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Wolff (DM:5-6) – Linguagem e Mundo
domingo 17 de outubro de 2021
português
É banal e é verdade dizer que a linguagem não é um objeto filosófico como os outros. A linguagem não pode ser apenas um objeto de análise, porque é sempre ao mesmo tempo seu meio. É possível filosofar sobre a percepção com os olhos fechados, mas impossível saber o que é a linguagem sem nada dizer. Nada é pensado distintamente e, logo nem a linguagem, sem a linguagem, que é sempre capturada em suas próprias redes. Pode até ser quimérico querer saber o que é em si, já que só a conhecemos através dela. Não pode, portanto, existir como uma coisa nem ser posta como um objeto. Sendo a condição de todo pensamento - pelo menos de todo pensamento filosófico - não pode ser pensada senão ao poder se refletir.
Afinal, essa reflexividade também caracteriza outros "objetos": razão, conceito, filosofia, por exemplo. O que a linguagem tem amais é que ela parece não ter exterior. Tudo está dentro. Tanto quanto tentemos colocá-la à distância, ele ainda está aí, ela já é aí. Tentar pensar sem linguagem ainda é uma tentativa de linguagem. Por definição, não se pode dizer o que está fora dela. Logo não é só o meio de pensar todo objeto, inclusive ela própria, mas também o "meio", o elemento em que se dá todo pensamento. Não é redutível a mais nada, mas tudo é redutível a ela. É por isso que pode ser falso, mas faz sentido dizer: tudo, ao menos tudo isto que se pode pensar, é linguagem.
Logo a linguagem é reflexiva e totalizante. É o que necessariamente pensamos e o que pensamos de todas as coisas - portanto, isto pelo que e isto em que ela mesma é pensada. Pode-se dizer em uma palavra: a linguagem faz mundo. Pois o mundo pode ele também ser considerado como sendo tudo o que está fora de nós e aí onde somos/estamos necessariamente. Não se pode jamais pensar o que quer que seja fora do mundo, ele não tem exterior, ele é totalizante. E é também, por assim dizer, reflexivo, na medida em que nunca pode ser somente um objeto sem também ser também uma relação ao que somos; logo jamais podemos alcançá-lo, ele, senão por este relacionamento que nos liga a ele. E pode-se até mesmo sustentar que jamais podemos saber o que ele é em ele mesmo, posto que o sabemos apenas por esta relação que ele também é. Somos/estamos no mundo e ao mesmo tempo dentro do mundo - como todo o resto. A exemplo da linguagem, o mundo é o que são todas as coisas fora de nós e aí onde somos/estamos propriamente - ele é aí onde elas são/estão e de onde podemos em todas pensá-las. Podemos ver que estas duas características são, no limite, dificilmente conciliáveis. Se se é/está no mundo, não se é/está verdadeiramente dentro do mundo. E como conceber que a reflexividade da linguagem não a impede de tudo englobar? É preciso que se possa dizer isto por qual tudo é dito. Ao contrário, é sem dificuldade que o sensível, por exemplo, é tudo isto que há "fora", posto que não remete a ele mesmo, que não é pensado "sensivelmente". Mas qualquer que seja a maneira pelas quais elas se ajustam, é por estas duas características que a linguagem "faz o mundo".
Original
Il est banal et il est vrai de dire que le langage n’est pas un objet philosophique comme les autres. Le langage ne peut pas être seulement un objet d’analyse, car il est toujours en même temps son moyen. Il est possible de philosopher sur la perception les yeux fermés, mais impossible de savoir ce qu’est le langage sans rien dire. Rien n’est pensé distinctement, et donc pas le langage, sans le langage, qui est toujours pris dans ses propres rets. Il est peut-être même chimérique de vouloir savoir ce qu’il est en lui-même, puisqu’on ne le sait que par lui. Il ne peut donc exister comme une chose ni être posé comme un objet. Etant la condition de toute pensée – du moins de toute pensée philosophique – il ne peut être pensé qu’à pouvoir se réfléchir.
Mais après tout, cette réflexivité caractérise aussi d’autres «objets»: la raison, le concept, la philosophie, par exemple. Ce que le langage a de plus, c’est qu’il semble n’avoir pas d’extérieur. Tout est dedans. Aussi loin que l’on tente de le mettre à distance, il est encore là, il est déjà là. Tenter de penser sans langage, c’est encore une tentative de langage. On ne peut par définition dire ce qu’il y a hors de lui. Il n’est donc pas seulement le moyen de penser tout objet, dont lui-même, mais aussi le «milieu», l’élément, dans lequel se donne toute pensée. Il n’est réductible à rien d’autre, mais tout est réductible à lui. C’est pourquoi il est peut-être faux mais il est sensé de dire : tout, du moins tout ce que l’on peut penser, est langage.
Le langage est donc réfléchissant et totalisant. Il est à la fois ce par quoi on pense nécessairement et ce dans quoi on pense toutes choses — par conséquent ce par quoi et ce dans quoi lui-même est pensé. Cela peut se dire d’un mot : le langage fait monde. Car le monde peut lui aussi être considéré comme étant tout ce qui est hors de nous et là où nous sommes nécessairement. On ne peut jamais penser quoi que ce soit hors du monde, il n’a pas d’extérieur, il est totalisant. Et il est aussi, pour ainsi dire, réfléchissant, en ce qu’il ne peut jamais être seulement un objet sans être aussi une relation à ce que nous sommes ; nous ne pouvons donc jamais l’atteindre, lui, que par ce rapport qui nous lie à lui. Et l’on pourrait même soutenir que nous ne pouvons jamais savoir ce qu’il est en lui-même puisque nous ne le savons que par ce rapport qu’il est aussi. Nous sommes au monde et en même temps dans le monde – comme tout le reste. A l’instar du langage, le monde est ce que sont toutes choses hors de nous et là où nous sommes proprement – il est là où elles sont et d’où nous pouvons toutes les penser. On voit que ces deux caractéristiques sont, à la limite, difficilement conciliables. Si l’on est au monde, on n’est pas vraiment dans le monde. Et comment concevoir que la réflexivité du langage ne l’empêche pas de tout englober ? Il faut que l’on puisse dire aussi ce par quoi tout est dit. Au contraire, c’est sans difficulté que le sensible, par exemple, est tout ce qu’il y a « dehors », puisqu’il ne renvoie pas à lui-même, qu’il n’est pas pensé «sensiblement». Mais quelle que soit la manière dont elles s’ajustent, c’est par ces deux caractéristiques que le langage « fait monde ».
Ver online : Francis Wolff