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Tomás de Aquino / Thomas d’Aquin / Thomas of Aquinas / Thomas Aquinas / Tomas de Aquino / Tommaso d’Aquino / Suma Teológica / Summa Theologica

  

TOMMASO D’AQUINO (1225-1274)

LÉXICO DE FILOSOFIA

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O século XIII — o centro da Idade Média — significa uma profunda crise na história da filosofia. Acontecem três fatos históricos de primeira ordem, que afetam decisivamente a vida intelectual do tempo: o aparecimento da filosofia aristotélica, transmitida pelos árabes, a partir do Oriente, e pelos espanhóis, sobretudo através da escola de tradutores de Toledo; a fundação das Universidades — Paris, Bolonha, Oxford, Cambridge — e a das Ordens mendicantes — franciscanos e dominicanos —, que dão um novo sentido à vida religiosa e ao trabalho das escolas.

Neste meio intelectual ativíssimo do século XIII vive Santo Tomás de Aquino (1225-1274), nascido em Roccasecca, da família dos condes de Aquino, destinado por esta a ser abade do esplêndido monastério beneditino de Monte-Cassino, que toma no entanto o. hábito dominicano e dedica-se, até sua morte, a uma vida espiritual e de criação teológica e filosófica, sem interrupção e sem repouso.

Santo Tomás aborda, com dotes filosóficos muito superiores, a empresa a que havia consagrado seus maiores esforços seu mestre Alberto Magno: a incorporação à Escolástica do pensamento aristotélico, que se, por um lado, oferecia à filosofia instrumentos mentais de incomparável fecundidade e agudeza, por outro, inspirava não poucos receios; a filosofia de Aristóteles  , com efeito, fora pensada a partir de pressupostos alheios ao cristianismo, não conhecia a ideia de Criação, referia-se a um Deus bem diverso do cristão, e ademais carregava o acervo de influências árabes, obra de seus comentadores muçulmanos, sobretudo Averróis  . Sobre o ingente labor — eruditíssimo, porém insuficiente — de Santo Alberto, Santo Tomás irá realizar uma síntese do pensamento de Aristóteles e da filosofia e teologia medievais, impregnadas até então, como o vimos, de platonismo   e do espírito dos Patrologia - Padres da Igreja, sobretudo de Santo Agostinho  .

Desde então, a filosofia escolástica será outra coisa: algo incomparavelmente mais rico, completo, preciso, capaz de defrontar-se com os problemas em seus pormenores e chegar a soluções rigorosas e coerentes. Talvez não sem alguma perda. Possivelmente não alcançam seu desenvolvimento devido muitas ideias e intuições dos pensadores cristãos precedentes, inspiradas por um contato direto com as questões filosóficas, a partir dos pressupostos de sua profunda religiosidade. O aristotelismo é um instrumento mental de alcance muito superior ao dos recursos dialéticos de que os escolásticos anteriores dispunham, e a filosofia toma desde então o novo caminho, que talvez oculte descobertas de valor insubstituível, algumas das quais foram recolhidas nas páginas deste livro.

Convém, no entanto, não esquecer que a obra mais. importante de Santo Tomás é a Summa theologica; isto é, o fim principal que se propõe é uma sistematização da teologia; e este fim o alcança com êxito insuperável e eficácia. A teologia católica, que recebeu sua primeira formulação suficiente das mãos geniais de Santo Agostinho, chega a sua maturidade em São Tomás, o qual, por outro lado, recolhe o ensinamento agostiniano; a interpretação racional dos dogmas, e sua mesma formulação, encontraram no tomismo um instrumento insubstituível, cujo significado foi reconhecido explícita e insistentemente pela Igreja.

Relativamente ao tema do homem, Santo Tomás aborda-o de um ponto de vista aristotélico; a doutrina do De Anima e da Ética incorpora-se à antropologia tomista; porém transposta, por assim dizer, em função da revelação cristã. O esquema geral é aristotélico: teoria da matéria e forma, interpretação da alma como forma do corpo, doutrina do fim e do bem; mas o espírito que anima esta antropologia, que lhe confere seu sentido último, é no fundo bem diverso do de Aristóteles, porque o interesse que move Santo Tomás é muito diferente. O que mais lhe importa é a alma como realidade espiritual e subsistente; mostrar sua essência incorpórea e não totalmente dependente do corpo servirá para assegurar sua imortalidade; e toda a doutrina está determinada pela referência a Deus, cuja contemplação será em última instância o fim principal do homem, de quem depende a totalidade de seu sentido. Será, pois, do máximo interesse filosófico comparar a antropologia aristotélica com sua transposição cristã no tomismo.

A bibliografia sobre Santo Tomás é inesgotável. Aqui citarei somente alguns livros de especial valor filosófico: Etienne Gilson: Le thomisme. Introduction au système de St.-Thomas d’Aquin (1927); Sertillanges: Saint Thomas d’Aquin (1910); M. De Wuij: Introduction à la philosofia thomiste; H. Meyer  : Thomas von Aquin (1938). [Julián Marías   — O TEMA DO HOMEM]