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Plotino - Tratado 21,1 (IV, 1, 1) — Como se diz que a alma é intermediária entre a realidade indivisível e a realidade divisível
quarta-feira 12 de janeiro de 2022, por
traduções
desde Guthrie
É no mundo inteligível [kosmos noetos] que habita o verdadeiro ser [ousia]. A inteligência [noûs] é o melhor que existe no alto; mas também há almas [psyche]; pois é de lá que desceram para aqui. Apenas, as almas não têm corpos [soma], enquanto aqui embaixo elas habitam corpos e estão divididas aí. No alto [ekei], todas as inteligências existem juntas, sem separação ou divisão; todas as almas existem igualmente juntas naquele mundo que é uno, e não há distância local entre elas. A inteligência, portanto, permanece sempre inseparável e indivisível; mas a alma, inseparável enquanto ela reside no alto, não obstante possui uma natureza divisível. Para ela, "dividir-se" consiste em sair do mundo inteligível e unir-se aos corpos; pode-se, portanto, razoavelmente dizer que ela se torna divisível em passando a corpos, visto que ela se separa do mundo inteligível e se divide de alguma maneira. De que maneira ela também é indivisível? Nisso que ela não se separa inteiramente do mundo inteligível, sempre residindo lá por sua parte superior, cuja natureza é ser indivisível. Dizer então que a alma é composta de (essência) indivisível e de (essência) divisível em corpos significa então não mais do que a alma tem uma (essência) que habita parcialmente no mundo inteligível e parcialmente desce ao mundo dos sentidos, que está suspensa desde a primeira e se estende para baixo até a segunda, conforme o raio vai do centro à circunferência. Quando a alma desce aqui embaixo, é por sua parte superior que ela contempla o mundo inteligível, pois é assim que ela preserva a natureza do todo [holon] (da Alma universal). Pois aqui embaixo ela não é apenas divisível, mas também indivisível; sua parte divisível é dividida de uma maneira um tanto indivisível; ela está, de fato, inteiramente presente em todo o corpo de maneira indivisível e, no entanto, diz-se que ela se divide porque se espalha inteiramente por todo o corpo.
desde MacKenna
1. No Cosmos Intelectual habita a Essência Autêntica, com o Princípio-Intelectual (Mente Divina) como o mais nobre de seu conteúdo, mas contendo também almas, uma vez que toda alma nesta esfera mais baixa veio de lá: ou seja do mundo de espíritos incorpóreos enquanto a nosso mundo pertencem aquelas que entraram em um corpo e se submeteram a divisão corporal.
Lá o Princípio-Intelectual é um todo concentrado - nada dele distinguido ou dividido - e neste cosmos de unidade todas as almas estão concentradas também, sem nenhuma discriminação espacial.
Mas há uma diferença:
O Princípio-Intelectual é sempre repugnante a distinções e partições. A alma, lá sem distinção e partição, tem ainda uma natureza que tende a existência individual: sua divisão é secessão, entrada em um corpo.
Com vistas a este secionar e a consequente partição podemos legitimamente falar dela como uma coisa particionável.
Mas se deste modo, como ela ainda pode ser descrita como indivisível?
No sentido que a secessão não é da alma inteira; algo dela guarda seu fundamento, aquilo nela que se guarda da existência separada.
A entidade, portanto, descrita como "consistindo da alma indivisa e da alma dividida entre corpos", contém uma alma que é ao mesmo tempo acima e abaixo, ligada ao Supremo e ainda alcançando abaixo esta esfera, como o raio de um centro.
Assim é que, entrando neste reino, ela possui ainda a visão inerente a esta fase superior em virtude da qual ela sem modificações mantém sua natureza integral. Mesmo aqui ela não é exclusivamente a alma particionável: ela ainda é, da mesma maneira, a indivisa: o que nela sofre partição é particionado sem divisibilidade; indivisa enquanto se dando ao corpo inteiro.
Guthrie
It is in the intelligible world that dwells veritable being. Intelligence is the best that there is on high; but there are also souls; for it is thence that they descended thither. Only, souls have no bodies, while here below they inhabit bodies and are divided there. On high, all the intelligences exist together, without separation or division; all the souls exist equally together in that world which is one, and there is no local distance between them. Intelligence therefore ever remains inseparable and indivisible; but the soul, inseparable so long as she resides on high, nevertheless possesses a divisible nature. For her "dividing herself" consists in departing from the intelligible world, and uniting herself to bodies; it might therefore be reasonably said that she becomes divisible in passing into bodies, since she thus separates from the intelligible world, and divides herself somewhat. In what way is she also indivisible? In that she does not separate herself entirely from the intelligible world, ever residing there by her highest part, whose nature it is to be indivisible. To say then that the soul is composed of indivisible (essence) and of (essence) divisible in bodies means then no more than that the soul has an (essence) which dwells partly in the intelligible world, and partly descends into the sense-world, which is suspended from the first and extends downwards to the second, as the ray goes from the centre to the circumference. When the soul descended here below, it is by her superior part that she contemplates the intelligible world, as it is thereby that she preserves the nature of the all (of the universal Soul). For here below she is not only divisible, but also indivisible; her divisible part is divided in a somewhat indivisible manner; she is indeed entirely present in the whole body in an indivisible manner, and nevertheless she is said to divide herself because she spreads out entirely in the whole body.
MacKenna
1. In the Intellectual Kosmos dwells Authentic Essence, with the Intellectual-Principle [Divine Mind] as the noblest of its content, but containing also souls, since every soul in this lower sphere has come thence: that is the world of unembodied spirits while to our world belong those that have entered body and undergone bodily division.
There the Intellectual-Principle is a concentrated all - nothing of it distinguished or divided - and in that kosmos of unity all souls are concentrated also, with no spatial discrimination.
But there is a difference:
The Intellectual-Principle is for ever repugnant to distinction and to partition. Soul, there without distinction and partition, has yet a nature lending itself to divisional existence: its division is secession, entry into body.
In view of this seceding and the ensuing partition we may legitimately speak of it as a partible thing.
But if so, how can it still be described as indivisible?
In that the secession is not of the soul entire; something of it holds its ground, that in it which recoils from separate existence.
The entity, therefore, described as "consisting of the undivided soul and of the soul divided among bodies," contains a soul which is at once above and below, attached to the Supreme and yet reaching down to this sphere, like a radius from a centre.
Thus it is that, entering this realm, it possesses still the vision inherent to that superior phase in virtue of which it unchangingly maintains its integral nature. Even here it is not exclusively the partible soul: it is still the impartible as well: what in it knows partition is parted without partibility; undivided as giving itself to the entire body, a whole to a whole, it is divided as being effective in every part.
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