Não é nada, pois é a ausência de algo, como um vazio determinado, delimitado, definido. Por quê? Por uma presença, ou várias: o que está ausente aqui está presente ali (abesse, em latim, significa estar distante de), ou esteve, ou estará, ou poderia estar, assim como outra coisa, agora, ocupa o seu lugar. A consciência tem horror ao vazio: só há ausência de uma presença.
Não existe ausência absoluta (isso seria o nada, não ausência) nem total (isso seria o vazio puro). Portanto, não há ausência em essência: há apenas a presença de tudo — o mundo — e nossa incapacidade de nos satisfazermos com ele. Tudo, para nós, não basta! É preciso algo além de tudo, eis o segredo do idealismo, que seus adversários, há vinte e cinco séculos, não cessam de desmascarar. Platão sempre renasce: o ser está em outro lugar; o ser é o que falta; ele só brilha, aqui, por sua ausência! E Demócrito renasce com ele, contra ele: o ser está em toda parte, sem faltar nada. Transcendência ou imanência: ausência ou presença do ser.
Fala-se também das ausências de quem está distraído, desatento, quase inconsciente: porque parece não estar, em espírito, onde seu corpo se encontra. Daí a observação de um professor no boletim escolar de um aluno: “Frequentemente ausente, mesmo quando presente…” Isso sugere, por contraste, o que é a atenção.
Toda ausência é ausência de algo e para alguém. É o oposto da presença, e por isso não é algo real, ou quase nada: a consciência presente daquilo que não está.
E é também por isso que é uma armadilha. Estamos no mundo; a verdadeira vida é presente.