Página inicial > Palavras-chave > Termos gregos e latinos > karma / kamma / karman / karmas / tê / adrsta

karma / kamma / karman / karmas / tê / adrsta

  

Coomaraswamy

Uma imagem foi desenhada do cosmos e do seu “olho” vigilante. Omiti apenas dizer que o campo é dividido por cercas concêntricas que podem convenientemente, embora não necessariamente, ser consideradas em número de vinte e um. O Espectador está, assim, na vigésima primeira afastado da cerca mais externa pela qual nosso ambiente atual é definido. Cada jogador ou seu desempenho em cena é limitado às possibilidades representadas pelo espaço entre duas cercas. Lá ele nasce e morre. Vamos considerar esse ente nascido, assim por diante, como ele é em si e como acredita ser — “um animal, raciocinante e mortal; que eu sei e que confesso que sou”, como Boécio   expressa. Fulano não concebe que ele pode ir e vir no tempo como quiser, mas sabe que está envelhecendo todos os dias, quer goste ou não. Por outro lado, ele concebe que, em alguns outros aspectos, pode fazer o que quiser, desde que isso não seja impedido pelo ambiente — por exemplo, por um muro de pedra, por um policial ou por mores [costumes] contemporâneos. Ele não percebe que esse ambiente do qual ele faz parte e do qual ele não pode se excluir é um ambiente determinado causalmente; que faz o que faz por causa do que foi feito. Ele não percebe que é o que é e faz o que faz, porque outros antes dele foram o que foram e fizeram o que fizeram, e tudo isso sem qualquer começo concebível. Ele é literalmente uma criatura das circunstâncias, um autômato, cujo comportamento poderia ter sido previsto e totalmente explicado por um conhecimento adequado das causas passadas, agora representado pela natureza das coisas — incluindo sua própria natureza. Essa é a conhecida doutrina do karma, uma doutrina da fatalidade inerente, que é afirmada a seguir pelo Bhagavad Gītā, xviii, “Limitado pela obra (karma) de uma natureza que nasce em ti e é teu, mesmo aquilo que desejas não fazer, fazes queiras ou não". Assim nada mais é do que um elo de uma cadeia causal da qual não podemos imaginar um começo ou um fim. Não há nada aqui com o qual o determinista mais ferrenho possa discordar. O metafísico — que não é, como o determinista, um nada-crente (nāstika; nothing-morist) — destaca meramente nesta fase que apenas o funcionamento da vida, a maneira de sua perpetuação, pode ser explicada causalmente; que a existência de uma cadeia de causas pressupõe a possibilidade logicamente anterior dessa existência — em outras palavras, pressupõe uma primeira causa que não pode ser pensada como uma entre outras causas mediadas, seja no local ou no tempo. [AKCM, nossa tradução das pgs. 14-15]


Em relação a karma (= adrsta), na doutrina cristã, cf. Santo Agostinho   em Gen. ad Lit. VII,24 (citado por Santo Tomás de Aquino   na Summa Theologica (Tomás de Aquino) I,91.2), "o corpo humano existiu previamente nas obras anteriores nas suas virtudes causais" e De Trin. III,9: "Assim como uma mãe está grávida do filho que ainda não nasceu, o mundo está cheio de coisas que ainda não nasceram" (cf. Santo Tomás de Aquino, I,115.2 ad 4) e Santo Tomás de Aquino, I.1103.7 ad 2: "Se Deus governasse sozinho (e não também por meio de causas mediatas) as coisas ficariam privadas da perfeição da causalidade". [AKCcivi  :Nota:94]

Waley

[tê]: It is usually translated ‘virtue’, and this often seems to work quite well; though where the word occurs in early, pre-moralistic texts such a translation is in reality quite false. But if we study the usage of the word carefully we find that te can be bad as well as good. What is a bad virtue’? Clearly ‘virtue’ is not a satisfactory equivalent. Indeed, on examining the history of the word we find that it means something much more like the Indian karma, save that the fruits of te are generally manifested here and now; whereas karma is bound up with a theory of transmigration, and its effects are usually not seen in this life, but in a subsequent incarnation. Te is anything that happens to one or that one does of a kind indicating that, as a consequence, one is going to meet with good or bad luck. It means, so to speak, the stock of credit (or the deficit) that at any given moment a man has at the bank of fortune. Such a stock is of course built up partly by the correct carrying out of ritual; but primarily by securing favourable omens; for unless the omens are favourable, no rite can be carried out at all.

But the early Chinese also regarded the planting of seeds as a te. The words ‘to plant’ (ancient Chinese, dhyek) and te (anciently tek) are cognate, and in the earliest script they share a common character [See Takata, Kochuhen, under the character te.]. Thus te is bound up with the idea of potentiality. Fields planted with corn represent potential riches; the appearance of a rainbow, potential disaster; the falling of ‘sweet dew’, potential peace and prosperity. Hence te means a latent power, a ‘virtue’ inherent in something.

Only when the moralistic position was thoroughly established, that is to say, after the doctrines of Confucianism had become a State orthodoxy,1 did te, at any rate among the upper classes, come to mean what we usually mean by virtue, that is to say, conduct beautiful and admirable in itself (as a work of art is beautiful) apart from its consequences. [WaleyWP  ]

Daumal

Esta palavra, usada com prazer por todos os exegetas ocidentais do budismo, sem exceção do Dr. Evans-Wentz, guarda em sua forma sânscrita um pequeno perfume de exotismo filosófico e sutil ocultismo capaz de nos deleitar e nos fazer esquecer completamente dele [seu significado]. Gostaria, portanto, de lembrar que a palavra karman significa ação, ato ou melhor, se desculparmos estas barbáries, acionamento, atuação, e, filologicamente, equivale (raiz e sufixo) ao latim crimen (crime, semelhante a crise, crítico) que significa: ação pela qual um indivíduo se coloca em posição de ser julgado, ação discriminatória (ou incriminadora); ou seja, crime, sem o sentido pejorativo que hoje se atribui a esta palavra.