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chora / χώρα / χώρος / choros / receptáculo / ontological region / appropriating region / ecstatic-horizontal / horizon-region

  

gr. χώρος, choros, chôra: terra, área, espaço, lugar, receptáculo do devir (Timeu  ). Princípio sem origem epistêmica. Princípio de pura diferenciação que só faz constituir as condições de possibilidades de uma oposição entre o mundo sensível e o mundo inteligível. Heidegger   reporta este princípio diferencial da chora a diferença ontológica entre o ser e o ente. A chora não é um regenerador de energia, mas o lugar de uma transmissão de energia.


Zumthor

As línguas medievais não possuíam uma palavra permitindo exprimir, mesmo com aproximação, nossa ideia de espaço. Eis aí um índice que convém interpretar. As línguas romanas todas herdaram o latim “locus” ou (como o espanhol e o português) um de seus derivados: os termos que proveem designam a localização onde se encontra um objeto determinado. O germânico “rum”, derivado do alemão “raum”, do neerlandês “ruimte” e do inglês “room”, tiveram originalmente o mesmo sentido, que se conservou nestas línguas até a época pré-moderna. O francês, por outro lado, tirou do baixo latino “platea” a palavra “place” para significar (como o alemão “statt”, o antigo inglês “stede”, o islandês “stadhur”) a posição mesmo onde se está; o inglês e o neerlandês o tomaram emprestado em lhe dando o sentido geral de “locus”. “Spatium”, em revanche, parecem não ter jamais entrado no uso geral: palavra de letrados, passado ao francês somente (ao qual o tomaram em seguida outras línguas), ele aí designou até o século XVI ou XVII um intervalo cronológico ou topográfico separando duas referências. A expressão “sem espaço”, que se encontra desde cerca 1175, significa banalmente “imediatamente”.

O “espaço” medieval é portanto o que está entre dois: um vazio a preencher. Não se o fez existir senão disseminando sítios. O lugar é, ele, pesado de um sentido positivo, estável e rico: descontinuo, sucede na extensão; é o pedaço da terra onde se estadia, que se pode sair e onde se pode retornar. Em relação a ele se ordenam assim os movimentos do ser. Não se pode dividir um lugar em partes, pois ele totaliza os elementos e as relações que o Constituem. Um conjunto de signos aí se acumulam e aí se organizam em um Signo único e complexo. De onde sua coerência, análoga àquela de um texto. É um texto com efeito, onde se inscreve uma história. Os eixos aí se cruzam, segundo os quais se articulam as propriedades físicas e simbólicas da natureza. É neste sentido que Tomás de Aquino  , comentando da “Física” de Aristóteles, definia o “locus” como “quoddam receptaculum” (“um certo continente”); que o alemão gestattet, literalmente “posto em lugar”, qualifica o que é permitido. Ao redor do lugar, onde experimento neste instante meu enraizamento nos cosmo, eu conheço ou imagino todos os outros, em zonas concêntricas: os mais próximos e familiares; os mais distantes e estranhos; aqueles que ignora e do qual não pude saber se são agradáveis e assustadores; aqueles enfim que meu desejo e meu temor lançam aos poderes fantásticos.

Todo humano, no curso de sua vida, conhece muitos lugares. Sem dúvida os eventos ou lembrança estabelecem entre estes uma hierarquia, em virtude de sua capacidade emocional. Mas, por um lado, cada um deles possui um valor intrínseco pois é uma presença humana que a instituiu tal como é; por outro lado, todos meus lugares têm de alguma maneira devem àquele que foi minha estada original: uma matriz. Meu nicho, donde os outros lugares não são talvez senão metáforas,e de onde provêm meu pavor desta “inerência privilegiada” que invoca P. Kaufmann, falando do “poder prodigioso do lugar”. A poesia medieval testemunha a intensidade com a qual o homem de então ressentia estas relações. Um lugar não é jamais desprovido de sentido para quele que “aí se encontra”. Talvez mesmo tenha ele o poder de integrar o evento no tempo, se se crê em expressões tais como “ter lugar”, “platz finden” em alemão. É a este nível profundo que se origina o sentido da palavra “demeure” (morada), que em francês antigo: etimologicamente derivada da noção de duração (o latim “mora”), designa, de maneira intemporal, o fato de ser aí (ou estar aí), em uma espécie de degustação do lugar.

Ideias tomadas em Macróbio e nos médicos antigos confirmavam aos olhos dos doutos a existência, entre o vivente e os lugares onde ele tem estada, relações de equivalência, se demarcando na aparência e no temperamento. O lugar de um ser, não menos que aquele de um objeto, é percebido como uma qualidade própria deste objeto ou deste ser. Pouco a pouco, é verdade, se chegará a não mais ver no lugar senão um acidente topográfica: mas esta reviravolta não será totalmente cumprida antes do século XVI, ou XVII.

A identificação de si não pode se distinguir da apropriação de um lugar nem da adaptação a seu ambiente imediato. O alemão “Dasein”, literalmente “ser-aí” (Martin Heidegger), exprime no uso corrente a ideia de existência. A velha epopeia escandinava. da qual testemunham as sagas islandesas, não nomeia jamais um herói sem precisar seu lugar de origem. Sobre o continente, um costume bastante geral (antes da invenção, tardia, e a difusão dos patrônimos) foi de designar assim o estrangeiro, chegado de um alhures que se lhe colava uma etiqueta: nenhuma dúvida que frequentemente o indivíduo em pauta se dava espontaneamente esta apelação. A força destes encadeamentos variou sem dúvida ao longo do tempo, e certas épocas (como a nossa) visam dissociar os fatores. Tal é o paradoxo daquilo que denominei o nomadismo medieval: os traços mentais que enumerei anteriormente não excluem esta incessante descoberta de si mesmo pelo lugar. [Paul Zumthor. Excertos traduzidos de La mesure du monde]

Chodkiewicz

Au début du chapitre IV de ses Futûhât Makkiyya (Les Illuminations de La Mecque), Ibn Arabi  , s’adressant à son maître et ami tunisien Abd al-Azîz Mahdawî – à qui cet ouvrage est dédié –, évoque le séjour qu’il fit chez lui en 598/1201 et tente de le persuader de le rejoindre dans la Ville sainte, « la plus noble des demeures de pierre et de terre ». Il enchaîne aussitôt sur le caractère plus ou moins favorable à la contemplation des lieux où l’on réside. « Les lieux, dit-il, produisent un effet dans les cœurs subtils et il y a donc une hiérarchie des demeures corporelles (manâzil jismâniyya) comme il y a une hiérarchie des demeures spirituelles (manâzil rûhâniyya). » Il rappelle à Abd al-Azîz que ce dernier avait renoncé à s’enfermer dans une des chambres du phare qui se trouve à l’est de Tunis et avait préféré faire retraite un peu plus loin au milieu des tombes en déclarant qu’« il trouvait mieux son cœur en cet endroit que dans le phare ». Moi aussi, ajoute-t-il, j’ai éprouvé là ce que tu as dit. Ce caractère privilégié de certains lieux tient, précise-t-il, à ceux, anges, djinns ou hommes, qui y séjournent ou y ont séjourné : ainsi en va-t-il, par exemple, de la maison d’Abû Yazîd Bistâmî (que l’on a surnommée la « maison des Justes », bayt al-abrâr), de la zawiyya de Junayd, le grand soufi bagdadien du IXe siècle, de la caverne de l’ascète Ibn Adham ou, plus généralement, de tout endroit en rapport avec les pieux défunts (al-sâlihîn). (Selo dos Santos)

Burckhardt

Do ponto de vista cosmológico, esse receptáculo corresponde à substância passiva, a “materia prima” ou principio plástico de um mundo ou de um ente. Do ponto de vista puramente metafísico, o receptáculo que se opõe — de uma maneira totalmente principial e lógica — à “efusão” incessante do Ser, se reduz à possibilidade principial, o arquétipo ou a “essência imutável” (al-a’yn ath-thabitah) de um mundo ou de um ente. (FususAdam)

Zheng

We have seen that, because Tao is both “transcendent” (having no form, no causal action, being its own source) and “phenomenological” (having sensibility and responsibility), it has to be experienced as an “ecstatic-horizontal” or appropriating region. This horizon-region, as Heidegger’s interpretation of Kant   shows, can be primordially unfolded neither in sensation nor in categories, but only in “pure image”, which is the homologue of “the Image without object” in the chapter 14 of Lao Tzu  . Therefore, the objectless Image of Tao and Being is not a representative “picture” in either physical or mental sense, but is the way of hermeneutically expressing and maintaining the ecstatic-horizontal essence and characters of the ultimate reality. The non-representative usage of language is the unavoidable “way” and “house” of the Tao. In Heidegger’s earlier writings, the pure image is presented mainly as the ecstatic-horizontal “temporality”. In his later works, he freely draws any appropriate image from poems, paintings, Nature (earth, sky, country path), and man-made things (jar, bridge, mill, buildings). In Lao-Chuang, such “images” (hsiang) or non-conceptual usages of language are met everywhere, and serve as one major way of Saying-Tao. Because there are too many of them, I will roughly classify these images according to their functions. [ZhangHT  :219]