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derma / δέρμα / dermatinos / δερμάτινος / pele que esconde

  

Nothomb

A Sarça Ardente é outra cena com sentido batismal, compreendendo duas partes: a "discalceatio", o despojamento dos calçados, e em seguida a "illuminatio", o photismos. Assim Gregório de Nissa explica a primeira parte: "Se perseveramos nas disposições de paz, a verdade nos iluminará... O primeiro ensinamento que nos dá esta luz, é de nos ensinar o que devemos fazer para nos manter sob os raios da verdade: e é que não é possível para pés calçados correr às alturas onde a verdade aparece, mas que é preciso despojar-se (perilythein) os pés da alma do revestimento de peles mortas (nekra ton dermaton peribole) da qual nossa natureza foi revestida nas origens, quando fomos postos nus por termos desobedecido ao mandamento divino. Quando tivermos feito isto, a verdade nos esclarecerá ela mesma. Com efeito o conhecimento ‘do que é’ resulta da purificação (katharsion, vide katharsis) ‘daquilo que não é’ ".

Aqui encontramos pela primeira vez o simbolismo das «peles mortas» que se deve despojar. Ele se associa, como a princípio nosso texto nos indica explicitamente, às «Túnicas de Pele» (dermatinoi chitones) do qual é dito no Gen 3,21 que foram dadas aos primeiros homens após a Queda. Estas «túnicas de pele» são a figura da condição humana decadente. Os «calçados de pele» constituem uma variante. Esta condição decadente comporta diversos aspectos sobre os quais não insisto aqui, pois nós aí retornaremos longamente. Noto somente que sentido mais ordinário é de aí ver as paixões, as pathe. Aqui Gregório disto faz um símbolo das opiniões (hypolepsis) erradas. Sabemos com efeito que para ele a virtude comporta ao mesmo tempo apatheia, que é despojamento das pathe e a eusebeia, que é despojamento das doxai, seguidas também da decadência. Encontramos este sentido em utra passagem onde Gregório descreve a primeira via como a «separação» (anachoresis) das opiniões (hypolepheon) falsas e erradas sobre Deus» (XLIV). O paralelismo das duas passagens é chocante. É interessante notar que a interpretação das doxai como de uma túnica que se deve despojar vem de Fílon  : «O grande sacerdote (figura da alma) deve se despojar da túnica da opinião (doxes)» (Leg. All 11,56; ver Plotino  , Enéada III,6,5].

Ora Gregório nos diz a princípio que o «despojamento das túnicas de pele» é produzido pelo batismo (XLVI). O simbolismo ele mesmo do sacramento o figura. O catecúmeno despia, antes de entrar na piscina batismal, suas velhas vestes - vestimentas e na saída recebia estas vestimentas brancas (photoeides), figura da incorruptibilidade reencontrada, que parecem ainda no ritual atual: «Tu estás fora do Paraíso, ó catecúmeno, partilhas o exílio de Adão nosso primeiro Pai... Agora a porta se abre. Despoja o velho homem como uma vestimenta suja. Recebe a vestimenta de incorruptibilidade que o Cristo te apresenta» (XLVI). O sentido batismal do desprendimento   - despojamento das túnicas é portanto claro. Mas em nosso texto trata-se de «calçados de pele». Estamos aqui ainda em presença de uma alusão batismal? [NothombTC  ]