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gr. γραφή, graphe, γράφω, grapho, graphai = escrituras. Obras escritas oferecem a cada leitor o mesmo texto, não podem, elas próprias, explicar seu sentido e são indefesas contra mal-entendidos. Não podem escolher seus leitores e, por isso, alcançam destinatários apropriados e inapropriados (Fedro   275d-e).


Quanto às Escrituras sagradas, é muito certo que não se pode ver contradição entre elas senão na medida que não se as compreende. René Guénon
O grande Mestre Zen Kuei-shan perguntou ao seu aluno Yang-shan (que viria a se tornar um mestre igualmente grande), — Nos quarenta volumes do Sutra do Nirvana, quantas palavras vêm do Buda e quantas palavras vêm dos demônios?

Respondeu Yang-shan, — Todas elas são palavras dos demônios.

Disse-lhe então Kuei-shan, — Daqui por diante, ninguém mais conseguirá te passar a perna.


Northrop Frye

A mensagem de Deus aos homens, registrada pela escrita, é uma marca das chamadas “Religiões do Livro” (judaísmo, cristianismo, islamismo). Outras tradições têm suas escrituras de natureza revelada, relatando sua “história sagrada”, seus hinos de louvor, seus rituais, e até mesmo a direção espiritual e moral a ser seguida. No entanto, nas Religiões do Livro o que se denomina “Escrituras Sagradas” tem uma presença inigualável, que dou ênfase no que se reúne a seguir.

No tocante às escrituras ocidentais, como esclarece magistralmente o crítico literário Northrop Frye: "Em regra geral, um livro sagrado é escrito com uma concentração que é, pelo menos, aquela da poesia, de tal sorte que, como a poesia, depende estreitamente de sua língua. Por exemplo, o Corão   e os caracteres particulares da língua árabe são de tal modo entrelaçados que na prática o árabe deve penetrar por toda parte onde tenha penetrado a religião islâmica. Os comentários e a erudição judaicas, de tendência talmúdica ou cabalista, sempre se ocuparam, inevitavelmente, dos traços puramente linguísticos do texto hebreu do Antigo Testamento  . Ao contrário, enquanto a erudição cristã é evidentemente também consciente da importância da língua, o cristianismo, enquanto religião, foi desde o início tributário de traduções".

Heinrich Zimmer

Os livros sagrados ortodoxos (sastra) da Índia são classificados em quatro categorias: 1. Sruti ("o que é ouvido"), os Veda   e certas Upanixades  , considerados como revelação direta: 2. Smrti ("o que é recordado"), os ensinamentos dos santos e sábios antigos, e também os livros jurídicos (dharmasûtra), e as obras que tratam das cerimônias domésticas e de sacrifícios menores (grhvasûtra); 3. Purâna ("antigo, saber antigo"), compendiosas antologias, de caráter comparável ao da Bíblia, contendo mitos cosmogônicos, antigas legendas, saber teológico, astronômico e natural; 4. Tantra ("tear, urdidura, sistema, ritual, doutrina"), um corpo de textos comparativamente recentes, tidos como revelados diretamente por Shiva para ser a escritura específica do Kali-yuga, a quarta idade do mundo ou a época presente. Os Tantra são chamados "o quinto Veda" e seus rituais e conceitos suplantaram, de fato, o já então arcaico sistema védico de sacrifícios tornando-se a nova urdidura sustentadora da vida indiana. [Excertos de "Filosofias da Índia" (Ed. Palas Athena)]

Aldous Huxley

Nas Índias são reconhecidas duas classes de escrituras: a Shruti, ou obras inspiradas que possuem sua própria autoridade, uma vez que são o produto de uma percepção imediata da Realidade Última, e a Smriti, baseada sobre a Shruti, de onde deriva sua autoridade. "A Shruti", nas palavras de Shankara  , "depende da percepção direta". A Smriti desempenha uma parte análoga à indução, uma vez que, como a indução, deriva sua autoridade de outra diferente de si mesma. Este livro é, portanto, uma antologia, com comentários explanatórios de passagens retiradas da Shruti e da Smriti de muitos locais e épocas. Infelizmente, a familiaridade com as escrituras tradicionalmente consideradas sagradas tende a gerar, não decerto um desdém, mas alguma coisa que, para objetivos práticos, é quase igualmente maléfica — ou seja, uma espécie de reverente insensibilidade, um estupor do espírito, uma surdez interna ao significado das palavras sagradas. [Filosofia Perene]

Daryush Shayegan

A expressão corânica de Ahl al-Kitab, literalmente «Gente do Livro», designa uma comunidade religiosa que a princípio possui um Livro santo e pratica constantemente a leitura em vários níveis; uma comunidade cuja existência e a motivação religiosa condicionando seu comportamento, procede deste Livro, porque sua religião é fundada sobre um Livro descido do Céu, um Livro que foi revelado a um profeta missionado por Deus. Assim se alinham ao lados dos muçulmanos, outras comunidades que também possuem um Livro: como os judeus, os cristãos. No Irã os zoroastrianos, em razão de seu Livro sagrado a Avesta, têm igualmente beneficiado deste raro privilégio.

A partir do momento que este Livro santo regra a priori sua maneira de ser no mundo e condiciona seu saber assim como sua visão do mundo, a tarefa primeira que incumbe à «Gente do Livro» é aquela da compreensão. Como compreender, sem se iludir, o fundo de um Livro revelado ao profeta em uma linguagem hermética e codificada?. [HENRY CORBIN  ]

Notions philosophiques

SUTRA (aphorisme ; texte doctrinal)

Sk., subs. nt.

Littéralement « Fil ». De la racine verbale SIV-, coudre, apparentée au latin suere et à l’anglais sew.

Ce terme de significations multiples a dans la langue du bouddhisme un sens bien précis : il désigne tout texte doctrinal faisant autorité, promulgué ou censé promulgué par le Buddha, et reconnu comme canonique. [2913] Il sert aussi parfois, comme dans la littérature brahmanique, à désigner les strophes ou les aphorismes en prose qui constituent un traité (sastra) destiné à être appris par cœur et commenté ; mais dans le cas d’un traité versifié, de beaucoup le plus fréquent, on préfère à l’appellation de sutra celle de karika (« vers didactique », « strophe didactique »). (J. May.) [NP  ]

Brisson

Em seu sentido primeiro, epigramma significa "inscrição". É a razão pela qual muitos epigramas se encontraram sobre túmulos. Mas como estas curtas séries de versos inscritos eram mais fáceis de guardar em memória que um texto em prosa, o termo veio, a partir do final do século IV aC designar um gênero literário se apresentando como um curto poema em honra de uma pessoa morta ou amada, ou tratando de um evento notável. A voga deste gênero explica provavelmente porque se atribuiu a Platão  , que, segundo a tradição dada por Diógenes Laércio, teria sido um autor literário, vários epigramas que podemos pensar não ser dele. (Brisson  , PLATON, OEUVRES COMPLÈTES)

René Guénon

É preciso também notar que o "Livro do Mundo" é, ao mesmo tempo, a "Mensagem Divina" (Er-Risâlatul-ilâhiyah), arquétipo de todos os livros sagrados; as escrituras sagradas nada mais são que sua tradução em linguagem humana. Isso é afirmado de forma expressa com relação ao Veda e ao Alcorão; a ideia do "Eterno Evangelho" mostra também que a mesma concepção não era inteiramente estranha ao cristianismo ou que, pelo menos, nem sempre o foi.

Por ter certa relação com o que estamos tratando, lembraríamos também o simbolismo islâmico da "tábua guardada" (el-lawhul-mahfúz), protótipo "intemporal" das Escrituras sagradas que, a partir do mais alto dos céus, desce verticalmente atravessando todos os mundos.

O Pardes, representado simbolicamente como um "jardim", deve ser aqui considerado como a figuração do domínio do conhecimento superior e reservado: as quatro letras, P R D S, relacionadas aos quatro rios do Éden, designam então, respectivamente, os diferentes sentidos contidos nas Escrituras sagradas e aos quais correspondem igual número de graus de conhecimento. É evidente que aqueles que "devastaram o jardim" só haviam alcançado um grau em que ainda é possível extraviar-se.

Lembraríamos a propósito o que indicamos antes quanto à correspondência dos diferentes graus de conhecimento com os sentidos mais ou menos "interiores" das Escrituras sagradas; é evidente que se trata de uma coisa que nada tem em comum com o saber inteiramente exterior, que é tudo o que pode fornecer o estudo de uma língua profana, e até mesmo, acrescentaríamos, de uma língua sagrada por meio de processos profanos tais como os utilizados pelos linguistas modernos.


Se, para poder chamar-se iniciado, bastasse lendo livros, embora sejam as Escrituras sagradas de uma tradição ortodoxa, acompanhadas inclusive, caso se queira, de seus comentários mais profundamente esotéricos, ou pensando mais ou menos vagamente em alguma organização passada, ou presente, à qual alguém atribui complacentemente, e tão mais facilmente quanto pior conhecida seja, seu próprio «ideal» (esta palavra que se emprega em nossos dias para qualquer propósito, e que, significando tudo o que se quer, no fundo, não significa nada), seria verdadeiramente muito fácil;...

Frithjof Schuon

Há casos em que convém colocar a historicidade entre parênteses, já que nem sempre é possível, em suma, provar a não-historicidade de pessoas ou acontecimentos situados na noite de um passado inacessível. Além disso, é um preconceito irrealista levar em conta apenas os documentos escritos e desprezar as tradições orais, ou mesmo ignorar sua existência ou possibilidade. Quando tratamos dos antigos cultos historicamente mal fundamentados, mas solidamente enraizados e, portanto, eficazes, deve-se "não intervir" no Espírito Santo ou na barakah, como diriam os muçulmanos, e não ceder à tentação — muitas vezes, inspirada por um complexo de inferioridade — de querer pôr os pingos nos is. Deve-se ter o sentido da mensagem concreta dos fenômenos sagrados e confiança na força paraclética e carismática que anima o corpo da religião, já mencionada mais acima. Tudo isto é ainda mais plausível, porquanto o Céu gosta, ao lado de sua clareza, de certa indeterminação ou assimetria, como provam muitos elementos das religiões e, acima de tudo, as próprias Escrituras. [SchuonEPV]

Ananda Coomaraswamy

...os ritos metafísicos ou mistérios (que são uma imitação dos meios empregados pelo Pai para conseguir a Sua própria reintegração e cuja necessidade é ocasionada pela incontinência do ato da criação) são, da mesma maneira que as escrituras tradicionais análogas, destinadas a proporcionar ao indivíduo a instrução preparatória e os meios de operação intelectual; mas a "Grande Obra", que é conseguir reunir a essência com a Essência, tem de ser feita por ele mesmo dentro de si mesmo.

Vox populi vox Dei; não porque é a palavra do povo, e sim porque é a d’Ele, ou seja, a "palavra de Deus" que reconhecemos nas Escrituras, mas deixamos de perceber no conto de fadas que recebemos da nossa mãe e denominamos "superstição", o que de fato é no sentido básico da palavra, assim como na qualidade de "tradição" que "nos foi transmitida".

Quanto aos ornamentos, podemos dizer com Clemente de Alexandria  , que observa que o estilo das Escrituras é parabólico e assim tem sido desde a antiguidade e diz que "a profecia não emprega formas figurativas nas expressões simplesmente por amor à beleza de dicção" (Misc. VI. 15);... [AKCCivi  ]

Raimon Arola

León Hebreo fue un claro exponente del hermetismo que floreció en Europa durante el siglo XVI, cuando la tradición clásica y la cábala judía se unieron, a nuestro entender, definitivamente. Los cabalistas hebreos proponen los mismos niveles de lectura de la Escritura. E.H. resume sus explicaciones de la manera siguiente:

«Observemos que en hebreo la palabra Paraíso (PaRDeS) está compuesta por las primeras letras de las cuatro palabras que se refieren a los cuatro sentidos de la Escritura. 1-Pashat: el sentido sencillo; 2-Remez: la alusión (el signo); 3-Derash: la explicación; 4-Sod: el secreto. Y los cuatro juntos constituyen el Paraíso. No se trata de cuatro sentidos distintos, puestos que están todos vinculados al "secreto". Son como los peldaños que conducen a él. Incluso el primer sentido, el sentido sencillo, ya transmite le secreto. Hallar el Paraíso es leer la Escritura como debe ser leída. Aquel que lo consigue vuelve al Paraíso. Entrar en él equivale a poseer los Nombres de Dios, es haber revivificado el texto sagrado y haberlo penetrado. He aquí el Paraíso. No hay otro». [La mitología como filosofía secreta]