Página inicial > Palavras-chave > Termos gregos e latinos > metabole / μεταβολή / metabolé / μεταβάλλω / metaballo / mudar / alterar / (...)

metabole / μεταβολή / metabolé / μεταβάλλω / metaballo / mudar / alterar / mudança / modificação / μεταμόρφωσις / metamorfose / transformação / alloíôsis / αλλοίωση / alteração / mudança qualitiativa / ἀλλοῖος / alloios / ametabletos / αμετάβλητος / imutável / allasso / ἀλλάσσω / trocar / substituir

  

gr. μεταβολή, metabolé (he): mudança, modificação, transformação. Latim: mutatio. Em filosofia, a metabolé distingue o ser sensível, fadado à mudança, do ser inteligível, perpetuamente o mesmo. Termo moderno de fisiologia: metabolismo, conjunto de transformações energéticas do organismo.


gr. alloíôsis: mudança, mudança qualitativa, alteração. De állos / allos: outro. Uma das formas da mudança (metabole) em Aristóteles. Definição: "Uma mudança nas afecções de um substrato (hypokeimenon) que continua idêntico e perceptível" (De gen., IV).
gr. μεταμόρφωσις, metamorfose
A transformação é só uma e para todos, mas sua descrição pode ser diferente, pois “o transformado” entra no mistério por esse mesmo ato no qual a linguagem perde o nome das coisas. O mistério se revela então para quem o desvendou, mas ao não ser possível transferir sua revelação segue sendo mistério para o que nele não entraram.

A descrição dada pelos evangelhos   canônicos “dramatiza” a hora suprema da transformação e a explica como morte que leva à vida, segundo o modelo que só o grão que cai na terra e morre dá fruto.

Mas de que morte falam os evangelhos? Porque é certo que como paradigma e primícia de todas as mortes morreu Jesus Cristo na cruz, mas quando ele fala da cruz que há de tomar sobre seus ombros todo o que queira segui-lo, não se refere ao madeiro com cravos, pois em tal caso ninguém poderia ser salvo no seio de uma civilização que aboliu por inteiro tal suplício.

Jesus fala em metáfora da cruz, e se refere sem dúvida a uma cruz de ordem psíquica com a que há que carregar até que fique “dissolvida”. Só quando esta cruz cai pulverizada em gotas de dor e lágrimas sobre a terra e morre o grão, dá seu fruto de transformação em espírito.

O que morre na transformação são os componentes mundanos, transitórios, da alma, e o que ressurge depois desta morte é a Vida eterna que na alma habita desde o princípio como semente desconhecida, “não recebida”, pela consciência, como espírito, e essa é a transformação.

A constância desse mistério é mantida naqueles ditos de Jesus que falam em forma mítica da transformação da alma. Os sinópticos “dramatizam” ao máximo o mistério, quando dizem: “Quem perder sua alma (vida = psyche) por mim, a encontrará. Por outro lado, o autor do quarto evangelho encontra uma fórmula de descrição depura o dramatismo e pela qual “perder” (morrer), se permuta por “odiar” (rechaçar), como procedimento evangélico para acabar com os conteúdos mundanos da alma que obstruem a transformação: “O que odeia sua alma neste mundo, a guardará para uma vida eterna” (Jo 12,25).

De certo, o leito de Salomé, ao qual segundo o Evangelho dos Egípcios, e também segundo o Evangelho de Tomé, subiu Cristo para “comer de seu prato”, e esse outro leito onde, segundo Lucas  : “Há dois que repousarão: um morrerá (a alma e outro viverá (o espírito)” (Lc 17,34), quando se produza a Vinda do Filho do Homem, são um e o mesmo leito na unidade da consciência do homem constituída em matriz de transformação.

Se em uns casos a transformação que a todos nós diz respeito é explicada como morte da alma e em outros como purificação perfeita, só se deve a diferenças de descrição do mesmo mistério. Há que entender que quem poderia descrever o mistério com exatidão, perdeu sua linguagem válida para nós, e quem tenta a descrição, ou a faz por voz alheia, transmitida, ou “retornou” do mistério para ter linguagem e algo deixou necessariamente, esquecido neste retorno.

De qualquer forma há que se perguntar: quando a larva cumpre suas mudas e consegue a crisálida de mariposa em sua metamorfose completa, onde fica o verme? quem se atreveria a diagnosticar se a larva originária morreu na ninfa, ou que se consolidou com as asas de sua transformação ? [Roberto Pla  , breve 8926]