(Blumenberg1983)
Sob a enorme pressão das demandas impostas pela teologia, o sujeito humano começa a consolidar-se, a assumir uma nova condição geral, que possui, em relação às armadilhas definidas pela vontade absoluta oculta, algo como o atributo elementar do átomo: não pode ser dividido ou alterado. O absolutismo reduz tudo o que está exposto a ele, mas, no processo, traz à luz as constantes, os núcleos intocáveis […]
O ius primarium, o direito primordial à autoafirmação, torna-se compreensível muito antes de Descartes e Hobbes como a essência da compreensão da era moderna sobre si mesma – ou seja, como o mínimo antropológico sob as condições do máximo teológico […] Porque a teologia visava defender o interesse absoluto de Deus, ela permitiu e causou que o interesse do homem em si mesmo e sua preocupação consigo mesmo se tornassem absolutos […] [Em Descartes] a provocação do transcendente absoluto transita, no ponto de sua radicalização mais extrema, para a descoberta do absoluto imanente.