Página inicial > Palavras-chave > Termos gregos e latinos > aletheia / αλήθεια / ἀλήθεια / veritas / alethes / αληθές / άληθεύειν / (...)

aletheia / αλήθεια / ἀλήθεια / veritas / alethes / αληθές / άληθεύειν / aletheuein / desvelamento / des-encobrimento / des-cerramento / des-encobrir / realitas / hierognose / kashf

  

gr. ἀλήθεια, alétheia: verdade; desvelamento, desencobrimento [Plato’s Sophist, Heidegger  ]. alétheia (he): verdade. Latim: veritas. Entende-se por alethés o que é incontestável, seja nos fatos (real, verdadeiro), seja nas palavras (evidente do ponto de vista da lógica, verídico do ponto de vista do sujeito que afirma). [Gobry  ]


Levantar o que cobre, "des-cobrir", "des-encobrir", são possibilidades de se entender o grego aletheia, segundo Heidegger. Muitas vezes traduzido como "verdade", do latim veritas, o original grego como em outros casos, perdeu seu sentido original de "negação do esquecimento", "des-cobrimento", "des-encobrimento".

Segundo Jean-Yves Leloup  , em sua interpretação do Evangelho de Tomé - Logion 2, a BUSCA de certa maneira, já é um des-cobrir. Deseja-se algo que já se conhece, senão de onde nos viria a ideia? Conhecemos "momentos estrelados" em nossa existência que testemunham, qualquer que seja a espessura de nossa noite, que "a luz existe".

«Tu não me buscarias se já não me tivesses des-coberto", mesmo que por vislumbres.

Assim o movimento mesmo da BUSCA, é de se abrir suficientemente ao que já está presente, porém encoberto por "nós-mesmos", e assim não conhecemos suficientemente. "Há no meio de vós alguém que não reconheceis", dizia João Batista, o Anunciador.

Há no meio de vós uma presença a des-encobrir, reconhecer e afirmar. Buscar-Descobrir, é se abrir suficientemente ao que desde sempre nos é dado.


Schaya

A Verdade não saberia então ser achada unicamente pelo pensamento, isto é por uma faculdade que, em razão de sua natureza dualista, não pode ultrapassar inteiramente o abismo de sua dúvida; em contrapartida, o homem não pode encontrar a Verdade sem nenhuma contribuição do pensamento, pois é um ser pensante, e se o pensamento não tivesse nenhuma relação com a Verdade, o homem também não teria ligação consciente com ela. Uma coisa é certa: a noção mental da Verdade existe; o pensamento se opõe ao erro e o identifica ao conceito do Real. Isso indica, “ad extra”, uma relação entre o pensamento e a Verdade, « relação » que, “ad intra”, não é outra senão o Espírito. É o Espírito que leva à Verdade. O pensamento constitui o traço de união entre o homem e o Espírito, mas se interpõe aí ao mesmo tempo como um obstáculo, por causa de seu dualismo « orgânico », cujas expressões são a dúvida e o erro; também o pensamento não saberia ultrapassar o erro e se integrar na Verdade, sem se conformar ao Espírito e sem se desaparecer finalmente nele. (SchayaC  )

Michel Henry

Na auto-revelação da Vida tem nascimento a realidade, toda realidade possível. E é preciso compreender bem porque. É claro de pronto que uma realidade qualquer só pode se edificar se as condições que a tornariam à priori impossível são excluídas, na incapacidade de exercer sua obra de destruição. Aí onde o “no de fora” que projeta toda coisa fora de si e a despoja precisamente de sua realidade não tem nem lugar nem poder, na essência da Vida, aí somente algo como uma realidade é possível. Eis porque convém desde agora (e mesmo se tivermos que retornar longamente sobre este ponto) rejeitar a ideia que encontrou na filosofia de Hegel, e em seus subprodutos como o marxismo, sua expressão mais tenaz, antes de determinar em retorno uma boa parte dos lugares comuns do pensamento moderno. É a ideia que o cristianismo é uma fuga da realidade e isso na medida que é uma fuga do mundo. Se a realidade reside na Vida e somente nela, esta reprovação se desagrega para aparecer finalmente como um sem-sentido.

Ora, a realidade reside na Vida não somente porque o que experimenta esta, sendo experimentado sem distância nem diferença de nenhuma espécie,não se esvaziou de si no “fora de si” de um mundo, na irrealidade noemática daquilo que só se faz ver — porque o que ela experimenta, é ainda ela. Que o conteúdo da Vida, o que ela experimenta, seja a Vida ela mesma, remete à condição mais fundamental, à essência mesma do “viver” — seja a um modo de revelação cuja fenomenalidade específica é a carne de um pathos, uma matéria afetiva pura, da qual toda cisão, toda separação se encontra radicalmente excluída. É unicamente porque tal é a matéria fenomenológica da qual é feita esta revelação que se pode dizer que nela o que se revela e o que é revelado não fazem senão um. É esta substância fenomenológica patética do viver que define e contém toda “realidade” concebível.

Quando dizemos: no viver onde se mantém toda a realidade, na auto-revelação que constitui a essência da vida e assim aquela de Deus ele mesmo, o que se revela é o mesmo que o que é revelado — entre o primeiro destes termos e o segundo que declaramos ser o mesmo, uma distinção não é traçada, pré-esboçada em todo caso? Não é esta distinção que supera ou pretende superar uma identificação que de fato a pressupõe? Da mesma maneira quando, a respeito do “se experimentar” que nada exprime de outro que o viver, afirmamos que o que se experimenta é o mesmo que o que é experimentado, já não rompemos o que pensamos ser a unidade primordial do viver? Somente estas diferenciações potenciais, assim como o par que os supera, pertencem à morfologia da linguagem e se enraízam ultimamente no mundo do qual esta linguagem é a linguagem. Se experimentar como o fato a Vida, é o desfrutar-se de si. O desfrute não pressupões qualquer diferenciação semelhante àquela onde tem nascimento um mundo: é uma matéria fenomenológica homogênea, uma carne afetiva monolítica cuja fenomenalidade é a afetividade como tal. A auto-revelação da Vida não é uma estrutura formal concebível a partir do “fora de si” e de suas próprias estruturas, estas se encontrando ultrapassadas, superadas ao mesmo tempo sendo conservadas nesta superação mesma. A auto-revelação da Vida é seu desfrute primordial que define a essência do viver e assim aquela de Deus ele mesmo. Segundo o cristianismo, Deus é Amor. O Amor não é outro senão a auto-revelação de Deus compreendida em sua essência fenomenológica patética, a saber o auto-desfrute da Vida absoluta. Eis porque o Amor de Deus é o amor infinito do qual ele se ama eternamente ele mesmo, e a Revelação de Deus nada mais é que este Amor. [MHESV  ]

Detienne

Em uma civilização científica, a ideia de Verdade introduz imediatamente as de objetividade, comunicabilidade e unidade. Para nós, a verdade se define em dois níveis: por um lado, conformidade com alguns princípios lógicos, e, por outro, conformidade com o real, sendo, desse modo, inseparável das ideias de demonstração, verificação e experimentação. Dentre as noções que o senso comum veicula, a verdade é, sem dúvida, uma das que parece ter sempre existido, sem ter sofrido nenhuma transformação; uma das que parece, também, relativamente simples. Entretanto, basta considerar que a experimentação, por exemplo, que sustenta a nossa imagem do verdadeiro, só se tomou uma exigência numa sociedade onde era tida como uma técnica tradicional, ou seja, numa sociedade onde a física   e a química conquistaram um papel importante. E possível, então, perguntar-se se a verdade como categoria mental não é solidária a todo um sistema de pensamento, se não é solidária à vida material e à vida social. Os indo-iranianos possuem uma palavra que é traduzida corretamente por Verdade: Rta. Mas Rta é também a oração litúrgica, a potência que assegura o retorno das auroras, a ordem estabelecida pelo culto dos deuses, o direito, em suma, um conjunto de valores que quebram nossa imagem da verdade. O simples dá lugar ao complexo, e a um complexo diversamente organizado. Se o mundo indo-iraniano é tão diferente do nosso, o que haveríamos de dizer da Grécia? A "Verdade" ocuparia o mesmo lugar que ocupa em nosso sistema de pensamento? Ela abarcaria o mesmo conteúdo semântico? A questão não é de mera curiosidade. A Grécia nos chama atenção por duas razões solidárias: em primeiro lugar, porque entre a Grécia e a Razão ocidental as relações são estreitas, tendo surgido historicamente do pensamento grego a concepção ocidental de uma verdade objetiva e racional. Sabe-se, por outro lado, que, na rica reflexão dos filósofos contemporâneos sobre o Verdadeiro, Parmênides  , Platão   e Aristóteles são constantemente invocados, confrontados e colocados em questão. Somente mais tarde, inserida no tipo de razão que a Grécia constrói a partir do século VI, uma determinada imagem da "Verdade" virá a ocupar um lugar fundamental. De fato, quando a reflexão filosófica descobre o objeto próprio de sua busca, quando se desarticula do fundo do pensamento mítico, onde a cosmologia jônica ainda encontra suas raízes, quando se lança deliberadamente aos problemas que não mais deixarão de atrair sua atenção, ela organiza uni campo conceituai em tomo de uma noção central que definirá, a partir de então, um aspecto da primeira filosofia como tipo de pensamento e do primeiro filósofo como tipo de homem: Aletheia ou a "Verdade".

Quando Aletheia aparece no prelúdio do poema de Parmênides  , não surge articulada por completo pelo cérebro científico. Ela possui uma longa história. No estado de documentação, começa com Homero  . Este estado, de fato, poderia fazer-nos crer que apenas o desenvolvimento cronológico dos testemunhos sucessivos de Homero a Parmênides, conseguiria lançar alguma luz sobre a "Verdade". O problema coloca-se, entretanto, em termos bastante distintos. Desde muito tempo, convém que se sublinhe o caráter estranho da mise-en-scène na filosofia parmenídica: uma viagem num carro conduzido pelas filhas do Sol, uma via reservada ao homem que sabe, um caminho que conduz às portas do Dia e da Noite, uma deusa que revela o conhecimento verdadeiro, em suma, um conjunto mítico e religioso de imagens que contrasta singularmente com um pensamento filosófico tão abstrato quanto aquele que trata de Ser em si. De fato, todos estes traços, cujo valor religioso não pode ser contestado, orientam-nos de forma decisiva em direção a alguns meios filosófico-religiosos onde o filósofo ainda não é mais do que um sábio, digamos, até mesmo um mago. Mas é nestes meios que se encontra um tipo de homem e um tipo de pensamento voltados para a Aletheia: é a Aletheia que Epimênides de Creta tem o privilégio de ver com seus próprios olhos; é a planície de Aletheia" que a alma do iniciado aspira a contemplar. Com Epimênides, com as seitas filosófico-religiosas, a pré-história da Aletheia racional se encontra nitidamente orientada para determinadas formas de pensamento religioso, nas quais a mesma "potência" desempenhou um papel fundamental.

A pré-história da Aletheia filosófica conduz-nos a um sistema de pensamento do adivinho, do poeta e do rei de justiça, aos três setores nos quais um determinado tipo de palavra define-se por Aletheia. Determinar a significação pré-racional da "verdade" é tentar responder a uma série de questões, dentre as quais as mais importantes são as seguintes: Como se define, no pensamento mítico, a configuração de Aletheia? Qual é o estatuto da palavra do pensamento religioso? Como e por que um tipo de palavra eficaz é substituído por um tipo de palavra com problemas específicos - relação entre a palavra e a realidade, relação entre a palavra e o outro? Que relação pode existir entre algumas inovações da prática social do século VI e o desenvolvimento de uma reflexão organizada sobre o logos? Quais são os valores que, sofrendo inteiramente uma mudança de significação, continuam a impor-se, tanto num sistema de pensamento quanto no outro, no mito e na razão? Quais são, por outro lado, as rupturas fundamentais que diferenciam o pensamento religioso do pensamento racional? As intenções deste livro não se esgotam dentro do projeto único de definir, através de seu contexto mental, social e histórico, a significação pré-racional da "verdade" no sistema de pensamento mítico e, solidariamente, seu primeiro conteúdo em meio ao pensamento racional. Na história de Aletheia encontramos o terreno ideal para levantar, por um lado, o problema das origens religiosas de determinados esquemas conceituais da primeira filosofia e, a partir daí, colocar em evidência um aspecto do tipo de homem que o filósofo inaugura na cidade grega; por outro lado, detectar nos aspectos de continuidade que tecem uma trama entre o pensamento religioso e o pensamento filosófico, as mudanças de significação e as rupturas lógicas que diferenciam radicalmente as duas formas de pensamento.

Taylor

Plato, following ancient theologists, considers truth multifariously. Hence, according to his doctrine, the highest truth is characterized by unity; and is the light proceeding from The Good, which imparts purity, as he says in the Philebus  , and union, as he says in the Republic  , to intelligibles. The truth which is next to this in dignity is that which proceeds from intelligibles, and illuminates the intellectual orders, and which an essence unfigured, uncoloured, and without contact, first receives, where also the plain of truth is situated, as it is written in the Phaedrus  . The third kind of truth is that which is connascent with souls, and which through intelligence comes into contact with true being. For the psychical light is the third from the intelligible; intellectual deriving its plenitude from intelligible light, and the psychical from the intellectual. And the last kind of truth is that which is in sensibles, which is full of error and inaccuracy through sense, and the instability of its object. For a material nature is perpetually flowing, and is not naturally adapted to abide even for a moment.

The following beautiful description of the third kind of truth, or that which subsists in souls, is given by Iamblichus  : "Truth, as the name implies, makes a conversion about the gods and their incorporeal energy; but doxastic imitation, which, as Plato says, is fabricative of images, wanders about that which is deprived of divinity and is dark. And the former indeed receives its perfection in intelligible and divine forms, and real beings which have a perpetual sameness of subsistence; but the latter looks to that which is formless, and nonbeing, and which has a various subsistence; and about this its visive power is blunted. The former contemplates that which is; but the latter assumes such a form as appears to the many. Hence the former associates with intellect, and increases the intellectual nature which we contain; but the latter, from looking to that which always seems to be, hunts after folly and deceives." Iamblic apud. Stob. p. 136.

Coomaraswamy

lethes

ESQUECIMENTO E NÃO-ESQUECIMENTO

No menos destacable es el hecho de que mosa, musa (mrsa), «falso», es regularmente opuesto a saccam (satyam), «verdadero»; y puesto que este musa, mrsa deriva de mussati, mrs, «ignorar», «olvidar», «descuidar», resulta claro que «no-verdadero» coincide con «olvidado». De la misma manera, aunque inversamente, lethe es «olvido», «olvidar», y aletheia es «verdad» o literalmente «no-olvido». Por consiguiente, o alethes ouranos (Fedón   109E) no es meramente «Céus - cielo verdadero o real» sino también «Céus - cielo donde no hay olvido», y donde, por la misma razón, los deuses - dioses «nunca aprenden» debido a que jamás hay nada ausente de su conocimiento (Plotino  , IV.4.7); de la misma manera el to aletheias medion de Platón no es meramente «llanura de la verdad» sino también la «tierra del no olvido», y lo opuesto del to lethes pedion, la «tierra del olvido» de Aristófanes (Las Ranas, 186). Leto es así mismo de la ralea mortal de la Discordia (Hesíodo  , Teogonia 227), y también para Shakespeare   significa «muerte»; de modo que la «tierra del no-olvido» es también la «tierra de la inmortalidad». En el sentido en que nosotros somos lo que conocemos, y en que ser y conocer son lo mismo (to gar auto noein estin te kai einai) [1], la recordación es la vida misma y el olvido un brebaje letal. [REMINISCÊNCIA, INDIANA E PLATÔNICA (cont.)]

Dixsaut

L’alêtheia est, chez Homère, ce qui se manifeste dans une parole exempte de mensonge et d’erreur (la négation d’être ou de demeurer caché). Elle ne devient un problème qu’avec la question parménidéenne de la voie véritable et du critère., condition pour qu’un discours soit digne de foi.

Allard l’Olivier

Acontece, quando Deus julga oportuno, que a criatura humana entre na consciência da unidade constituída pela luz divina e a recepção desta luz pela face interna da mente. Então tudo se passa como se Deus se desvelasse à alma criatural. Quando Deus se desvela não como Existente «objetivo», compreende-se, mas como Existir infinito no foro interior do sujeito conhecente, é na linha mesma da subjetividade deste aí que ele surge. É o surgimento do Ipsum esse no sujeito conhecente. Deus se desvela como Existir infinito dando à alma criatural a consciência que a face espiritual que esta criatura apresenta a Deus — quer dizer o intelecto agente - intelecto ativo ou agente desta criatura — é inundado do fluxo existencificador divino que atinge diretamente esta face interna como a luz do sol atinge diretamente o espelho que lhe é estendido. Ora, tendo assim consciência da luz existencial que recebe, ela se encontra privada de todo meio de distinguir sua face interna da Realidade divina, de sorte que ela é então, enquanto face interna, literalmente deificada; mas, por outro lado, como é o Existir infinito que se desvela, e com que intensidade formidável! ela experimenta no mesmo momento, enquanto, desta vez, ela é criatura individual soba a face interna que apresenta a Deus, seu nada existencial. fana - Ela é extinta em um mundo ele mesmo desprovido de toda realidade existencial. [L’ILLUMINATION DU COEUR]


[1Hermann Diels, ed., Die Fragmente der Vorsokratiker (Berlín, 1903), fr. 18B 5. Cf. Maitri Upanishad VI.34.3, yac cittas tanmayo bhavati, «Lo que es el pensamiento de uno, eso él deviene», y Agostinho de Hipona - San Agustín, Confesiones XIII.11, «esse, nosse, velle. in his tribus. et una vita mens et una essentia».