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AttarLS / Livre des Secrets

  

Segundo sua apresentação é a única obra que Shams od Din de Tabriz (o mestre de Jalaluddin Rumi  ) guardou depois de jogar fora no rio todos manuscritos que possuía seu discípulo, querendo simbolizar por este gesto que o desvelamento não se adquire pela erudição... Melhor que qualquer outra obra de Attar  , o Asrar Nama desempenha o papel de vade-mécum para uso dos discípulos que participam no cenáculo do Mestre e daqueles buscando a via da Unidade.

Segundo a tradição relatada por Dowlat Shah, ‘Attar teria dado ao pai de Jalaluddin Rumi   um exemplar do Asrar Nama, a última de suas obras. No Khosrow Nama, Attar afirma que terminou o Mosibat Nama e o Elahi Nama aos sessenta anos de idade. Neste Livro, Asrar Nama, se queixa de sua lamentável decrepitude e dá uma indicação de sua idade, setenta anos, o que parece indicar que o livro foi terminado pelos anos 1210.

Dada a abundância de repetições e encavalamento dos temas, é difícil tentar um resumo sistemático do livro. Por outro lado é possível decompô-lo em sua estrutura arquitetônica: dois volumes que se imbricam por uma orquestração em crescendo do tema da morte. A primeira parte, cobrindo até o capítulo XIII, descreve o lado "ensolarado" do caminho, ou seja as condições de realização assim como os efeitos do "fana", dissolução do eu no Divino. Estas condições e efeitos são o Amor, a viagem iniciática, decomposta em dois movimentos: excursão para o Princípio e incursão em si, e desmistificação que levam à descoberta da descoberta da Verdade como causa única. A segunda parte, por vezes um pouco morna, descreve o aspecto sombrio e rude deste caminho. A iluminação, que aportou a liberação do mundo das formas, deve a princípio alcançar à transformação da inteligência e da vontade pelo conhecimento e a ação. É assim que se eleva a estação da maturidade, do "baqa", quer dizer da Perduração. Esta transformação do coração se opera graças a uma purificação progressiva realizável unicamente por meio de uma mortificação permanente: tark-e xwab — abandono do sono; esraf nakardan dar xordan-e ta’am-o sarab — moderação na nutrição; xalvat, birun amadan az amizes-e xalq — retiro afastado da sociedade; xamuzy — o silêncio fora do zikr, a menção de Deus; xamuzy-ye zaban-e zaher illa az zekr-e Haqq — o respeito às orações canônicas e à prática das orações suplicantes, a obliteração de toda vontade própria e a entrega incondicional à Providência (nafy-ye xawater, tawakkol) e o estudo aprofundado da Revelação e da Tradição Maometana. Esta disciplina tem por finalidade afastar do espelho do coração (aine-ye del) as máculas depositadas pela alma cínica (sag-enafs) e de permitir ao discípulo adquirir e praticar estas virtudes cardeais que são a paciência (sabr), o silêncio (xamusy), a pobreza (faqr) e o contentamento sereno (qina’at). Através da enumeração destas diferentes regras, não é difícil reconhecer o "método de Junayd" que nos transmitiram aqui segundo as expressões de Najm-od din Kubra.

O Sufismo que preconiza Attar é portanto um Sufismo do "meio" que enfatiza mais a ética que os Estados; nuri, co-discípulo de Junayd, não afirmava "at-tasawwuf akhlaqun"?

Através da união da contemplação (theoria) e da ação (praxis) se realiza o ideal mais elevado do homem, aquele do heroísmo espiritual (vide agon): javanmardi. Fazendo o sacrifício de sua vida e de sua honra, o herói honra o juramento que fez com seu Senhor. Pela aliança "mithaq" que contraiu com seu Senhor na Pré-eternidade, o homem é o feudatário de Deus. A noção corânica de mithaq foi magistralmente comentada por Junayd; Attar a expande por assim dizer, na medida que dá ao Depósito "amanat", quer dizer ao Vicariado, uma função simétrica: a aceitar, é renovar o pacto, desta feita não mais segundo o modo espontâneo mas experimental, vivido através da prova transformadora da Redução à Unidade.