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Ivánka / Plato Christianus

  

Endre von Ivánka (1902-1974)

Ver no cristianismo um «platonismo   para o povo» (Nietzsche  ), é falar de maneira popular. Dizer «Platão para dispôr ao cristianismo» (Pascal  ), é ficar nas preliminares.

É um outro quadro rico de nuances que revela um estudo minucioso do pensamento cristão durante quinze séculos, dos Padres da Igreja (Orígenes  , Gregório de Nissa, Agostinho, Dionísio, Máximo) à Idade Média, no ocidente como em Bizâncio (Palamas).

A mensagem cristã em seu desenvolvimento se encontrou face a um platonismo ele mesmo em evolução, de Platão ao Médio Platonismo, em seguida ao Neoplatonismo  , de Plotino a Proclo   e além. E não é ao mesmo platonismo que se dirigem os pensadores cristãos: se Dionísio dialoga com Proclo, os cartuxos, bem depois, encontram o pensamento mais antigo de Apuleio   e de Calcídio.

Em todos os casos, o platonismo não é jamais um modelo e uma inspiração sem ser também um perigo a enfrentar. Os pensadores cristãos não aclimatarão jamais motivos platônicos sem proceder à radical reinterpretação deles. A miragem de uma helenização do cristianismo, cede assim à restituição do trabalho crítico pelo qual os Padres produziram vários conceitos fundamentais do pensamento ocidental.


Nesta abordagem de latinização do cristianismo, convém ter em mente as palavras de Heidegger  , ao abordar o "cristianismo platônico":

O processo de tradução do grego para o "romano" não é algo trivial e inofensivo. Assinala ao invés a primeira etapa no processo, que deteve e alienou a Essencialização originária da filosofia grega. A tradução latina se tornou então normativa para o Cristianismo e a Idade Média Cristã. Daqui se transferiu para a filosofia moderna, que, movendo-se dentro do mundo de conceitos da Idade Média, criou as ideias e termos correntes, com que ainda hoje se entende o princípio da filosofia ocidental. Tal princípio vale como algo, que os homens de hoje pretendem já ter de há muito superado. (Introdução à Metafísica, 1999, p. 44)