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Elohim / Elohims / ’LHYM

  

Leo Schaya

Bereshith não designa a Essência absoluta em si ou a primeira Sephirah, Kether elyon, a “Coroa suprema”, mas a segunda, Hokhmah, a “Sabedoria” ou Conhecimento próprio e universal de Deus, seu aspecto inteligente, inteligível e ativo, que se determina ele mesmo como Ser causal compreendendo todos seus efeitos. Este se destaca logo ele mesmo de sua própria Essência absoluta ou da Sephirah suprema, o Supra-Ser não causal ou Kether, que permanece o Indeterminado, o Incondicionado, o Inefável, ao qual faz alusão a segunda palavra desta frase inicial bíblica, a saber “bara”, “criou”. Não que Kether cria algo; ao contrário, Ele não causa nada e deixa agir Hokhmah, a Causa primeira, o que é indicado precisamente pela ausência do sujeito que deveria preceder o verbo “criar”. Se se considera somente as duas primeiras palavras bíblicas, é dito simplesmente: Bereshith bara, “no-Princípio criou”, sem que seja preciso “quem” criou; e é esta ausência ou ocultação que simboliza Ain, o divino “Nada”, quer dizer Kether, enquanto Ele é a Realidade absoluta ou absolutamente não-manifestada. Ora, Kether é não somente o Absoluto que transcende tudo o que não é Ele, mas também o “Infinito” (En-Soph) que implica toda realidade: Ele é portanto também a Toda-Realidade, a Unidade infinita do Supra-Ser e do Ser, a Essência supraontológica do Ser, se bem que não há dualidade intrínseca entre eles. Kether é ao mesmo tempo o Supra-Ser não-causal e o Ser, enquanto que Ele repousa em sua própria Essência sem criar qualquer que seja; e é por e no Hokhmah, sua Sabedoria ou seu Aspecto cognitivo, que Ele criou — sem agir Ele-mesmo —, e é porque Hokhmah é denominada o “Pai” de todas as coisas. é ele que cria, e então, não em modo cósmico, mas “in principio” Bereshith, como o indica o versículo bíblico que nos ocupa: Ele cria em se determinando Ele mesmo como Elohim, “Deus” e Criador, implicando seus efeitos no estado arquetípico e no estado criado.

Em se determinando Ele mesmo como Elohim ou “Deus”, Ele é ao mesmo tempo o primeiro determinante e o primeiro determinado, o primeiro “causado” por Ele mesmo, o primeiro receptáculo Dele mesmo, sua Receptividade própria que Ele preenche com Ele mesmo, com sua “Sabedoria” ou Luz. É porque sua Receptividade é chamada Binah, sua “Inteligência” ou a “Mãe Suprema”, que recebe tudo do “Pai” e transmite o que é manifestável aos sete Sephiroth da construção cósmica. Ela é também chamada “Elohim do alto”, porque Ela é o Princípio transcendente da Imanência divina ou Shekhinah, que, é nomeada “Elohim de baixo”. Trata-se de Malkhuth, a última das sete Sephiroth cosmológicas, que manifesta, enquanto “Mãe inferior” e direta da criação, o que ela recebe das seis outras Sephiroth procedendo de Binah. Estas seis Sephiroth criadoras, por sua vez, portam entre outros o nome de Elohim, que significa literalmente os “Deuses”; neste caso, no entanto, não no sentido de pluralidade dos deuses separados, mas de seis aspectos fundamentais e inseparáveis do único Criador. Assim se esclarece a significação verdadeira do primeiro versículo da Bíblia  : é “em (e por) o Princípio (cognitivo e ativo, Hokhmah, a Sabedoria de Kether e não por sua Essência não-causal, que este último) criou (em modo prototípico, quer dizer por uma pura determinação ontológica, Binah, enquanto) Deus (ou os “Deuses” que é o Arquétipo supremo da criação, Arquétipo criador que compreende todos os arquétipos do criado, eles mesmos resumidos nos seis Sephiroth ativos da construção cósmica, denominados simbolicamente) os céus (e, na última Sephirah, receptiva, indicada, pelo fim desta frase escriturária:) e a terra (simbolizando portanto a Receptividade imanente de Deus)”. [A CRIAÇÃO EM DEUS]

René de Tryon-Montalembert e Kurt Hruby

Para avançar um pouco no meio destas obscuridades, escutemos estes estranhos ditos recolhidos pelo Rabi Ele’azar da boca de seu pai, o Rabi Simão. Este, um dia, caminhava à beira-mar, mergulhado na meditação. De repente, uma visão: é Elias, o Profeta. Fala, revela o segredo: «Quando o Misterioso dos Misteriosos desejou manifestar-se, produziu um simples ponto, o qual foi transmitido em Pensamento, e, neste Pensamento, executou inúmeros esboços e burilou inúmeras gravuras. Depois fez sair a santa Centelha, dum esboço muito misterioso e muito sagrado, uma maravilhosa obra, originária do melhor do pensamento. Foi chamada MI e constitui a origem da obra, existindo e não existindo, profundamente oculta, impossível de conhecer (...). Foi designada simplesmente por «quem?» (MI). Desejou, portanto, manifestar-se e ser «chamado» (...). Ele reveste-se de preciosas vestes de Esplendor (Zohar  ) e criou Eleh, que foi o seu nome. As letras das duas palavras MI e Eleh [1] juntam-se então para formar o nome completo, Elohim...» (cf.: Zohar, I, lb-2a).

André Chouraqui

Elohims é o mestre da sobrenatural visão. YHWH Adonai é seu nome. Ele foi, ele é, ele será, ele faz ser. Rocha de Israel, ele dá início e leva a seu termo a adorável liturgia da criação. Ele é o Altíssimo, o Elohims dos exércitos celestes, YHWH Adonai Sebaot, o fogo devorador no coração das hierarquias angélicas. E o único, o incomparável, o sagrado, muitíssimo acima de todos os louvores e de todos os pensamentos. É o Mestre de toda perenidade.

Em sua sabedoria ele é o Criador, o arquiteto do universo, Elohims, forma plural das forças infinitas pelas quais ele se manifesta no seio da criação. O salmista não se cansa de cantar o Elohims transcendente e imanente que ele serve e que ele ama. A criação inteira, a obra de seus dedos, os céus, a terra, os abismos nada significam comparado à sua glória; assim, o canto do salmista se situa muitíssimo acima deles; dali provém a maravilhosa luz com que ele sabe iluminar todo o real — sua familiaridade com a natureza; ele se sabe o irmão do sol, da lua, das estrelas, dos animais que convoca para sua alegria; ele transcende toda a criação que canta e se regozija em seu amor; um impulso o arranca de seus limites, para uni-lo à glória incriada. [CAMINHOS DOS SALMOS  ]


[1Eleh, «estes», é o plural comum de zéh, «este», e de zot, «esta». Elohim é o Nome de Deus mais frequentemente empregue na Bíblia. (Cf. ELOHIM)