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equinócio / equinócios / solstício / solstícios

  

René Guénon

Os dois “pontos de detenção” do curso solar (é esse o sentido etimológico da palavra “solstício) devem corresponder aos dois limites extremos da manifestação, seja no seu conjunto, seja em cada um dos ciclos que a constituem. Em número indefinido, esses ciclos nada mais são que os diferentes estados ou graus da Existência universal. Se isso for aplicado em particular a um ciclo da manifestação individual, tal como a existência no estado humano, torna-se fácil compreender por que as duas portas solsticiais são designadas tradicionalmente como a “porta dos homens” e a “porta dos deuses”. A “porta dos homens”, que corresponde ao solstício de verão e ao signo zodiacal de Câncer, é a entrada na manifestação individual; a “porta dos deuses”, que corresponde ao solstício de inverno e ao signo zodiacal de Capricórnio, é a saída dessa mesma manifestação e a passagem aos estados superiores, pois os “deuses” (devas, na tradição hindu), tal como os “anjos” segundo outra terminologia, representam exatamente, do ponto de vista metafísico, os estados supra-individuais do ser. [GuenonSCS]


A seguir, o autor (Jérôme Carcopino) trata de precisar o papel específico de cada uma das portas, e é aí que surge a confusão: "Segundo Proclo  , Numênio as teria especializado de forma estrita: pela porta de Câncer, a queda das almas sobre a terra; pela de Capricórnio, a ascensão das almas ao éter. Em Porfírio  , ao contrário, é dito apenas que Câncer está ao norte e é favorável à descida, e que Capricórnio, ao sul, é favorável à subida, de modo que ao invés de estarem submetidas de forma estrita ao ‘sentido único’, as almas teriam conservado, tanto para ir, quanto para voltar, uma certa liberdade de circulação". O final desta citação exprime apenas, para dizer a verdade, uma interpretação cuja responsabilidade deve ser atribuída por inteiro ao sr. Carcopino. Não vemos, de modo algum, em que o que diz Porfírio seria "contrário" ao que diz Proclo; está formulado talvez de um modo um pouco mais vago, mas parece no fundo dizer a mesma coisa. O que é "favorável" à descida ou à subida deve sem dúvida ser entendido como o que a torna possível, pois é pouco provável que Porfírio tenha pretendido deixar subsistir desse modo alguma espécie de indeterminação, o que, sendo incompatível com o caráter rigoroso da ciência tradicional, seria apenas para ele uma prova de ignorância pura e simples desse ponto. Seja como for, é visível que Numênio nada mais fez que repetir, sobre o papel das duas portas, o ensinamento tradicional conhecido. Por outro lado, se ele coloca, como indica Porfírio, Câncer ao norte e Capricórnio ao sul, é porque viu sua posição no céu. É o que, aliás, indica de forma muito clara o fato de, na citação precedente, tratar-se dos "trópicos", que não podem ter outro significado, e de modo algum referir-se aos "solstícios", que dizem respeito mais diretamente ao ciclo anual. É por isso que a situação enunciada aqui é a inversa daquela fornecida pelo simbolismo védico, sem que isso no entanto faça qualquer diferença real, pois trata-se de dois pontos de vista igualmente legítimos, e que concordam de modo perfeito entre si, desde que se conheça sua relação. [GuenonSCS]