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Epifânio / Epiphanius / Ἐπιφάνιος / Epiphanius of Salamis / Epifanio de Salamina / Epiphanius Constantiensis / Ἐπιφάνειος Κύπρου / Épiphane de Salamine / Épiphane de Chypre

  

Epifânio, Ἐπιφάνιος (c. 310-320 – 403)

Hipólito contabilizou, em sua refutação, trinta heresias gnósticas. Um século após, Epifânio (315?-403), menciona oitenta em sua obra, o “Panarion”. Esse nome é simbólico. Existiam oitenta concubinas no Cântico dos Cânticos, mas uma só Esposa - esposa (a Igreja) para quem vão os favores do Esposo - esposo (o Cristo): igualmente, para as oitenta falsas doutrinas se opõe na comparação de Epifânio uma só e única verdade.

As heresias gnósticas, diz Epifânio, são como serpentes; eis aí o que explica o título de sua obra: “panarion”, que em grego, significa a «caixa de remédios» que os médicos levam com eles. Os medicamentos que continha eram antídotos contra as mordidas das serpentes que eram os ensinamentos dos gnósticos.

Epifânio é um campeão da ironia e do sarcasmo, sua linguagem é afiada como o aço. Tudo procedido de estilística é bom quando lhe permite ridicularizar as teorias de seus adversários.

Estas são geralmente apresentadas como bobagens, loucuras, mentiras; pior, uma obra do demônio. Epifânio se atém às opiniões dos gnósticos, mas também e sobre tudo a seus costumes. O bispo de Salamina tinha o espírito de um etnólogo: o “Panarion” está repleto de relatórios sobre as práticas e os costumes dos gnósticos que Epifânio disse ter encontrados durante o curso de suas viagens no Egito. Havia até mesmo denunciado diversos grupelhos e obtido suas expulsões de várias cidades. Todo o arsenal polêmico de uma maioria religiosa contra uma minoria é mostrado por Epifânio que retoma as acusações tradicionais levadas pelos autores pagãos contra os primeiros cristãos: licenciosidade sexual e antropofagia por exemplo.

É permitido por em dúvida a autenticidade de seus ensinamentos que não são confirmados pelas fontes gnósticas. Só resta disso apenas que houve gnósticos licenciosos cujas motivações espirituais devem, sem dúvida alguma, ser objeto de um exame particular.

A tendência de Epifânio por atmosferas ambíguas é muito marcante. Introduzia em todas suas descrições exclamações de indignação horrorizada, se comprazendo em longos relatos onde deboche, violência e depravação eram habilmente misturadas. Epifânio é um escritor de escândalos, assediando sem parar comunidades que, no século IV, não constituíam mais uma ameaça real para a Igreja triunfante. No entanto, o interesse por seu livro é grande, pois cita numerosos extratos de escrituras gnósticas. [Excertos de Madeleine Scopello  , "Les gnostiques", trad. de Antonio Carneiro  ]