Cavell (1979) – verdade do ceticismo

(Cavell1979)

O reconhecimento de alguma questão sobre o mistério da existência, ou do ser, do mundo, é um vínculo sério entre o ensino de Wittgenstein e o de Heidegger. Esse vínculo implica, em particular, uma visão compartilhada do que eu chamei de verdade do ceticismo, ou o que poderia chamar de moral do ceticismo, ou seja, que a base da criatura humana no mundo como um todo, sua relação com o mundo como tal, não é a do conhecimento, pelo menos não o que pensamos como conhecimento. (Cf. “The Avoidance of Love”, p. 324.) (Então, que desenraizamento, ou maldição, nos fez, ou nos permite, pensar em nossa base dessa maneira, aceitando de nós mesmos nossa oferta de conhecimento?) Tanto Wittgenstein quanto Heidegger continuam, reinterpretando, a intuição de Kant de que as limitações do conhecimento não são falhas dele. Ser e Tempo vai mais longe do que Investigações Filosóficas ao expor como pensar sobre qual é a relação da criatura humana com o mundo como tal (localizando, entre outras, aquela relação particular chamada conhecimento); mas Wittgenstein vai mais longe do que Heidegger ao expor como investigar o custo de nossa tentação contínua ao conhecimento, como eu gostaria de colocar. Em Ser e Tempo, o custo é uma absorção no mundo público, o mundo da massa ou do homem médio. (Acho que as descrições de Heidegger sobre tal mundo, especialmente no Capítulo IV de Ser e Tempo, são as passagens menos originais e mais superficiais desse livro irregular.) Nas Investigações, o custo é expresso em termos (por exemplo, de não saber o que estamos dizendo, de vazio em nossas afirmações, da ilusão de significar algo, de reivindicações de privacidades impossíveis) que sugerem loucura. (Explorarei mais algumas trilhas dessa sugestão na Parte Quatro.) E, em ambos, o custo é a perda, ou a renúncia, da identidade ou do ser. Para se interessar por tais relatos como relatos do custo do conhecimento para a criatura que conhece, suponho que será preciso ter interesse em certas preocupações do romantismo.