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teogonia

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Vemos, pois, que o mais difícil mister de uma teogonia  , que se desdobra em cosmogonia e antropogonia, é acertar com o nome de cada vértice superior de todos os triângulos da complementaridade e do simbólico. Só sabemos que aquém-horizonte extremo, cada um é deus-projeto de mundo e de homem. Donde provém a dificuldade? Donde nos advém a dificuldade que beira o domínio da impossibilidade? Ao que parece, do que nos impede de dizer o que Deus ou um deus seja. Mas que nos impede de dizê-lo? Provavelmente, o não o vermos. Mas de novo se pergunta: que nos obstrui a visão? A pergunta não é descabida, pois conhecemos de ciência certa e nome damos a muitas e muitas coisas que jamais vimos; mas, neste caso, sabemos por que não as vemos — conhecemos o obstrutivo. É deficiência natural dos nossos sentidos de corpo e alma. O que não vemos, o que não sentimos diretamente, indiretamente conhecemos por efeito de seu agir. E mesmo que a coisa invisa o seja por não se encontrar no horizonte do visível (referimo-nos, por exemplo, a objetos da física quântica), podemos montar aparelhagem adequada à visão do que se passa em outro horizonte (referimo-nos a dispositivos cujo funcionamento obedece às leis da física clássica). Mas, aqui, não é esse o caso. Supomos que um deus, com a physis de Heráclito, queira ocultar-se, e que efetivamente se oculte no mundo-e-homem que desocultou. Um deus, como excesso incontido, é imitação da modelar Excessividade Caótica e, como tal, não se nos mostra diretamente: vemo-lo nos opostos, um que é mundo como excedência mal contida, e outro que é homem como incontinência do excesso. Assim rematamos outra malha caída: cosmo-antropofania é teocriptia. O processo teogônico não nos diz como deuses vieram a ser deuses, não é aspecto da «biografia dos deuses» que a mitologia se supunha ser; diz-nos, sim, como a ser vieram mundos e homens, de cada vez que o foram, de cada vez que o são. [73] Cosmogonia e antropogonia é que indiretamente nos falam de como nasceram os deuses que presidem a cada fase antropocósmica. Homem e mundo são acenos dos deuses acenantes da mensagem da Divindade, mas, acenado o aceno, é como se nele morressem. Mas do que nos falam as teogonias? De como nascem ou de como morrem os deuses? [EudoroMito:73-74]


LÉXICO: teogonia