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Pensamento Ocidental Moderno

Wahl: PARADOXO - TENSÃO - AMBIGUIDADE

Filósofos e Pensadores

quarta-feira 23 de março de 2022

      

Jean Wahl  , As Filosofias da Existência. Trad. I. Lobato e A. Torres.

CAPITULO VI - PARADOXO - TENSÃO - AMBIGUIDADE  

      

CAPITULO VI - PARADOXO - TENSÃO - AMBIGUIDADE  

Chegamos à última tríade de categorias  : paradoxo, tensão, ambiguidade. Temos já insistido na ideia de paradoxo falando da existência. E, da ideia de paradoxo, chegamos facilmente à ideia de tensão. A dialéctica kierkegaardiana distingue-se da dialéctica hegeliana na medida em que é individual, apaixonada e descontínua, processando-se por saltos repentinos, por crises. Nesta não há síntese; Kierkegaard   o que pretende é a tese e a antítese. «O homem  », diz ele, «é uma síntese cujas oposições extremas devem ser postas». Ele quer que tese e antítese sejam mantidas sem que transitem numa síntese que, no fundo, as anularia. E a antítese ficará presente   na tese, como a incerteza na crença, como aquilo de que triunfo está presente no momento do triunfo.

O existente é um homem que vê defrontarem-se nele tendências contrárias, que unirá nele as diferentes idades da vida por uma contemporaneidade existencial, que unirá o patético, o dialéctico e o cômico num momento indissolúvel.

Mas podemos notar que é menos a ideia de paradoxo e a ideia de tensão e de dialéctica que a ideia de ambiguidade que estão presentes, por exemplo, em Sartre   e em Merleau-Ponty  . Na Phénoménologie de la Perception, e no que escreve sobre o comportamento  , é a ideia de ambiguidade que Merleau-Ponty põe em relevo. E vimos, quando falávamos de liberdade em Sartre, como há sempre ambiguidade entre a interpretação das nossas ações em termos de situação e a interpretação das nossas ações em termos de liberdade. Há diferentes interpretações possíveis da ação humana, e somos livres para escolher, e, ao mesmo tempo, estamos em situação de escolher a interpretação que preferimos dar. Poderíamos representar a história das filosofias da existência como indo da ideia de paradoxo e de tensão à ideia de ambiguidade. O que estava no centro   do pensamento   existencial era a afirmação de um contato entre termos antitéticos: finito   e infinito  , temporal e eterno. Hoje, o que nele está presente é a afirmação de uma diversidade de interpretações; a condição humana é tal que os mesmos fenômenos podem ser encarados em contextos diferentes; indo da ideia de paradoxo à ideia de ambiguidade, o pensamento existencial perde, sem dúvida, uma parte da sua acuidade, mas, por outro lado, ganha talvez em amplitude.


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