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plesion / πλησίον / o próximo / el prójimo

  

Jean Borella: CARIDADE HUMANA

O Cristo vem lembrar que a regra essencial do crente reside no amor a Deus e ao próximo. O Doutor da Lei que, ele mesmo, reconheceu esta regra, põe uma última questão: «Quem é meu próximo?» quer dizer, posto que o próximo é aquele que é preciso amar, «quem devo amar?». Lembremos desta questão, e escutemos a resposta do Cristo. Ela é dada sob a forma de parábola: é a história de um homem, um samaritano, que salvou a vida de um viajante roubado, machucado e, sucessivamente, abandonado por um sacerdote e por um levita. Suponhamos que a história para por aí. A conclusão que se tira seria que meu próximo, é aquele que devo me ocupar porque ele está na necessidade. Eis o homem que devo amar «como a mim mesmo». No entanto o texto nos reserva uma surpresa. O Cristo não disse: «Para este homem abandonado há um próximo?» o que pareceria a questão normal, mas «qual destes três (sacerdote, levita, samaritano) parece ter sido o próximo deste homem?». No início do episódio o próximo é aquele que devo amar, embora ignore quem ele é: «ame teu próximo como a ti mesmo». Agora o Cristo conduz o doutor a designar o próximo, aquele que ama. Logo se pomos em relação a questão «quem é meu próximo» com a resposta «é o samaritano», é preciso concluir que amar seu próximo significa amar aquele que nos cuidou e salvou da morte. Eis porque a interpretação tradicional, que vê no samaritano o Cristo ele mesmo, é perfeitamente justificada. O viajante ferido, é o homem caído, o homem do pecado. Jerusalém, cidade elevada acima do nível do mar, cidade santa, e Jericó, situada abaixo do nível do mar, cidade baixa, representando respectivamente o Paraíso terrestre e o mundo daqui de baixo. O Bom Samaritano, é a Revelação do Cristo diferente da legislação de Israel como o são os samaritanos em relação aos judeus. Este homem foi abandonado semimorto. É que, com efeito, o pecado (os ladrões que despojam o viajante = nudez de Adão depois do pecado original) não destrói a natureza adâmica, mas a fere. O vinho e o óleo postos sobre as feridas, são os sacramentos instituídos pelo Cristo. O albergue, é a Igreja, e o dinheiro dado ao hoteleiro, é o tesouro da graça que o Cristo confiou a sua Igreja.

Assim nosso próximo, aquele que devemos amar, é o Cristo Salvador, e por aí, o segundo mandamento é verdadeiramente semelhante ao primeiro.

No entanto, se tal é o sentido mais direto e mais elevado desta parábola, resta o fato que ela traz um ensinamento sobre o amor dos homens entre eles. Deve-se ainda assim continuar a ver no samaritano o próximo? E posto que o próximo é aqui aquele que amou, deve-se concluir que o amor do próximo consiste em amar aquele que nos ama? Mas disso, o doutor da Lei nunca duvidou, pois a Lei mosaica sempre o ensinou; a resposta do Cristo tem portanto um outro sentido, embora esteja de acordo com este amor natural que levamos àqueles que são nossos amigos e nossos irmãos. De fato, o Cristo procedeu a uma reviravolta, uma conversão de perspectiva. É esta reviravolta que se deve estudar.