Página inicial > Modernidade > Raymond (ELA:Prefácio) – livre arbítrio

Raymond (ELA:Prefácio) – livre arbítrio

domingo 8 de setembro de 2024, por Cardoso de Castro

  

nossa tradução

Eis o diálogo que Schopenhauer   imagina entre ele mesmo e a consciência ingênua:

  • A consciência ingênua: “Eu posso fazer o que eu quiser. Se eu quiser ir para a esquerda, vou para a esquerda. Se eu quiser ir para direita, vou para direita. Depende apenas da minha boa vontade: logo, sou livre. "[Ensaio sobre Livre Arbítrio]
  • Schopenhauer (à parte): “Tal testemunho é certamente justo e verídico. Apenas, pressupõe a liberdade da vontade." [Ibid]
  • Schopenhauer: “Tua vontade, de que depende?" [Ibid]
  • A consciência ingênua: “Minha vontade só depende absolutamente de mim, posso querer o que quero. O que eu quero, eu que o quero. "[Ibid]
  • Schopenhauer (à parte): "Ele mesmo, ele é como ele quer e ele quer como ele é." Portanto, quando lhe perguntamos se ele poderia querer diferente do que quer, pergunta-se a ele em verdade se ele poderia ser diferente do que é: o que ele ignora absolutamente." [Ibid]
  • A consciência ingênua: "Mas eu posso fazer o que eu quero: eu posso, se quero, dar aos pobres tudo o que tenho e me tornar pobre eu mesmo - se eu quero!" [Ibid]

Ora, o "se eu quero" assume em Schopenhauer um significado totalmente alienante. Pois precisamente, vou escolher apenas o que terá decidido minha vontade. A vontade (que designa, em Schopenhauer, pulsão, afeto, desejo, instinto, paixão) torna-se o lugar de minha servidão. Para escolher diferentemente, precisaria que eu fosse outro, ou seja, meus afetos, meus desejos, minhas paixões fossem diferentes. E Schopenhauer continuou sua reflexão: “São seis da tarde, meu dia de trabalho acabou. Agora posso dar um passeio ou ir ao clube. Também posso subir na torre para ver o pôr do sol. Também posso ir ao teatro, posso visitar este amigo ou aquele outro. Posso até escapar pelo portão da cidade, lançar-me para o meio do vasto universo e nunca mais voltar ... Tudo isto só depende de mim, tenho plena liberdade de agir a meu gosto; no entanto, não nada disto farei, mas pelo menos voltarei voluntariamente para casa para minha esposa (Ibid). "Este homem certamente acredita ser livre quando ele em nada o é, pois agindo de tal ou tal maneira, ele simplesmente não fará senão traduzir a motivação mais forte que o conduzirá no seio de sua vontade. Ora, é impossível para este trabalhador das seis horas da noite agir fora de sua vontade. E Schopenhauer toma uma imagem, a do curso d’água. Ele pode fluir tranquilamente ou elevar-se em ondas. Isto depende do vento. Para a água é preciso uma causa, para o homem motivos. Na verdade, como observa Schopenhauer, o homem só pode decidir após uma escolha, a escolha de sua vontade. Não há nenhuma intervenção de livre arbítrio aqui, mas o jogo de um conjunto de tendências e de desejos que se lançaram em combate e do qual o homem foi, de certa forma, o mero espectador. O desejo mais violento prevalece hoje, mas desaparecerá no dia seguinte frente a outro. Nesta perspectiva, a própria vontade, tomada no sentido tradicional do termo, não é mais do que uma paixão como qualquer outra. Alguns homens têm uma forte vontade, outros não. Todos estes afetos constituem um "dado" que o homem não escolheu, assim como nem sua saúde nem a cor de seus olhos. O jogo complexo de tendências opostas que se confrontam nele constitui, segundo Schopenhauer, o caráter, a soma de todas as vontades. “Esta natureza especial e individualmente determinada da vontade, em virtude da qual, sob a influência de motivos idênticos, a reação difere de um homem para outro, constitui o que se denomina o caráter de cada um (Ibid)”. E Schopenhauer multiplica os exemplos para sublinhar a servidão do homem ao seu caráter, que é “invariável” porque “o homem mesmo jamais muda” (Ibid).

Salomon Reinach

Voici le dialogue que Schopenhauer imagine entre lui-même et la conscience naïve :

— La conscience naïve : « Je peux faire ce que je veux. Si je veux aller à gauche, je vais à gauche. Si je veux aller à droite, je vais à droite. Cela dépend uniquement de mon bon vouloir : je suis donc libre. » [Essai sur le libre arbitre]

— Schopenhauer (à part) : « Un tel témoignage est certainement juste et véridique. Seulement, il présuppose la liberté de la volonté. » [ibid]

— Schopenhauer : « Ta volonté, de quoi dépend-elle ? » [ibid]

— La conscience naïve : « Ma volonté ne dépend absolument que de moi seul, je peux vouloir ce que je veux. Ce que je veux, c’est moi qui le veux. » [ibid]

— Schopenhauer (à part) : « Lui-même, il est comme il veut et il veut comme il est. Donc quand on lui demande s’il pourrait vouloir autrement qu’il ne veut, on lui demande en vérité s’il pourrait être autrement qu’il n’est : ce qu’il ignore absolument. » [ibid]

— La conscience naïve : « Mais je peux faire ce que je veux : je peux, si je veux, donner aux pauvres tout ce que je possède et devenir pauvre moi-même – si je veux ! » [ibid]

Or le « si je veux » prend chez Schopenhauer un sens totalement aliénant. Car précisément, je ne choisirai que ce qu’aura décidé ma volonté. La volonté (qui désigne, chez Schopenhauer, pulsion, affect, désir, instinct, passion) devient le lieu de mon asservissement. Pour choisir autrement, il faudrait que je fusse autre, c’est-à-dire que mes affects, mes désirs, mes passions soient différents. Et Schopenhauer de poursuivre sa réflexion : « Il est à présent six heures du soir, ma journée de travail est finie. Je peux maintenant faire une promenade ou bien aller au club. Je peux aussi monter sur la tour pour voir le coucher du soleil. Je peux aussi aller au théâtre, je peux faire une visite à tel ami ou à tel autre. Je peux même m’échapper par la porte de la ville, m’élancer au milieu du vaste univers, et ne jamais revenir… Tout cela ne dépend que de moi, j’ai la pleine liberté d’agir à ma guise ; et cependant je n’en ferai rien, mais je vais rentrer du moins volontairement au logis auprès de ma femme. » [ibid] Cet homme-là se croit assurément libre alors qu’il ne l’est en rien car en agissant de telle ou telle manière, il ne fera que traduire simplement la motivation la plus forte qui l’emportera au sein de sa volonté. Or, il est impossible à ce travailleur de six heures du soir d’agir hors de sa volonté. Et Schopenhauer de prendre une image, celle du cours d’eau. Celui-ci peut s’écouler tranquillement ou s’élever en vagues. Cela dépend du vent. À l’eau, il faut une cause, à l’homme des motifs. En fait, comme le remarque Schopenhauer, l’homme peut seulement se décider après choix, le choix de sa volonté. Il n’y a pas eu ici d’intervention du libre arbitre mais le jeu d’un ensemble de tendances et de désirs qui se sont livrés combat et dont l’homme a été en quelque sorte le simple spectateur. Le désir le plus violent l’a emporté aujourd’hui mais s’effacera le lendemain devant un autre. Dans cette perspective, la volonté même, prise au sens traditionnel du terme, n’est plus qu’une passion comme une autre. Certains hommes ont une forte volonté, d’autres pas. Tous ces affects constituent un « donné » que les hommes n’ont pas choisi, pas plus que leur santé ou la couleur de leurs yeux. Le jeu complexe de tendances qui s’affrontent en eux constitue, selon Schopenhauer, le caractère, somme de toutes les volontés. « Cette nature spéciale et individuellement déterminée de la volonté, en vertu de laquelle, sous l’influence des motifs identiques, la réaction diffère d’un homme à l’autre, constitue ce qu’on appelle le caractère de chacun. » [ibid] Et Schopenhauer de multiplier les exemples pour souligner l’asservissement de l’homme à son caractère, lequel est « invariable » car « l’homme même ne change jamais » [ibid].


Ver online : Essai sur le libre arbitre