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Aldous Huxley: tat tvam asi
segunda-feira 9 de setembro de 2024
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A ciência de um Ser eterno nas profundezas do ser pessoal individualizado, em vez de um ego pessoal idêntico ou pelo menos semelhante à Base Divina. Fundado na experiência direta dos que preencheram as condições necessárias a tal conhecimento, é este ensinamento expresso, sucintamente, na fórmula sânscrita "tat tvam asi" (Tu és Aquilo); o Atman, o Ser Eterno, imanente, uno com Brahman, o Princípio Absoluto de toda existência; e a finalidade de todo ser humano é descobrir o fato por si mesmo, para encontrar Aquilo que realmente é.
Só o transcendente, o completamente outro, pode ser imanente sem ser modificado e transformado naquilo em que vive. A Filosofia Perene ensina que é desejável, e na verdade necessário, conhecer a Base Espiritual das coisas, não apenas dentro da alma, mas também fora do mundo e, além do mundo e da alma, na sua transcendente autoridade — "no Céu".
Deus interno e Deus externo — estas são duas noções abstratas, que podem ser captadas pela compreensão e exprimidas em palavras. Mas os fatos a que essas noções se referem não podem ser realizados ou experimentados, exceto na "parte mais profunda e central da alma". E isto é verdade tanto com o Deus externo como o interno. Mas, embora as duas noções abstratas tenham de ser compreendidas (para usar uma metáfora espacial) no mesmo lugar, a natureza intrínseca da realização do Deus interno é qualitativamente diferente da realização do Deus externo, e cada uma, por sua vez, é diferente da realização da Base como estando simultaneamente dentro e fora — como o Ser, o percebedor e, ao mesmo tempo (nas palavras do Bhagavad Gita), como "Aquilo pelo qual o mundo todo é impregnado".
O homem que deseja conhecer "Aquilo" que é o "tu" tem de trabalhar numa das três formas seguintes: pode principiar olhando internamente para o seu tu individual e, por um processo de "morrer para o ser" — o ser do raciocínio, o ser da vontade, o ser das sensações — chegar, por fim, ao conhecimento do Ser, do Reino de Deus que está dentro de nós. Ou pode principiar com os tus existentes fora de si mesmo, e tentar realizar sua unidade essencial com Deus e, através de Deus, com cada um e com o seu próprio ser. Ou, finalmente (e esta é, sem dúvida, a melhor maneira), pode buscar a aproximação do supremo Aquilo, simultaneamente, por dentro e por fora; deste modo ele chega a realizar Deus experimentalmente como princípio do seu próprio tu e de todos os outros tus, animados ou inanimados. O ser humano completamente iluminado sabe, com a Lei, que Deus "está presente na parte mais profunda e central da sua própria alma"; mas ele é também, ao mesmo tempo, um daqueles, que nas palavras de Plotino , "vê todas as coisas, não no processo de vir-a-ser, mas no Ser, e vê a si mesmo no outro. Cada ser contém em si mesmo todo o mundo inteligível. Portanto, o Todo está em todas as partes. Cada um está lá no Todo, e o Todo, em cada um. O homem, como é agora, cessou de ser o Todo. Mas quando ele cessa de ser um indivíduo, levanta-se a si mesmo novamente e penetra todo o mundo".
Dessa um tanto obscura intuição da unidade, que é a base e o princípio de toda multiplicidade, é que tem origem a filosofia. Não somente a filosofia, mas também a ciência natural. Toda ciência, na frase de Meyerson, é a redução de multiplicidades em identidades. Ao divisar o Um interno e além do múltiplo, encontramos uma intrínseca plausibilidade de qualquer explanação da diversidade em termos de um só princípio.
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IN STUDYING the Perennial Philosophy we can begin either at the bottom, with practice and morality; or at the top, with a consideration of metaphysical truths; or, finally, in the middle, at the focal point where mind and matter, action and thought have their meeting place in human psychology.
The lower gate is that preferred by strictly practical teachers—men who, like Gautama Buddha, have no use for speculation and whose primary concern is to put out in men’s hearts the hideous fires of greed, resentment and infatuation. Through the upper gate go those whose vocation it is to think and speculate—the born philosophers and theologians. The middle gate gives entrance to the exponents of what has been called “spiritual religion”—the devout contemplatives of India, the Sufis of Islam, the Catholic mystics of the later Middle Ages, and, in the Protestant tradition, such men as Denk and Franck and Castellio, as Everard and John Smith and the first Quakers and William Law .
It is through this central door, and just because it is central, that we shall make our entry into the subject matter of this book. The psychology of the Perennial Philosophy has its source in metaphysics and issues logically in a characteristic way of life and system of ethics. Starting from this midpoint of doctrine, it is easy for the mind to move in either direction.
In the present section we shall confine our attention to but a single feature of this traditional psychology—the most important, the most emphatically insisted upon by all exponents of the Perennial Philosophy and, we may add, the least psychological. For the doctrine that is to be illustrated in this section belongs to autology rather than psychology—to the science, not of the personal ego, but of that eternal Self in the depth of particular, individualized selves, and identical with, or at least akin to, the divine Ground. Based upon the direct experience of those who have fulfilled the necessary conditions of such knowledge, this teaching is expressed most succinctly in the Sanskrit formula, tat tvam asi (“That art thou”); the Atman, or immanent eternal Self, is one with Brahman, the Absolute Principle of all existence; and the last end of every human being is to discover the fact for himself, to find out Who he really is.
Only the transcendent, the completely other, can be immanent without being modified by the becoming of that in which it dwells. The Perennial Philosophy teaches that it is desirable and indeed necessary to know the spiritual Ground of things, not only within the soul, but also outside in the world and, beyond world and soul, in its transcendent otherness—“in heaven.”
[...] God within and God without—these are two abstract notions, which can be entertained by the understanding and expressed in words. But the facts to which these notions refer cannot be realized and experienced except in “the deepest and most central part of the soul.” And this is true no less of God without than of God within. But though the two abstract notions have to be realized (to use a spatial metaphor) in the same place, the intrinsic nature of the realization of God within is qualitatively different from that of the realization of God without, and each in turn is different from that of the realization of the Ground as simultaneously within and without—as the Self of the perceiver and at the same time (in the words of the Bhagavad-Gita ) as “That by which all this world is pervaded.”
The man who wishes to know the “That” which is “thou” may set to work in any one of three ways. He may begin by looking inwards into his own particular thou and, by a process of “dying to self”—self in reasoning, self in willing, self in feeling—come at last to a knowledge of the Self, the Kingdom of God that is within. Or else he may begin with the thous existing outside himself, and may try to realize their essential unity with God and, through God, with one another and with his own being. Or, finally (and this is doubtless the best way), he may seek to approach the ultimate That both from within and from without, so that he comes to realize God experimentally as at once the principle of his own thou and of all other thous, animate and inanimate. The completely illuminated human being knows, with Law, that God “is present in the deepest and most central part of his own soul”; but he is also and at the same time one of those who, in the words of Plotinus,
see all things, not in process of becoming, but in Being, and see themselves in the other. Each being contains in itself the whole intelligible world. Therefore All is everywhere. Each is there All, and All is each. Man as he now is has ceased to be the All. But when he ceases to be an individual, he raises himself again and penetrates the whole world.
It is from the more or less obscure intuition of the oneness that is the ground and principle of all multiplicity that philosophy takes its source. And not alone philosophy, but natural science as well. All science, in Meyerson’s phrase, is the reduction of multiplicities to identities. Divining the One within and beyond the many, we find an intrinsic plausibility in any explanation of the diverse in terms of a single principle.
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Aldous Huxley , Filosofia Perene