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oculus cordis / monos ophthalmos / olho do coração

  

AKC (yen)

Analogamente, na psicologia islâmica, compare com Rumi  , Mathnawi, 1.1126 (a luz do olho provém da luz do coração) e com as notas de R.A. Nicholson   sobre Mathnawi 1.676-7 e 11.1285-97. O yen chinês (Giles 133.219) é olho, espaço, buraco; kuang (Giles 6389) é luz, raio; e k’ai (Giles 5794) é abrir (como abrir uma porta, uma estrada ou o olho). Daí vem yen kuang (visão ou, literalmente, olho-raio, como jih kuang, raio de sol, luz do sol; k’ai kuang, abrir o olho ou, literalmente, acender a luz). Po (Giles 9336) significa onda, influxo e daí vem yen po (olhadela ou, literalmente, corrente do olho); compare com a "corrente visual" de Platão. [AKCcivi  :Nota:77]

Frithjof Schuon

Antes dos Sufis, esta mesma expressão (Oculus Cordis) foi empregada por Santo Agostinho   e outros; ela está em relação com a teoria bem conhecida deste Padre e dos doutores que o seguiram, segundo a qual o intelecto humano é iluminado pela Sabedoria divina. — A questão de saber se existe ou não uma relação histórica entre o «Olho do Coração» da doutrina plotiniana (o monos ophthalmos), aquele da doutrina agostiniana e aquele do Sufismo (Ayn el-Qalb) é sem dúvida insolúvel, e a princípio sem importância do ponto de vista em que nos colocamos; nos basta saber que esta ideia é fundamental e se encontra quase por toda parte. — Não esqueçamos de mencionar que São Paulo  , na Epístola aos Efésios, fala dos «olhos de vosso coração» (illuminatos oculos cordis vestri, ut sciatis...) (1,18). Por outro lado é necessário lembrar que, segundo a oitava beatitude do Sermão da Montanha, são aqueles que têm o coração puro que verão Deus.

Mohamed Iqbal

O olho físico não vê senão a manifestação exterior do absoluto, ou luz real. Existe no coração do homem um olho interior que vê além das coisas, um olho que vai além do finito e atravessa o véu da manifestação. [A METAFÍSICA NA PÉRSIA. Contribuição e tradução de Antonio Carneiro  ]

Andre Allard

Segundo uma imagem que se encontra um pouco por toda parte, a unidade do Intelecto agente e de Deus, de que fala Ruysbroeck   e onde a alma é, se se pode assim dizer, tangente ao Absoluto divino, é o «Olho do Coração» ou, como diz Platão (República   VII 519b), o «Olho do Nous», o órgão feito para ver Deus. Nos Efésios I,18, São Paulo escreve: «... illuminatos oculos cordis vestri...»; no sufismo, o Olho do Coração é Ayn al-Qalb, al-Qalb sendo o Coração, «tabernáculo do mistério divino no homem»; no Corpus hermeticum  , trata-se, em numerosos pontos, seja dos olhos do intelecto, seja dos olhos do coração. E a sexta Beatitude (Mt   5,8) não diz: Beati mundo corde, quoniam ipsi Deum videbunt? São Bernardo, nos Graus de Humildade (VI), escreve: «Logo é em derramando lágrimas, em tendo fome de justiça e em praticando as obras de misericórdia, que o Olho do Coração é purificado de todas as manchas que contraiu pela enfermidade, a ignorância e o desejo; e é no estado de sua pureza que a verdade lhe promete de se mostrar a ele: «Bem-aventurados são os pobres de coração, porque verão a Deus». Mas é ainda Mestre Eckhart   que, em seu sermão Qui audit me non confundatur, se exprime com mais força: «O Olho no qual vejo Deus é o mesmo que aquele no qual Deu me vê; meu Olho e o Olho de Deus são um só e mesmo Olho».

A expressão «Olho do Coração» é fatalmente ambígua posto que a realidade que designa é a Unidade de Deus, fonte de luz existencial, e do Intelecto agente, e que ela é assim reportável seja a Deus ele mesmo que se mira no espelho mental que lhe oferece a criatura, seja à criatura ela mesma enquanto é, pela face interna de sua mente, este espelho mesmo onde Deus se mira, e em se mirando, existencifica a alma mental. O Olho do Coração é o ponto de contato (e este ponto é tão imenso quanto Deus), que une a alma espiritual a Deus em razão da presença de Deus na alma e da unidade (mencionada por Ruysbroeck)da face interna da mente e de Deus.

A abertura do Olho do Coração produz simultaneamente dois efeitos aparentemente contraditórios. Por um lado, em razão de sua face interna voltada para Deus, a mente realiza sua Identidade Existencial com a Realidade Divina («tu é Ele, Ele é tu»); por outro lado, a criatura, em razão disto que ela é essencialmente, e que é radicalmente outra que o Existir divino que se revela a sua mente, permanece, na identidade existencial, distinta da Realidade Divina, e é a alteridade essencial (tu é Ele, Ele é tu, sem que haja fusão dos dois»); a mente realizando então, no instante do desvelamento, que a essência criatural à qual pertence não existe, jamais existiu e nem existirá jamais, precisamente porque esta essência é radicalmente distinta do Existir divino. E este duplo efeito do desvelamento é experimentado pela criatura, apesar de seu nada existencial, no horror sagrado ou na paz divina — esta Paz chamada em hebreu Shekinah e em árabe Sakina — segundo o desvelamento se produza em regime de rigor ou em regime de clemência. [L’ILLUMINATION DU COEUR]