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EckhartDC / Livro da Divina Consolação

  

O Livro da Divina Consolação é de fato a primeira parte de um livro duplo, quer dizer um díptico reunido sob o título em latim que se encontra no início do texto: Benedictus Deus et Pater Domini nostri Iesu Christi, Pater misericordiarum, et Deus totius consolationis, qui consolatur nos in omni tribulationi nostra (2 Co 1,3-4). Sendo uma citação longa não aplicável a um título os primeiros editores abreviaram em "Benedictus Deus" e na edição crítica de Josef Quint, Liber "Benedictus", e mais comumente Benedictus. Entretanto a obra comporta, como díptico que é, dois livros conhecidos como Livro da Divina Consolação e Do Homem Nobre  , sendo este último um escrito mais antigo que o primeiro. A sua data de composição parece ser durante o segundo magistério parisiense de 1311-1313.


Segundo Alain de Libera   é um livro de consolação, como o nome indica, tal qual certo número de livros do gênero existentes na Antiguidade tardia e na Idade Média. Várias tentativas por encontrar a quem se destinava, tiveram como resultado mais provável a rainha da Hungria.

O livro teve grande sucesso principalmente devido a sua estrutura em três partes de tom diverso, mas complementares. A primeira parte é teórica: é uma teologia da graça, da renovação e da justificação, explicando como o homem, feito uno com a Justiça, se torna de algum modo atuado pela Justiça ela mesma e logo não tem mais necessidade de consolação. Esta relação do justo com a Justiça, Eckhart   a apresenta em um quadro geral: parte de quatro relações equiformes — aquela do sábio à Sabedoria, do verdadeiro à Verdade, do justo à Justiça, do bom à Bondade — em seguida se concentra sobre a relação bom / Bondade. Este platonismo   linguístico espontâneo é a expressão mesmo da estrutura e do dinamismo metafísicos em causa: a participação.

As duas outras partes são mais fáceis. A segunda, puramente prática, propõe uma «trintena de pontos e de conselhos», retirados indiferentemente na tradição patrística e na tradição filosófica pagã — uma mistura bastante significativa e articulada na técnica de redação. A terceira parte que se quer «exemplar», fornece como exemplos e lições, traços e atos de sábios, quando estavam em momentos difíceis.