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Jacques Bossuet

  

Jacques-Bénigne Lignel Bossuet (1627-1704)

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O cartesianismo exerce na França uma profunda influência durante todo o século XVII; e ao dominar a circunstância filosófica do momento, penetra no pensamento católico enquanto tal, inclusive no dos teólogos mesmos, e determina o aparecimento de uma corrente intelectual, especialmente fecunda, que irá caracterizar a mentalidade francesa da época e que condicionará o destino ulterior da filosofia na França. Em outros países, o pensamento teológico e ainda o dos filósofos adstritos rigorosamente à ortodoxia mantém-se apegado às formas escolásticas; assim, como já vimos, acontece entre os espanhóis, sobretudo em Suárez; por outro lado, o pensamento moderno transcorre por caminhos diferentes, assinalados pela filosofia e pela física do Renascimento, e com frequência esquece toda a longa tradição escolástica. Os pensadores religiosos franceses, inseridos nesta tradição, articulada em dois pontos capitais — Santo Agostinho   e São Tomás —, incorporam a ela o mais vivo da filosofia cartesiana, especialmente em suas exigências metódicas. Desta síntese surge um modo peculiar de pensamento, que se apoia fortemente no agostinismo, conserva a arquitetura geral da teologia tomista e, ao mesmo tempo, procede de acordo com os princípios cartesianos e mobiliza-se intelectualmente em função das principais descobertas de Descartes  . Deste modo, concilia-se toda a continuidade do pensamento antigo e medieval com as exigências da filosofia moderna, e isto permitiu ao pensamento católico francês manter uma vitalidade que, em outros lugares, muito depressa perdeu. E também por isso, no momento de renovar, no século XIX, a tradição metafísica em sua integridade, foi necessário apelar expressamente aos pensadores deste grupo, como mostra, sobretudo, o exemplo do Padre Gratry.

Uma das figuras capitais dessa tendência é Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704), bispo de Meaux, grande personagem de seu tempo, alma da Igreja da França durante meio século. É conhecida sua extraordinária atividade religiosa teológica e eclesiástica, e sua contribuição à filosofia, sobretudo com seu Discours sur l’histoire universelle, perspicaz tentativa de uma filosofia da história, e seu tratado De la connaissance de Dieu et de soi-même, em que se formula — agostinianamente — o duplo problema de Deus e do homem, recolhendo as linhas gerais da antropologia e ainda da fisiologia cartesiana. Como se pode ver nos trechos selecionados que seguem, Bossuet se defronta, a partir de pressupostos teológicos, com o dualismo cartesiano e com o problema da comunicação das substâncias, e esta encruzilhada de duas tendências é sumamente eficaz para verter luz sobre ambas e sobre sua possível conexão. (Julián Marías   - O Tema do Homem)

Na Internet: Obras em francês e traduzidas em inglês


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