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Noé / Noah

  

Paul Nothomb

Enoque é o único exemplo de "retorno sucedido" que contém a Bíblia das Origens. Mesmo Noé, do qual ela nos diz no entanto que também "andava com os deuses", e a quem seus méritos — relativos, no seio de sua geração inteiramente corrompida — valerão ser poupado pelo Dilúvio, aí não chegou jamais. Ao contrário, permanecerá mergulhado até o pescoço na “adama”...

Noé é o filho de Lemek, que saudou seu nascimento o chamando (QR’) de seu nome derivado da raiz NWH (se repousar), e em predizendo que “ele os consolaria (da raiz NHM) dos sofrimentos que lhes infligia o trabalho de suas mãos, mais que não o fazia a “adama” que YHWH tinha amaldiçoado”(5,29). Frase equívoca onde Noé rivaliza com a “adama”, seja como consolador de seus contemporâneos (para quem a “adama” devia aparecer então como “consoladora”), seja para os consolar dos sofrimentos que ela lhes infligia (se se traduz a preposição “min” não por “mais que “ como venho de fazer, mas por “fora de” ou “proveniente de”, o que é sintaticamente possível). Depois do Dilúvio, Noé será qualificado ‘Y(SH) H’DMH (pronunciado “ish haadama”) quer dizer “alguém de adama” (9,20).

Desde antes do Dilúvio todavia, é dito dele como Enoque que “andava com os deuses” (“haelohim”) (6,9). [Túnicas de Cego]

Pierre Gordon

O segundo grande conjunto litúrgico da antiguidade (o primeiro seria o ritual edênico), denominamos ritual diluviano, é igualmente comemorativo e iniciático. Ele se propõe, com efeito, relembrar por um lado a ruína da teocracia pastoral do paleolítico depois de sua corrosão pelo matriarcado (vide Grande Mãe), por outro lado o iniciatismo, depois do período catastrófico que dele marcou o desaparecimento quase total: jamais, em qualquer outro período da evolução religiosa, o nível espiritual da humanidade esteve tão baixo quanto durante o período dito diluvial. O reformador e restaurador que o Gênesis denominou Noé tirou nossa espécie de um verdadeiro pântano. Ele constituiu a teocracia sobre novas bases. Foi ele o inaugurador da Idade de Prata. As tradições caldaicas o chamam Uta-napishtim (em sumério Zi-ud-sud-du, nome reduzido em Zi-sud-da, em seguida deformado em Sisouthros ou Xisouthros, décimo rei da dinastia antediluviana segundo Bérose). As tradições iranianas o identificaram com o primeiro ancestral, Yima; se reconhecia igualmente em Ahura Mazda. Na Índia, se encontra sob o nome de Manu, e não é raro que se confunda com Yama, o primeiro homem, em virtude de uma tendência geral a assimilar a recriação pós-diluvial à criação primeira ou criação edênica (v. Gen 2): é em virtude desta mesma tendência que o lugar onde se instalou o renovador da teocracia foi identificado, em muitos povos, com o paraíso terrestre; mesmo na Bíblia, uma preciosa perícope, cujo único erro estar em seu lugar no capítulo II do Gênesis, proclama esta identificação. — Na Grécia, o fundador do Olimpo, Zeus, é manifestamente a grande personalidade da Idade de Prata e o remanejador da teocracia, depois do período problemático que tinha determinado a castração de Uranos: esta castração, operada por instigação de Gaia, a Mãe Divina, — dito de outro modo sob a influência das mulheres cultivadoras — transcreve um cenário litúrgico local, que comemorava, como todos os outros, fatos históricos de primeira importância. [A IMAGEM DO MUNDO NA ANTIGUIDADE]

Roberto Pla

Tal é o significado oculto do relato genesíaco da embriaguez de Noé, de quem depois de ter bebido o vinho, se diz que “ficou nu (descoberto) no meio de sua tenda”, como o que seu filho Cam, “viu a desnudez (vergonhosa) de seu pai”. Por último, se diz que Sem e Jafé puseram uma capa sobre seus ombros, e assim “cobriram a desnudez (as vergonhas) de seu pai”, sem vê-las.

  • No tocante ao sentido da embriaguez de Noé ao beber o vinho daquela vinha da qual o Pai é o vinhador (Jo 15,1), já se ensaiou uma primeira explicação no comentário do article 9942.

Não resulta demasiado difícil entender que nesta insólita passagem se relata a teofania de Noé, que depois de se ter “embriagado” com o vinho do conhecimento que advém da vinha de Deus, revelou, ou melhor, “des-cobriu” “em meio de si mesmo” (de sua tenda), ao Cristo eterno, oculto, preexistente e único dotado de Vida inacabável, que se manifesta como Eu Sou. A desnudez (as vergonhas) de Noé, foi logo coberta pelos filhos, mas estes mantiveram “seus rostos virados”, porque nas bodas sagradas do homem com Deus, deve se manter o sobreposto, o agregado, a distância, enquanto “o que é” se faz nuvem gloriosa. (article 9955)