BARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 114-115.
8. O mito do progresso indefinido, negando o pecado original, a ordem natural e as essências ônticas, não é outra cousa senão o produto de uma inversão pela qual se colocou, no futuro da sociedade terrestre, o Paraíso Perdido, que todas as tradições colocavam no passado. Tendo rejeitado a crença bíblica no Paraíso que foi perdido, os sociólogos, historiadores, filósofos e reformadores (...)
Página inicial > Palavras-chave > Temas > Éden / Eden / jardim do Éden / Κήπος της Εδέμ / παράδεισος / paradeisos / (...)
Éden / Eden / jardim do Éden / Κήπος της Εδέμ / παράδεισος / paradeisos / paraíso / haggan / pardes
Nothomb (Éden)
Não há desfrute desdobrado, felicidade completa senão lúcida e é o que já evoca a simples palavra “Éden” que quer dizer em hebreu “delícias”. A fortiori a expressão “jardim do Éden” que a Bíblia das Origens designa como o “lugar” por excelência no mais antigo dos três relatos da Criação que ela contém. O Éden deve ser confirmado? A palavra, antes de significar “delícias” em hebreu, queria dizer “estepe” em acádio ou árabe antigo? Uma certa crítica, sempre ávida em “demitologizar”, o pretende. O “jardim” plantado por Deus para o Homem só era um enclave em um mundo hostil? O relato dos Seis dias, redigido no segundo século antes de nossa era mas muito depois do relato do Jardim do Éden, responde. O mundo tal qual Deus criou na origem, era — e é ainda de certa maneira — integralmente bom.
Leo Schaya
Os degraus quase inumeráveis de interpretação da Escritura se encontram resumidos nas quatro consoantas da palavra-chave hebraica PaRDeS, significando o Paraíso da abordagem cognitiva de Deus. Cada uma destas consoantes representa a inicial de um destes graus de abordagem, a começar, em sentido ascendente, por Peshat, a “simples” interpretação literal da Escritura; em seguida vem Remez, a “alusão” ou o simbolismo das frases, das letras e dos signos de pronunciação do texto escriturário hebraico, em seguida, Derash, sua “interpretação” explícita, homilética, tanto figurada quanto abstrata; enfim, Sod, o “Mistério”, a iniciação secreta aos “Mistérios da Revelação”, sua exegese puramente espiritual ou esotérica. Quanto ao ensinamento exotérico ou “público”, aquele do Talmude , o “Estudo” aberto a todos, se estende sobre os três primeiros graus exegéticos, enquanto o quarto é próprio ao esoterismo , a Qabbalah ou “Recepção” da Verdade pura, que domina e elucida os graus inferiores da hermenêutica. Os cabalistas — e por vezes os talmudistas — utilizam acessoriamente em suas exegeses a ciência das letras e dos números (v. Linguagem), cada letra do alfabeto hebreu representando também um número . Os três procedimentos mais conhecidos desta ciência são a Guematria operando pelo valor numérico das letras, o Notarikon onde se pode servir das letras iniciais, medianas e finais das palavras escriturárias, e a Temurah ou método das permutações e das combinações das letras da Escritura. Enfim, segundo a tradição judaica , cada palavra divina foi revelada no Sinai sob setenta aspectos fundamentais — correspondendo entre outros aos “setenta povos da terra ” — e constituindo a base de outros aspectos subsequentes dos quais o número pode se elevar, simbolicamente falando, até “seiscentos mil”; é o número dos Filhos de Israel assistindo à revelação sinaítica e dos quais o assimilou segundo sua receptividade espiritual própria. A princípio, cada lei mosaica é suscetível de quarenta nove interpretações em um sentido conforme à tradição codificada, e de quarenta nove outros igualmente conformes a ela, mas ao mesmo opostos e complementares aos primeiros, o “quinquagésimo sentido” — oculto — sendo aquele da suprema “coincidentia oppositorum” que implica, em última análise, a “liberação” espiritual no Uno. Dada a multiplicidade de graus e de aspectos de sua interpretação legítima respondendo às capacidades espirituais e, correlativamente, às necessidades humanas extremamente variadas dos fiéis, a palavra de Deus é comparada pela Escritura a um fogo de miríades de centelhas ou a um martelo que quebra a pedra , na qual estão gravadas as letras reveladas e de onde libera estas centelhas iluminadoras: “Pois Minhas palavras são como fogo, diz o Eterno, e como um martelo que quebra a pedra” (Jeremias XXIII, 29).
A essa multiplicidade de interpretações da Verdade revelada, multiplicidade que se encontra mutatis mutandis nas outras religiões, corresponde aquela de sua realização pelos homens que a afirmam segundo o grau de sua fé e de sua compreensão efetiva. Estes graus constituem suas relações interiores — frequentemente permanentes — com Deus; por estes, eles se situam diferentemente em sua Realidade universal e infinita: “Há várias moradas na casa de meu Pai ” (Jo XIV, 2). São os seres raros cuja necessidade de causalidade vai ao infinito , os sedentos de absoluto, que passam de um degrau espiritual a outro, com o desejo inextinguível de alcançar à Verdade pura; eles ascendem por assim dizer pela “Escada de Jacó” que é “posta sobre a terra e cujo topo toca no céu”, escada “acima da qual se encontra o Eterno” (Gen XXVIII,12). A “terra” corresponde à letra da Escritura, e o “céu” a seu espírito, enquanto o “Eterno” é a eterna Realidade que os homens espirituais buscam neles mesmos, até O encontrar com Sua ajuda ; pois “aquele que busca encontra”, ele encontra “o Reino de Deus que está em vós mesmos”. Há aí toda a diferença entre os crentes que, apesar de sua fé, permanecem presos à terra, ao criado, à letra, às concepções exotéricas da religião cuja finalidade é a coexistência bem-aventurada do homem com o Criador, no aqui em baixo como no além, enquanto a pura espiritualidade ou o esoterismo tem por meta conduzir os contemplativos qualificados, tanto quanto possível desde esta vida, para a realização da identidade transcendente e eterna da essência humana com a Essência Divina, a “unio mystica” no sentido mais elevado do termo. [SchayaCD ]
Allard l’Olivier
Em Cabala judaica, o Pardes é o lugar do coração onde Deus reside (Shekinah); Pardes como diz o nome «paraíso» deriva do sânscrito para-desha, palavra que significa «direção suprema» — aquela a seguir para «ver» a Shekinah; o Pardes é também o «jardim», o verdor místico.
Alcançar o Pardes é a meta do conhecimento secreto. Ora, o Talmude reporta o que se passou com os quatro rabis que penetraram juntos no Pardes: só Akiba-ben-joseph disto saiu indemne; ben-Azai morreu, ben-Zoma ficou louco e ben-Abouya renegou sua fé. Sei que o Olho do Coração pode se abrir, se Deus assim o julgar, então mesmo que que a alma seja impura. Neste caso, aquele a quem foi dado ver experimenta tormentos da danação. É a visão em regime de Rigor . [L’illumination du coeur]
Charles d’Hooghvorst
Qual o objeto da Cabala? É a reunificação do Nome de Deus. Segundo a tradição hebraica, no momento da transgressão (quer dizer da Queda) de Adão e Eva, o Nome de Deus ficou dividido em dois . O problema consiste em reunificá-lo.
Todas as palavras da Bíblia, os "carros do Santo, bendito seja". não são, segundo a Cabala, nada mais que Nomes de Deus .
O conhecimento destes Nomes de Deus reintegra o cabalista ao Paraíso perdido.
Observemos que em hebreu a palavra Paraíso (PRDS) está composta pelas primeiras letras das quatro palavras que se referem aos quatro sentidos da Escritura:
- Pshat: o sentido simples
- Remez: a alusão (signo )
- Derash: a explicação
- Sod: o secreto
e os quatro juntos constituem o Paraíso.
Não se trata de quatro sentidos distintos, posto que estão todos vinculados ao "secreto". São como os degraus que a ele conduzem. Inclusive o primeiro sentido, o sentido simples, já transmite o secreto. Achar o Paraíso é ler a Escritura como deve ser lida. Aquele que o consegue retorna ao Paraíso. Entrar nele equivale a possuir os Nomes de Deus, é ter revivificado o texto sagrado e tê-lo penetrado. Eis aqui o Paraíso. Não há outro. [La Puerta – LA CABALA]