele surge no momento em que o sensível é ultrapassado em direção ao suprassensível. É um sentimento vertical, um sentimento de transcendência. Deve-se à tensão dicotômica entre imanência e transcendência, entre fenômeno e númeno. Por outro lado, a sobredimensionalização das coisas de Zhuang Zhou não leva ao suprassensível ou à “ideia” do infinito. Não desemboca na exigência de “estimar como pequeno, em comparação com as ideias da razão, tudo aquilo que a natureza, como objeto dos sentidos, contém de grande para nós” ]. A estratégia de sobredimensionalização de Zhuang Zhou é mais uma estratégia de deslimitação, de dessubstancialização, de esvaziamento e de desdiferenciação. Ser grande significa transcender as distinções rígidas e as oposições, além de qualquer posição definitiva, ou mesmo se desdiferenciar, tornando-se uma //amabilidade imparcial//. Quem é tão //grande quanto o mundo// não é impedido ou obstruído por nada //no// mundo. Aquele que, em vez de //habitar no// mundo, consegue se deslimitar até abranger o //mundo// não conhece idas e vindas, altos e baixos, nem memória e expectativa nem alegria e aversão nem afeição e repulsa. O ser-no-mundo tem que ceder lugar ao ser-mundo. Esse é também o significado de “colocar o mundo no mundo” (//zang tian xia yu tian xia//, 藏天下於天下). Ser-grande retira o “//Dasein//” (Heidegger) de sua estrutura de cuidado. Leva a um des-cuidado. O primeiro livro, no qual Zhuang Zhou permite que suas criaturas gigantes apareçam de modo tão abundante, trata precisamente de uma caminhada sem cuidado (//xiao yao you//, 逍遙遊). Fala de uma particular //ausência de esforço//, que seria o equivalente do Extremo Oriente ao conceito ocidental de “liberdade”. Não há esforço porque não opomos nada ao mundo, mas nos unimos totalmente a ele. (ByungA)