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Defensor de Ligugé / Liber Scintillarum / Le livre d’étincelles / Livro das Centelhas

  

Defensor de Ligugé (c. 700)

O Livro das Centelhas é um recolho de pensamentos ou sentenças extraídas da Bíblia e das obras do Padres da Igreja. Conhecida todas as compilações, esta não parece, de pronto, apresentar muito interesse, não oferecendo, posto que se trata de um florilégio, nenhuma ideia original, mas somente textos emprestados. Todavia, ao examinar este livreto de perto, se percebe rapidamente que merece atenção, fato que sua idade e sua história nos garantem.

Sua idade? Foi escrito por volta de 700, considerando que a morte de Isidore de Sevilha, o mais recente dos autores citados, foi pouco antes, e que 760 é a data da mais antiga cópia que se tem do livro.

Sua história? Uma investigação, que circunstâncias excepcionais permitiram levar adiante além das exigências científicas, revelou que este livro foi copiado e recopiado frequentemente do século VIII ao século XVI e pode-se garantir que não há quase nenhuma biblioteca da Idade Media que não tenha conservado um exemplar. De todas as cópias manuscritas, restam atualmente mais de 350 e só no século XVI apareceram onze edições do livro.

Livro espiritual. De fato, o Livro das Centelhas é interessante por mais de uma razão. Em primeiro lugar é um livro espiritual, tanto pelos textos que apresenta, que são palavras de Deus ou comentários autorizados destas palavras. Recolhendo de duas fontes igualmente autênticas da Revelação Cristã que são a escritura e a Tradição, o Livro das Centelhas oferece ao cristão uma escolha de textos e de temas, cuja meditação é um alimento sólido e são para seu espírito e para seu coração. Aqui encontrar-se-á a força e a luz necessárias ao desenvolvimento da fé, ao progresso da caridade, à conduta firme do combate espiritual, a aquisição progressiva e difícil da paz interior, que é um fruto do Espírito.

Espiritual, o Livro das Centelhas o é, ainda, porque nasceu de experiências espirituais pessoais. Isso que dá a este pequeno livo um valor de testemunho íntimo, merece que se destaque. O Livro das Centelhas esclarece um momento e um aspecto da lectio divina, tal qual foi praticado por um monge aquitano do século VII. Ele lia a Escritura e os Padres, buscando um alimento para sua alma e um guia sobre o caminho que o conduzisse a Deus; e quando uma frase o tocava, penetrando até as profundezas de seu coração, aí suscitando um ardor novo, uma lucidez mais exigente sobre ele mesmo, uma inteligência mais clara das vias espirituais, então, «com a avidez de um colecionador de pérolas», ela a anotava. Assim o encontro do Verbo e do Espírito, na alma de um monge desconhecido, fez brotar estas «Centelhas». Este poder que ela tiveram de despertar nele o homem espiritual, as «Centelhas» o possuem ainda, mas como um tesouro encoberto que é preciso procurar para o descobrir.

Um livro espiritual não poderia ser uma leitura fácil. Para encontrar o sentido espiritual das «Centelhas», para comungar ao fervor que elas fazem nascer na alma do antigo compilador, é preciso consentir ao silêncio interior e fazer o esforço de atenção religiosa, que são as condições indispensáveis destes momentos, tão breves quanto privilegiados, onde o homem reencontra seu Deus. O Livro das Centelhas é um livro espiritual mas não é como tal senão para o homem acolhedor ao Espírito. Se foi tantas vezes, tão tempo, lido, copiado e meditado ao longo do tempo os mosteiros, é que porta nele o sabor próprio das obras nascidas no recolhimento, e que, de todo tempo, encontrou Almas bastante sábias para dele saborear as austeras delícias. [Excertos da apresentação da versão francesa da "Sources chrétiennes", «Le livre d’étincelles, tome 1» Liber Scintillarum]