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Fernando Pessoa e a filosofia hermética

Pessoa: NO TÚMULO DE CHRISTIAN ROSENKREUZ

Org. do espólio de Yvette Centeno

sexta-feira 1º de agosto de 2014, por Cardoso de Castro

      

Excertos do espólio de Fernando Pessoa   contido no livro «Fernando Pessoa   e a filosofia hermética», org. por Yvette Centeno  .

      
I
Quando, despertos deste sono, a vida,
Soubermos o que somos, e o que foi
Essa queda até Corpo, essa descida
Até à Noite que nos a Alma   obstrui,
 
Conheceremos pois toda a escondida
Verdade do que é tudo que há ou flui?
Não: nem na Alma livre é conhecida...
Nem Deus  , que nos criou, em Si a inclui.
 
Deus é o Homem   de outro Deus maior:
Adam   Supremo, também teve Queda;
Também, como foi nosso Criador,
 
Foi criado, e a Verdade lhe morre...
De além o Abismo  , Siprito Seu Lha veda  ;
Aquém não a há no Mundo, Corpo Seu.
 
II
Mas antes era o Verbo, aqui perdido
Quando a Infinita Luz, já apagada,
Do Caos  , chão do Ser, for levantada
Em Sombra, e o Verbo ausente escurecido.
 
Mas se a Alma sente a sua forma errada,
Em si, que é Sombra, vê enfim luzido
O Verbo deste Mundo, humano e ungido  ,
Rosa   Perfeita, em Deus crucificada.
 
Então, senhores do limiar dos Céus,
Podemos ir buscar além de Deus
O Segredo do Mestre e o Bem profundo;
 
Não só de aqui, mas já de nós, despertos,
No sangue   atual de Cristo enfim libertos
Do a Deus que morre a geração do Mundo.

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