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Francisco Suárez

  

No Renascimento tem lugar uma renovação da Escolástica, cujo centro é a Espanha, e que significa já uma reação frente ao humanismo e os novos problemas da modernidade: o direito dos homens, o problema dos índios, o do Estado moderno, a Reforma, etc. Embora este grupo de teólogos e filósofos use os métodos expositivos tradicionais na Idade Média, embora recorra constantemente aos grandes mestres medievais, sobretudo a São Tomás, seria um erro considerá-lo como um simples prolongamento ou sobrevivência da Escolástica medieval em decadência; é na realidade um movimento intelectual pujante e fecundo, afetado de um modo decisivo pela circunstância renascentista. Um movimento, sobretudo, teológico, cujo resultado mais importante é a ingente contribuição espanhola aos trabalhos do Concílio de Trento; porém ademais, junto à elaboração de doutrinas penetrantes e originais sobre o direito e o Estado, uma sistematização precisa e aguda da metafísica, abordada tematicamente pela primeira vez desde Aristóteles. É esta a obra de Suárez.

Francisco Suárez, o genial jesuíta granadino (1548-1617), empreende em suas Disputationes metaphysicae a composição de um tratado estritamente filosófico, que recolha em suas numerosas e densas páginas todo o saber metafísico da Escolástica, com uma grande amplitude em relação às diversas escolas e uma posição pessoal ante as questões. Não se trata, pois, de um comentário, mas de um tratado original, se bem que fortemente vinculado à tradição e ao método dos pensadores medievais. Esta excessiva fidelidade a modos externos inadequados ao tempo, talvez haja sido, em parte, a causa de que o pensamento filosófico de Suárez não tivesse toda a fecundidade que correspondia a suas qualidades intrínsecas.

De todo modo, a influência de Suarez   foi real e efetiva, e ainda muito maior do que se poderia pensar ao considerar superficialmente as coisas. As Disputationes foram utilizadas como texto filosófico nas Universidades europeias até o século XVIII, e a influência de seu autor penetrou eficazmente no próprio seio da filosofia moderna, que deste modo recebeu e aproveitou a síntese mais depurada e perspicaz da Escolástica.

Ante o tema do homem, o pensamento de Suárez, como o dos demais escolásticos posteriores a São Tomás, não se enfrenta diretamente com o objeto mesmo, mas se refere com preferência à questão da alma, seguindo no essencial a posição tomista. Onde aborda o problema com maior originalidade e interesse é nas distinções em torno à pessoa. A especulação de Suárez, tornada aguda pelo esforço teológico que supõe a interpretação da Trindade, detém-se acertadamente na questão da pessoa criada, e precisa uma série de relações do maior interesse. Tomei, por isto, do extenso corpo doutrinal das Disputationes, os fragmentos mais importantes acerca deste ponto.

Sobre Suárez pode-se consultar: R. de Scoraville: François Suarez (1911); L. Mahleu: François Suarez, sa Philosofia et les rapports q’elle a avec la théologie (1921); R. E. Conze: Der Begriff des Metaphysik bei Franz Suarez (1929); J. Zaragueta: La filosofía de Suárez y el pensamiento actual (1941). Também a Historia de la Filosofía española en el siglo XVI, de Marcial Solana. [Marías]

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