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spelaion / σπήλαιον / caverna
gr. σπήλαιον, spelaion = caverna. No livro VII da República, Platão narra uma história que se tornou célebre com o nome de mito ou alegoria da caverna. Seu objetivo é fazer compreender a diferença entre o conhecimento grosseiro, que vem de nossos sentidos e de nossas opiniões (doxa ), e o conhecimento verdadeiro, ou seja, aquele que sabe apreender, sob a aparência das coisas, a ideia das coisas.
A Caverna ocupa, em todas as tradições, um lugar importante no seio do imaginário simbólico e iniciático, é portanto normal encontrar sua presença nos episódios chaves da história divina. Imagem de estadia subterrânea, sinônimo de obscuridade e de Trevas, ela é também frequentemente o espaço da Revelação (creche, Montanha Sagrada, etc.), espaço santo, "Coração do Mundo e Centro espiritual. Lugar de sepultura e renascimento, a Caverna representa a matriz no seio da qual se reabsorvem e se desvelam as possibilidades de manifestação. A este respeito, além de seu lugar estreito e complementar com a Montanha que representa o Eixo do Mundo, se assemelha também ao ventre que, no episódio bíblico da história de Jonas, desempenha o mesmo papel.
Curiosamente, faz notar René Guénon, o aspecto matricia l é significado na palavra grega "delphus", que designa sob o mesmo nome o Delfim, peixe que se conhece o valor simbólico a respeito da abertura da "via ascendente", correspondente a princípio, no Zodíaco, ao Capricórnio, signo sob o qual veio ao mundo Jesus no seio mesmo de uma Caverna representada pela Creche. [DICTIONNAIRE DE RENÉ GUÉNON]
Guha, «caverna», con respecto a la «montaña (girih √ gr., tragar) de Brahma », nuestra alma elemental, compuesta de ojo, oído, mente , habla y olfato, en la cual Brahma está «tragado» (Aitareya Aranyaka II.1.4). Esta concepción es la misma que la del «entumbamiento» del alma en el cuerpo (Fedro 250C; Enéadas IV.8.3; Filón , De Opificio mundi 108, etc.), o macrocósmicamente en el «corazón» de la montaña del mundo; en ambos sentidos la «caverna» es la misma que la de Platón (República, cap. 7). Además, la imagen de la «caverna», en la que la deidad está «sedente» o «depositada» (nisidam, nihitam) y que habita (pravisya) como su mansión (brahma-sala), subyace en el simbolismo del tesoro enterrado (nidhi) y de los «depósitos» (dhatu) minerales, y también de la excavación y de la minería (Maitri Upanishad VI.28). Cf. René Guénon, «La Montaña y la Caverna», Études Traditionelles XLIII (1938). Nuevamente, debido a la correspondencia del «centro» con la «sumidad», hay una interpretación análoga de la escalada de la montaña; los poderes radiantes del alma son otras tantas vías que convergen hacia la cima de la montaña (ad eminentiam mentis, en las palabras de San Buenaventura , que asimila igualmente mons a mens ), por las cuales vías el Comprehensor puede alcanzar su fuente (Jaiminiya Upanishad Brahmana I.30.1) —escalando la «pendiente» (ucchrayam, √ ud-sri, Jaiminiya Upanishad Brahmana I.5.7; cf. ucchrayi, un plano inclinado, el lado de un triángulo o de una pirámide) que corresponde al anodos platónico y hermético. De todas las vías que conducen a la sumidad de la montaña, las de la vida activa están en sus pendientes exteriores y la de la vida contemplativa es un ascenso interior y vertical, mientras que el punto en el que todas se encuentran es un único y mismo punto. (SOPROS E CANAIS)
Sabemos que o «Rei do Mundo» representava ao mesmo tempo o primeiro ancestral, que guardava sua progenitura nas entranhas do solo. Eis aí a grave reprovação que, nos cenários litúrgicos transcritos por Hesíodo , a Mãe Divina ou Terra -Mãe dirige a Urano; e é por este motivo que ela suscita contra este Cronos. Mostramos em várias ocasiões que estas indicações eram da maior importância, pois assinalavam a existência longínqua do «mundo subterrâneo», com sua dura ascese . É, com efeito, nas cavernas que, durante milênios, os homens se retiraram para se lançar às mortificações e às meditações transformantes: no seio das trevas, por vezes, a oitocentos ou novecentos metros da abertura das grutas, eles buscavam a luz do mundo din âmico e o poder que ela confere; das profundezas desta obscuridade, pela oração e pela sutura íntima de seu pensamento ao Ser, eles governavam a natureza; a caverna era um microcosmo, no qual se concentrava para eles a energia que move o conjunto da criação; em outros termos, eles se reuniam aí à matéria energética, substância imortal do cosmo, e, por ela, dominavam o universo físico ou fenomenal. Sua mentalidade era assim ontológica, quer dizer que ela buscava a união direta e imediata com a essência interna dos seres e das coisas, enquanto que a nossa é fundamentalmente empírica, quer dizer que renuncia alcançar os objetos por uma outra via que os contatos exteriores, e sensíveis, estabelecidos no domínio do tempo e do espaço. [A IMAGEM DO MUNDO NA ANTIGUIDADE ]
Matérias
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Rocha Pereira: República Livro VI
24 de março de 2022
Os dois livros seguintes ocupar-se-ão, logicamente, da preparação do filósofo. Depois de enumerar as qualidades que o recomendam para ocupar os lugares de chefia e de analisar as causas do desfavor em que geralmente é tido, principia a esboçar a maneira deformar os guardiões (502c-d), a fim de eles procurarem alcançar o saber mais elevado (megiston mathema - 505a), cujo objeto é a ideia do bem, a ideia suprema que toma inteligível o mundo.
Toda esta parte constitui o que J. E. Raven (...)
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Brun: A Recusa da Aparência
24 de março de 2022
A recusa da aparência
Heidegger critica Platão por este ter contribuído para a introdução de uma separação entre o ser e o parecer, separação que não se encontra nos primeiros filósofos gregos para quem o «parecer» é o surgimento, a apresentação do ser; mas poder-se-ia responder que esta atitude de Platão não deve ser explicada como ruptura com uma tradição anterior mais profunda, mas antes como um esforço para lutar contra as aparências sem ser, no seio das quais os sofistas gostavam de (...)
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Gordon (MH:15-17) – La naissance d’Hermès
31 de agosto, por Cardoso de Castro
La naissance d’Hermès, autrement dit la naissance du nouvel initié, dans une caverne, n’a plus lieu de nous surprendre. C’était la règle alors. Cette caverne porte, au surplus, dans l’hymne homérique, l’appellation de megaron (vers 65), courante pour les antiques grottes saintes ; et il suffit qu’elle soit le reposoir du sacré, source de toutes les splendeurs, pour pouvoir être décrite comme merveilleuse.
Ce très succinct aperçu, dont nous compléterons les indications au fur et à mesure (...)
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Barbuy: Filosofia platônica
7 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
BARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 77-78.
Platão havia separado a Dialética de todos os outros conhecimentos, tomando a Filosofia como iluminação e inspiração; o filósofo, segundo Platão, é aquele cujas disposições inatas levam facilmente para a Ideia de cada ser; e a filosofia é o nome de um estado peculiar de entusiasmo e inspiração que faz intuir a essência transcendental das aparências ilusórias. Essas aparências são os objetos das (...)
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Platão (República:L7:514a-518b) – Alegoria da Caverna
7 de novembro de 2021, por Cardoso de Castro
PLATÃO. A República. Tr. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2017.
Maria Helena da Rocha Pereira
514a — Depois disto — prossegui eu — imagina a nossa natureza, relativamente à educação ou à sua falta, de acordo com a seguinte experiência. Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Estão lá dentro desde a infância, algemados de pernas e (...)
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Pessoa: Ensaio sobre a iniciação
1º de agosto de 2014, por Cardoso de Castro
Tradução do original em inglês de Maria Helena Rodrigues de Carvalho
Há muitas Cabalas, e é difícil acreditar que não possamos atingir a união com Deus, seja o que for que se entenda por isso, a não ser que estejamos familiarizados com o alfabeto hebraico.
Há Erros do Caminho, Erros da Estalagem e Erros da Caverna. São Erros do Caminho aqueles em que o próprio caminho é tomado pela sua finalidade. Erros da Estalagem são aqueles em que metade do caminho é tomado pelo todo. São Erros da (...)
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Rocha Pereira: Mito de Er
13 de janeiro de 2022, por Cardoso de Castro
PLATÃO. A República. Tr. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2017, p. XXXIX-XLII.
A réplica às grosseiras doutrinas de felicidade vai ser dada sob a forma de um mito - processo literário que estava fortemente enraizado na tradição grega, quer na épica, quer na lírica, e que surge nos diálogos, a substituir a discussão dialética, quando se passa da esfera do certo para a do provável . Expor desta forma doutrinas escatológicas foi, além disso, praticado (...)
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Francis Bacon – homem intérprete da natureza e seus ídolos
1º de novembro de 2021, por Cardoso de Castro
Excerto de BACON, Francis. Novum Organum. Tradução e notas de José Aluysio Reis de Andrade. São Paulo: Acrópolis, 2002. (epub)
Novum Organum, I, 1-4
O homem, ministro e intérprete da natureza, só faz e entende na medida em que observou, pela experiência ou pela reflexão, a ordem da natureza; nada mais sabe ou pode além disso.
Nem a mão nua nem o entendimento abandonado a si mesmo podem muito; a coisa aperfeiçoa-se com instrumentos e auxílios, que não são menos necessários para o (...)
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Barbuy: ser unívoco e ser análogo I
6 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
BARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 46-53. (1a ed., São Paulo: Liv. Martins Editora, 1950)
Intuir na realidade o que a realidade é, qual é a sua estrutura, o seu — ontos ón — é o mesmo que buscar o ser da realidade. Mas este ser, como se apresenta? Heráclito, afirmando a perpétua mudança, o fluir incessante de todas as cousas do mundo incerto e transitório, tinha negado os princípios primeiros da Inteligência, afirmando do ser ao mesmo (...)
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Platão - A República (estrutura segundo Annas)
17 de setembro de 2021, por Cardoso de Castro
Estrutura-resumo baseada no livro ANNAS, Julia. Introduction à la "République" de Platon. Paris: PUF, 1994, p. 451-466
PREÂMBULO
PREÂMBULO (LIVRO I): CRÍTICA DAS IDEIAS ADMITIDAS SOBRE A JUSTIÇA Introdução: Sócrates e Céfalo (I, 327a-331d) Sócrates na festa de Bendidios Conversação com o velho Céfalo sobre os incômodos da velhice O bem supremo que busca a fortuna é de não ser tentado a ser desonesto Mas (primeira opinião sobre a justiça, Céfalo): a justiça consiste em "dizer a (...)
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Ortega y Gasset (MT:C1) – I PRIMEIRA ESCARAMUÇA COM O TEMA
4 de novembro de 2021, por Cardoso de Castro
ORTEGA Y GASSET, José. Meditação da Técnica. Tradução e Prólogo de Luís Washington Vita.
PREFÁCIO Com o nome de Meditação da técnica, ofereço ao público um curso desenvolvido no ano de 1933 na Universidade de Verão de Santander, que então foi inaugurada. Este curso, como observará em seguida o leitor, não foi, propriamente, escrito, pois consiste em anotações feitas às pressas para o uso da cátedra. Não se busque nelas nem mesmo, talvez, asseada correção gramatical. Tal e qual foram (...)
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Eudoro de Sousa (HCSM:110-112) – mundo é uma caverna
9 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 110-112]
64. Para o daimon de Empédocles, o mundo é uma caverna: já acenamos para a novidade da cifra, na codificação filosófica do mistério do horizonte. Mas a Caverna passa por ser o mais notável e a mais notada «ilustração» da gnosiologia platônica. Já lemos copiosas páginas (por exemplo, Zepf; cf. A. J. Festugière, La révélation d’Hermes Trismégiste, vol. II, «Le Dieu Cosmique», (...)
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Eudoro de Sousa (HCSM:115-118) – Mito da Caverna
9 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 115-118]
RESUMO DE REPÚBLICA VII apenas de 514a-517a
67. «Agora afigura-te a condição da nossa própria natureza, quanto à relação entre cultura e incultura, da maneira que vai seguir. Representa-te homens que vivem numa espécie de morada subterrânea, em forma de caverna, que tem, em toda a sua largura, uma entrada que abre para a luz do dia; no interior desta morada, desde a (...)
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Eudoro de Sousa (HCSM:104-110) – Empédocles
10 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 104-110]
60. Parmênides teria sido o primeiro pluralista, se o seu dualismo fosse o da realidade, e não o da aparência — da aparência, pura e simples, ou da aparência da realidade: o dualismo da Luz e da Noite é questão de nomos («convenção»), e não de physis («natureza»), Empédocles institui o pluralismo na realidade, na medida em que cada um dos seus quatro elementos se determina (...)
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Barbuy: A Nação e o Romantismo
8 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
BARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 259-291
1. A exposição que se vai seguir foi reconstituída de notas de aulas ministradas na Faculdade de Filosofia “Sedes Sapientiae”, da Universidade Católica de São Paulo, bem como de uma conferência pronunciada no Centro de Estudos Sociais e Políticos. Nesta última, procurei demonstrar, em síntese, que existem três espécies de nacionalismo: o Romântico, o Burguês e o Dialético ou comunista. Não podendo (...)
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Flusser (FCP:C2) – A imagem técnica
15 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
FLUSSER, Vilém. Filosofia da Caixa Preta. Ensaios para uma futura filosofia da fotografia. São Paulo: Annablume, 2013.
Trata-se de imagem produzida por aparelhos. Aparelhos são produtos da técnica que, por sua vez, é texto científico aplicado. Imagens técnicas são, portanto, produtos indiretos de textos – o que lhes confere posição histórica e ontológica diferente das imagens tradicionais. Historicamente, as imagens tradicionais precedem os textos, por milhares de anos, e as imagens (...)
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Barbuy: Physis e Natureza
7 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
BARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 87-96.
Sabe-se que as origens da filosofia se encontram na meditação sobre o mistério e a essência da Natureza. Os pré-socráticos têm sido habitualmente mal compreendidos e por vezes considerados materialistas ou cientistas embrionários que apenas anunciaram os grandes progressos da ciência que veio depois deles. Basta contudo ler os fragmentos dos pré-socráticos para que o sentido do seu pensamento (...)
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Eudoro de Sousa (HCSM:118-123) – interpretação da República VI e VII (504d-517c)
9 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 118-123]
REPÚBLICA VI e REPÚBLICA VII
68. Só para desentranhar todas as implicações destas poucas páginas da República, necessário seria escrever um livro inteiro. Supondo que não nos tenhamos omitido de ler com a devida atenção nenhum dos mais importantes comentários que constam da bibliografia especializada, digamos, para começar, que só nos ocorre uma excepção (Fergusson) ao (...)
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Eudoro de Sousa (HCSM:125-142) – Heráclito
10 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
[Eudoro de Sousa. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 125-142]
72. Deixamos Heráclito para o fim, por duas razões que, de algum modo, sem sabermos por ora quais sejam, devem andar estreitamente correlacionadas. A primeira é que o filósofo não tem lugar na «história» da filosofia grega, se por tal entendemos o desenvolvimento do que se chama «filosofia», em qualquer direcção bem definida a partir de problemas enunciados, de Tales de (...)
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Gordon (IMA:26-28) – Hermopolis
26 de setembro, por Cardoso de Castro
As Montanhas Santas
tradução parcial
A mais antiga tradição do Egito Antigo, aquela de Hermópolis, informa que uma elevação divina, a «maravilhosa colina dos tempos primordiais», emergiu um dia do oceano; da Caverna guardada nesta montanha sacrossanta saíram, por pares, quatro rãs (= quatro mulheres iniciadas), e quatro serpentes (= quatro homens iniciados): estes oito personagens - seres transcendentes criaram um ovo, que depositaram no pico da montanha. Deste ovo nasceu um pássaro, (...)