Página inicial > Panikkar, Raimon > Panikkar Tradições Budistas

Panikkar Tradições Budistas

domingo 8 de setembro de 2024

  

Raimon Panikkar   — A FASCINAÇÃO DO BUDISMO
Excertos de sua apresentação ao livro O DESPERTAR DO BUDA
Tradições budistas
Assim nasce o que hoje em dia nós, com essa facilidade de rotular tudo, chamamos de budismo, ou melhor, tradições budistas, porque há mais de uma dezena, com suas filosofias. Mas Buda não quer nada disso. Seu caminho não quer ser mundano, nem religioso, no sentido pelo qual ainda muitos entendem a palavra religião; caminha pelo caminho do meio, do equilíbrio, da harmonia, da igualdade, da serenidade.

Uma mãe aflita, desesperada pela morte do filho, encontrou-se com ele, esperando um milagre ou consolo. O Buda a recebe, a olha e lhe diz: "Contento-me com poucas coisas".

— "Pede o que quiseres!" — diz Kusa Gautami.

— "Traz-me três grãos de arroz (ou um punhado de semente de mostarda). Mas traz-me grãos de uma casa onde nunca tenha havido uma desgraça como a tua, onde nunca tenha havido dor."

E a jovem mãe, esperançosa, acreditando que a coisa era relativamente fácil, foi buscar os três grãos de arroz; mas não encontrou nenhuma casa que não houvesse sido visitada pela morte prematura. E volta até o Buda, dizendo:

Por que queria ser tão especial, por que não conhecia a condição humana? Por que não me dava conta de que o que hoje estou sofrendo à minha maneira é o que encontrei em todas as casas onde pedi um grão de arroz? Eu achava que não havia dor como a minha, mas em vez disso vi que em todas as casas ela se havia manifestado. Obrigada!

Toca-lhe os pés e se vai. Mais tarde entrou na ordem e se transformou numa arhant.

Senso comum! Não fala de Deus, não fala de religião, não quer consolar com sentimentalismos, não dá explicações.

Os discípulos das gerações que o seguem são mais intelectuais. Querem doutrina e soluções teóricas. Em troca ele admoestava:

O que prego é como o caso do homem em quem atiraram uma flecha e agora vós me pedis que continue a discussão: Por que lhe atiraram a flecha? Quem eram os seus vizinhos? Quem viu o culpado? Onde se ouviu que a haviam atirado?

São todas discussões teóricas. E quando o homem ferido está morrendo a única coisa que importa é tirar a flecha do corpo e não perder tanto tempo procurando causas, perguntando os motivos, perseguindo o culpado, querendo fazer justiça, posando de intelectual a buscar soluções. Praxis, ação imediata, espontaneidade: tirar a flecha do corpo ferido, do corpo da humanidade gravemente ferida.