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Evangelho de Mateus / EsMt / Mateus / Matthew / Matyah / Matatyah / Matanyah / Mati / Matai / Mt

  

Chouraqui

Quem era Mateus? Os três primeiros evangelhos   citam um apóstolo com esse nome: Matatyah, Matanyah (ou seu diminutivo Matyah), em aramaico Mati ou Matai, transformado em Mateus através do grego e do latim. A Igreja primitiva identificava Matyah com Levi, o publicano (Mt 10,3), mas alguns críticos põem em dúvida essa identificação e até a atribuição do evangelho ao apóstolo de quem tem o nome. No início do segundo século, Pápias, bispo de Hierápolis, na Frigia, sugeria que “Mateus reuniu as palavras em língua hebraica; cada um as interpretou como podia” (Eusébio, História Eclesiástica, III, 39,6). Este testemunho, ao qual não faltam ambiguidades, está na origem de uma reflexão cujas conclusões atuais tendem a afirmar um laço de parentesco entre Mateus e o primeiro evangelho; os exegetas divergem, contudo, sobre a natureza desse laço. Supõe-se que a partir dos textos hebraicos e aramaicos o último redator do livro em grego assumiu suas responsabilidades de autor encobrindo sua identidade por trás do nome de Matyah. Alguns veem neste livro um trabalho de escola, a dos discípulos de Matyah.

Data e Local de Redação

A mesma incerteza reina entre os exegetas quanto à data da obra que eles fixavam, segundo as tendências, de 60 a 115, sendo esta última a data em que Inácio de Antioquia cita o livro. Porém, parece necessário retomar aqui, na sua essência, a tese de John A. T. Robinson (Redating the New Testament, Londres, 1976), cuja argumentação fundamenta-se na importância de 70, ano da destruição do Templo de Jerusalém. O evangelho de Mateus não poderia ter sido escrito após esta data sem falar explicitamente deste acontecimento.


A própria matéria de Mateus não compreende apenas a hagada midrashica da comunidade messiânica nascente, mas um bom número de textos messiânicos interpretados em perspectivas cristãs, segundo uma exegese que reflete, muitas vezes, uma metodologia própria dos rabis da Judeia. Mateus enfatiza o anúncio apocalíptico e escatológico dos últimos triunfos de um messias de glória (ver especialmente 25,31-46). O evangelho de Mateus, com todo o seu entusiasmo, ilumina a pessoa de Ieshoua ben Iosseph, em quem reconhece o meshiah sidqenou, o messias de nossa justificação, anunciada e desejada por YHWH Elohims. Seguindo procedimentos frequentes na exegese rabínica, Mateus adapta, às vezes livremente, o texto profético que cita no sentido da verdade que ele quer ensinar. Exalta, assim, a pessoa e a obra de Ieshoua anunciadas pelos profetas e desejadas por Elohims para salvar Israel e conduzir o mundo para o reino dos céus.

Mateus, mais que Marcos, descreve em Ieshoua a majestade do messias de glória. Ele o faz através de menções imperceptíveis, eliminando de seu relato tudo que pode lembrar a humanidade de sua pessoa, sobre a qual Marcos, ao contrário, insiste frequentemente. Mateus situa seu messias num plano sobrenatural; ele enfatiza a grandeza de seus milagres, que o colocam bem acima de seus discípulos e do povo. Estes aproximam-se do Adon e este verbo repete-se cinquenta vezes em Mateus, dez vezes em Lucas  , cinco em Marcos e dez vezes em Atos. Os adeptos prostram-se diante dele e este verbo é repetido treze vezes em Mateus, segundo o número dos 13 atributos pelos quais YHWH Elohims se revela a Moshe (Moisés) (Ex 34,6-7): Ieshoua é descrito como o mestre da justiça, o rabi miraculoso, o servo sofredor, o caminho, a verdade e a vida, o vencedor, enfim, da morte e do diabo. Sua ressurreição o situa à direita de YHWH Elohims e confirma sua vocação de salvador de Israel e da humanidade.

Barnstone

A autoria e lugar e data de composição do Evangelho segundo Mateus são tópicos em especulação ainda hoje em dia. No evangelho ele mesmo, o autor é comumente identificado com Levi o publicano. «Mateus» é aparentemente o nome apostólico de Levi, dado a ele pelos padres do século II. A escolástica bíblica descreve Mateus como enraizado e formado em referência rabínicas e como um judeu-cristão de língua grega da segunda geração. Embora sem consenso escolástico sobre a datação dos evangelhos, supõe-se que o Evangelho de Mateus foi escrito depois da destruição do Templo, por Tito, que é aludida segundo alguns intérpretes neste evangelho. A alusão a este evento histórico específico do ano 70 é evidência suficiente para se estabelecer a composição de todos os evangelhos que mencional a destruição do Templo, como após 70.

Embora posto em primeiro lugar na ordem dos evangelhos, seu lugar não é cronológico, pois Mateus deriva de Marcos e provavelmente de uma coleção perdida de ditos de Jesus, chamada pelos pesquisadores «Q», primeira letra da palavra alemã «Quelle», que significa «Fonte». O Evangelho de Tomé encontrado em Nag Hammadi, em 1945, é uma coleção de Logia Jesus - ditos de Jesus e que deve ter se alimentado de «Q», da mesma fonte de Mateus.

Mateus começa com uma genealogia de Jesus (provavelmente incluída posteriormente) e com o nascimento de Yeshua. Posto que Lucas também começa com uma genealogia de Jesus seguida pela famosa cena da natividade do nascimento de Yeshua em Belém em uma manjedoura, e a história da vida de Yeshua, o NT poderia ter início com Mateus ou Lucas, embora tudo indique que a composição de Mateus anteceda a de Lucas. No entanto, Marcos é indiscutivelmente o evangelho mais antigo, e serviu de fonte para Mateus e Lucas, e inclusive em novas publicações do NT consta em primeiro lugar.

Há mais alusões à Bíblia hebraica nos evangelhos em Mateus que em outros. Mateus escrevia para uma audiência de judeus, visando persuadi-los que Yeshua era o messias profetizado, para que se convertessem em judeus cristãos. A escolástica bíblica sugere que passagens de extremo antissemitismo (como Mt 27:25), na qual os judeus nas ruas clamam uma maldição sobre eles e sua progenitura para sempre, são interpolações tardias, criando assim uma polêmica externa a Mateus e seus dias.

Mateus é o mais aforístico e poético de todos os evangelhos, e o mais próximo de um livro de ditos de Jesus. Este livro de ensinamento não tem a austeridade e o drama de Marcos, que é uma narrativa mais uniforma, e termina abruptamente em um momento de temor e êxtase na caverna onde o corpo de Yeshua desapareceu.

Mateus cobre muitos aspectos da vida e missão de Yeshua, incluindo seu discurso lidando com a morte, ressurreição e imortalidade. Muitos dos momentos críticos no NT estão elaborados em Mateus, incluindo a visitação dos Magos, o nascimento de Yeshua, o missão batismal de João, a prisão e execução de João Batista, e a Semana da Paixão com a cena da prisão de Yeshua, sua crucifixão, e sua ascensão.

A maior contribuição literária e filosófica de Mateus é o Sermão da Montanha, incluindo as Beatitudes e a Oração do Senhor. A forma poética de Mateus tem seu lugar entre as maiores no mundo da poesia. [Willis Barnstone  , RESTORED NEW TESTAMENT]