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epoche / ἐποχή / epoché
gr. ἐποχή, epoche, epokhe
A "epokhe" como Tempo Messiânico
Todos os profetas — sem exceção — fizeram profecias somente dentro do tempo messiânico (epokhe). Quanto ao tempo futuro, que olho o viu exceto o Seu, Senhor, que agirá em nome daquele que for fiel e que continua a esperar. Maurice Blanchot
A "epokhe" fenomenológica, cujo pioneiro foi Husserl , transformou-se na fenomenologia da religião praticada em Eranos. A primeira intervenção transformadora da epokhe chegou pelas mãos do aluno de Husserl, Heidegger . Também muito influenciado por Heidegger e que logo influenciaria substancialmente Eliade , Gerardus van der Leeuw fez com que a epokhe fosse central à "fenomenologia da religião" e assim estabeleceu-se com proeminência no papel de presidir as sessões dos primeiros encontros de Eranos. Em contraste, Corbin comprometeu-se fervorosamente com a verdade absoluta profética e teofanicamente revelada como "fenômeno ". Tal verdade, ao cabo de sua vida, foi revelada com a realidade mística da Ordem do Templo :
A tarefa do fenomenologista agora é descobrir uma contra-história ‘mais verdadeira do que a história’ na evidência de uma parte posterior à tradição templária — evidência essa que confirme a sobrevivência secreta da Ordem dos Templários até o seu ressurgimento.
Os historiadores das Religiões, no final, na fase pós-guerra de seu desenvolvimento teórico, recapitularam um momento minimessiânico. O parênteses fenomenológico (epokhe) se comparava (supostamente temporária) livre de normas, cuja liberação eles usaram para pontuar o final dos tempos. O fenomenologista neste sentido aparecia como um precursor vivo da condição futura, da condição ‘redimida’, na qual as características de simpatia humana ficam em suspenso. O fenomenologista assim operava uma espécie de espaço paradisíaco tornado possível pela ‘Natureza Perfeita ’, presumivelmente agora à disposição . [Excertos da tradução em português de Dimas David Santos Silva, do livro de Steven Wasserstrom , "Religion after Religion"]
Matérias
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Husserl (IFP1:203-205) – Vivido no noético e no noema
13 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
HUSSERL, Edmund. Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica: introdução geral à fenomenologia pura. Tr. Márcio Suzuki. Aparecida: Ideias & Letras, 2006, p. 203-205
Graças a seus momentos noéticos, todo vivido intencional é justamente vivido noético; é da essência dele guardar em si algo como um “sentido” e, eventualmente, um sentido múltiplo, é de sua essência efetuar, com base nessas doações de sentido e junto com elas, outras operações que se tornam (...)
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Husserl (CCEFT:141-143) – A priori lógico e a priori do mundo da vida
13 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
Die Krisis der europäischen Wissenschaften und die transzendentale Phänomenologie, Husserliana, VI, La Haye, M. Nijhoff, 1954, pp. 141-143
[HUSSERL, Edmund. A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental: uma introdução à filosofia fenomenológica. Tr. Diogo Falcão Ferrer. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012, p. 112-114]
Se o nosso interesse exclusivo se dirige para o “mundo da vida”, temos de perguntar: está, então, o mundo da vida, como tema científico (...)
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Marx (IA) – teoria materialista do conhecimento e formação da ideologia
14 de novembro de 2021, por Cardoso de Castro
MARX, Karl & Engels, Friedrich. A Ideologia Alemã. Tr. Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2007 (ebook)
português
Os pressupostos de que partimos não são pressupostos arbitrários, dogmas, mas pressupostos reais, de que só se pode abstrair na imaginação. São os indivíduos reais, sua ação e suas condições materiais de vida, tanto aquelas por eles já encontradas como as produzidas por sua própria ação. Esses pressupostos são, portanto, constatáveis por via puramente empírica.
O (...)
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Brun (Platão) – A antiga e a nova Academia
24 de março de 2022, por Cardoso de Castro
Excertos de Jean Brun, "Platão"
A escola que Platão fundou nos jardins de Academo, perto de Atenas, constitui o primeiro instituto verdadeiramente organizado para acolher alunos. Biblioteca, sala de aulas, quartos, etc, conferem aos estudos filosóficos uma nova perspectiva. A escola trabalha segundo programas preestabelecidos e de todo o lado se acorre para assistir às aulas. Muitos alunos saídos da Academia irão espalhar, um pouco por toda a bacia mediterrânica, as ideias de Platão, e (...)
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Henry (GP:57-59) – "Ao menos, parece-me que eu vejo"
13 de setembro de 2021, por Cardoso de Castro
Excerto de HENRY, Michel. Genealogia da psicanálise. O começo perdido. Tr. Rodrigo Vieira Marques. Curitiba: Editora UFPR, 2009, p. 57-59.
O cogito encontra a sua formulação última na proposição videre videor: parece-me que eu vejo. Lembremo-nos brevemente do contexto em que se inscreve essa asserção decisiva. Tanto na Segunda Meditação como nos Princípios (I, 9), Descartes acaba de praticar a epoché radical, em sua linguagem, duvidou de tudo, desta terra na qual põe os pés e anda, de (...)
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Maurizio Ferraris (MNR:4-5) – o ironizar pós-moderno
15 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
Excerto de FERRARIS, Maurizio. Manifesto of New Realism. New York: SUNY, 2014, p. 4-5.
português
Pós-modernismo marca a entrada de aspas em filosofia: a realidade se torna "realidade", verdade "verdade", objetividade "objetividade", justiça "justiça", gênero "gênero" e assim por diante. Na base dessa nova citação do mundo, estava a tese segundo a qual as “grandes narrativas” (rigorosamente entre aspas) da modernidade ou, pior ainda, o objetivismo antigo foram a causa do pior tipo de (...)
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Fragata: Resumo do pensamento fenomenológico de Husserl
11 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
Apresentamos aqui um resumo geral, quase esquemático, dos traços fundamentais do pensamento filosófico de Husserl. O motivo que nos levou a esta elaboração foi o fato de termos verificado que, mesmo atualmente, é raro encontrar-se, nos compêndios de História da Filosofia, uma exposição que tenha suficientemente em conta os recentes estudos sobre Husserl à luz da publicação das suas obras completas, muitas delas póstumas, iniciada pelos «Arquivos de Husserl em Lovaina», a partir de 1950. (...)
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VAN DER LEEUW: Fenômeno e Fenomenologia
25 de fevereiro de 2020, por Cardoso de Castro
VAN DER LEEUW, G. Religion in Essence and Manifestation. Volume Two. Translated by J. E. Turner with Appendices to the Torchbook edition incorporating the additions of the second German edition by Hans H. Fenner. New York: Hapre & Row, 1963, p. 683-689
Original
1. PHENOMENOLOGY is the systematic discussion of what appears. Religion, however, is an ultimate experience that evades our observation, a revelation which in its very essence is, and remains, concealed. But how shall I (...)
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Sextus Empiricus – modos de suspensão do juízo (epoche)
15 de novembro de 2021, por Cardoso de Castro
Sextus Empiricus, Obras Escolhidas de Sextus Empiricus, trad. franc. de Geneviève Goron, pp. 190-191.
português (parcial)
Os novos céticos transmitiram estes cinco modos da suspensão do juízo [epoche]. [...] O primeiro diz respeito ao desacordo: verificamos que, quanto a uma proposição que nos põem sob os olhos, há na vida e nos filósofos um desacordo que se não pode evitar; e, por consequência, não sendo possível preferir ou contestar, chegamos à suspensão do juízo. O segundo é a (...)
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Roudaki : Fragments de son oeuvre
12 de outubro de 2007, por Cardoso de Castro
Extrait de « Anthologie persane (XIe-XIXe siècles)», par Henri Massé. Payot, 1950
Vanité de ce bas monde.
Ils ont péri, tous les puissants de ce bas monde ; tous, ils ont enfoncé leur tête dans la mort. Tous, ils s’en sont allés sous terre, ces puissants qui avaient élevé tous ces grands édifices ; et de ces milliers de biens et de jouissances, ils n’ont rien emporté qu’un linceul, à la fin. Les habits qu’ils ont mis, et ce qu’ils ont mangé, tout ce qu’ils ont reçu n’était qu’une (...)
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Husserl (CCEFT:65-66) – Os limites da redução cartesiana
13 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
[HUSSERL, Edmund. A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental: uma introdução à filosofia fenomenológica. Tr. Diogo Falcão Ferrer. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012, p. 65-66]
As Meditações atuaram em Descartes e continuam historicamente até hoje a atuar sob a forma nociva de uma substituição do ego pelo próprio eu mental, da imanência egológica pela imanência psicológica, da autopercepção egológica pela evidência do “interior” psíquico ou “autopercepção”. (...)
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Henry (GP:59-61) – O que é ver?
13 de setembro de 2021, por Cardoso de Castro
Excerto de HENRY, Michel. Genealogia da psicanálise. O começo perdido. Tr. Rodrigo Vieira Marques. Curitiba: Editora UFPR, 2009, p. 59-61.
O que é ver? O olho humano, tornado cego pela redução, colocado entre parêntesis, e reconhecido incapaz de cumprir a visão, converteu essa visão em sua natureza, no puro fato de ver, o qual pressupõe um horizonte de visibilidade, uma luz transcendental que Descartes “denomina” luz natural. A coisas e, notadamente, as essências matemáticas, podem ser (...)
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Creusa Capalbo: A fenomenologia como método e como filosofia
6 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
CAPALBO, Creusa. Fenomenologia & Ciências Humanas. Âmbito Cultural Edições, 1987
3.1 A Noção de Filosofia Primeira
O problema diante do qual se colocou Husserl, desde as suas primeiras obras, foi o seguinte: o que resta quando eu realizo a dúvida universal no sentido Cartesiano?
Para Descartes nós sabemos qual é a resposta: é o EGO COGITO, o EU pensante.
Para Husserl o que permanece no íntimo deste COGITO são as ATIVIDADES do EU pensante. Essa vida do EU pensante se traduz em (...)
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Husserl (MC:71-73) – Reflexão natural e reflexão transcendental
13 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
HUSSERL, Edmund. Meditações cartesianas e Conferências de Paris. Ed. Stephan Strasser. Tr. Pedro M. S. Alves. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 71-73
Para uma clarificação mais avançada, deve ser acrescentado que deveremos distinguir entre, de um lado, a captação perceptiva, o recordar-se, o predicar, o valorar, a posição de fins etc., diretamente consumados, e, do outro, as reflexões por meio das quais, enquanto atos de captação de um novo nível, os atos diretos por vez primeira para (...)
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Creusa Capalbo: principais conceitos da fenomenologia de Husserl
6 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
CAPALBO, Creusa. Fenomenologia & Ciências Humanas. Âmbito Cultural Edições, 1987
1.1 Introdução
A primeira obra que Husserl publicou em 1891 foi a Filosofia da Aritmética, onde ele analisa o conceito de número, o método usado pela matemática e o caráter lógico de seus conceitos e de seus princípios.
Já nesta obra Husserl assinala a diferença existente entre o conceito de número e o processo de enumeração, referentes respectivamente ao seu aspecto lógico e ao seu aspecto (...)
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Beneval de Oliveira: O Movimento Fenomenológico
6 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
Resenha da obra de Ernildo Stein: ‘A questão do método na Filosofia. Um estudo do modelo Heideggeriano’
Stein salienta que o fator determinante em Heidegger é o encontro com a fenomenologia.
Abandonado o esquema onto-teológico Heidegger com a redescoberta da fenomenologia desencadeou os novos recursos que conduziram às regiões distantes de um pensamento que se afirmou confrontante com toda a tradição filosófica ocidental.
Não há dúvida de que Heidegger ficou impressionado com as (...)
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Lyotard - O transcendental em Husserl
23 de março de 2022
Excertos da tradução em português feita por Mary Amazonas Leite de Barros, do livro de Lyotard, "A Fenomenologia".
Excertos da tradução em português feita por Mary Amazonas Leite de Barros, do livro de Lyotard, "A Fenomenologia".
IV — A problemática do sujeito.
A fenomenologia tomava pois o sentido de uma propedêutica às "ciências do espírito". Mas, a partir do segundo tomo das Investigações Lógicas esboça-se um salto que nos vai fazer entrar na filosofia propriamente dita. A (...)
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Raniero Gnoli: Il Commento di Abhinavagupta alla Parātrimśikā
22 de abril de 2018
Il Paratrimśikāvivaranam è un commento ad un piccolo tantra, composto, nello stato in cui c’è giunto, da trentacinque stanze, chiamato Parātrimśikā (la «Trentina della Suprema» o la «Trentina Suprema » o Parātrīśikā, La Suprema Signora dei tre o delle tre). Questo ultimo nome è probabilmente una creazione di Abhinavagupta, determinata dal fatto che egli pensava come a trentacinque stanze mal si addicesse il nome di trentina. L’operetta, secondo che avviene in moltissimi tantra, si presenta (...)
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Caeiro (Arete:104-105) – retórica
3 de fevereiro de 2022, por Cardoso de Castro
CAEIRO, António de Castro. A arete como possibilidade extrema do humano. Fenomenologia da práxis em Platão e Aristóteles. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2002, p. 104-105
A tematização das situações humanas levadas a cabo pela reprodução imitadora (μίμησις [mimesis]) faz, por conseguinte, abstração, ou seja, exerce uma epoché (ἐποχή [epoche]) sobre o sentido da excelência (ἀρετή [arete]) e da perversão (κακία [kakia]), ou então, reduz estes sentidos respectivamente ao prazer e (...)
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Giuseppe Lumia: a filosofia da existência - Husserl
5 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
LUMIA. (Giuseppe) O EXISTENCIALISMO PERANTE O DIREITO, A SOCIEDADE E O ESTADO. Tradução de Adriano Jardim e Miguel Caeiro. Colecção « Doutrina ». N.º 3. Livraria Morais Editora. Lisboa. 1964. O existencialismo floresceu contemporaneamente, entre as duas guerras, na Alemanha e na França. São, de fato, do mesmo ano, 1927, o Sein und Zeit de Heidegger e o Journal métaphisique de Marcel. Todavia, os seus motivos mais profundos fermentavam havia já tempo, embora fosse necessário esperar a (...)