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Panikkar Nobre Silêncio

domingo 8 de setembro de 2024

  

Raimon Panikkar   — A FASCINAÇÃO DO BUDISMO
Excertos de sua apresentação ao livro O DESPERTAR DO BUDA
O nobre silêncio
O Buda fala de silêncio sagrado, usando a mesma palavra que usou quando no jardim perto de Vârânâsi lhes falava das quatro verdades nobres e do nobre silêncio. Mas o nobre silêncio não consiste em calar para não dizer aquilo que se deveria dizer ou porque se quer esconder o segredo ou a pedra filosofal que se encontrou. O nobre silêncio é silêncio porque não se tem nada a dizer, e como não se tem nada a dizer não se esconde nada, não se diz nada. O nobre silêncio só cala as inquietações que possam surgir em nós. Se perguntamos por quê, é porque pretendemos encontrar uma resposta a algo que não assimilamos. E assim essa resposta gera outro por quê. Enquanto não destruirmos a raiz que nos leva a perguntar por quê, ou seja, enquanto não cessarmos de perguntar, não surgirá a solução adequada, aquela que dissolve a pergunta. Toda resposta é sempre informação de segunda mão, responde a um problema que criamos, responde a uma pergunta, não a soluciona, não a dissolve, não faz com que a pergunta não surja mais. "Se alguém beber dessa água nunca mais terá sede", disse Jesus séculos mais tarde.

O mundo do Buda é o mundo da espontaneidade, da liberdade, de tirar a flecha sem se perguntar o porquê, não porque não exista, mas porque qualquer pergunta é uma forma de violar a existência, é pedir o que está por trás, é fazer o que fazem as crianças quando se perguntam o que há dentro de um brinquedo, e, então, o desmontam. E isso não é o pior, o pior é que não brincam mais com o que desmontaram. Quando buscamos as causas, já não deixamos que os efeitos nos alegrem a vida. Mas se não tivermos o coração puro, ele ficará vazio, dirá a tradição, nós nos perderemos em perguntas e não tiraremos a flecha do corpo ferido.