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dito

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

O pensamento pensa o pensável. Mas o pensável é um já franqueado por um ditado desocultante. Esse último é um ditado do Sugestor, do Ser, e, como já afirmara Schelling  , constitui uma escolha transcendente em relação à consciência escolhida. Não é a consciência que escolhe o seu mundo, mas é a escolha transcendente do Ser que lança a consciência em sua temática histórica. [VFSTM  :132]


Pois bem, o modo mais imediato do desencobrir é o falar sobre as coisas, isto é, a determinação da vida, que se pode tomar como λόγος (discurso), assume primariamente a função do ἀληθεύειv [25] (desvelamento). ἀληθεύει ὁ λόγος (o discurso desvela), e, com efeito, ο λόγος (discurso) qua λέγειν (falar). Mas, na medida em que todo λόγος (discurso) é ao mesmo tempo um exprimir-se, um comunicar, ο λόγος (discurso) recebe simultaneamente o sentido do λεγόμενον (o que é dito). E na medida em que é ο λόγος (discurso) que ἀληθεύει (desvela), ο λόγος (discurso) é qua λεγόμενον (aquilo que é dito) ἀληθής (verdadeiro – desvelador). Considerado rigorosamente, contudo, ele não o é. Na medida, porém, em que o falar é um ter se exprimido, na medida em que ele conquista na proposição uma existência própria, de tal modo que nela é conservado um conhecimento, ο λόγος (discurso) qua λεγόμενον (o que é dito) pode ser designado ἀληθής (verdadeiro – desvelador). Precisamente, esse λόγος (discurso) qua λεγόμενον (o que é dito) é o modo no qual a verdade de início se faz presente. No falar um com o outro mais imediato, nós nos mantemos junto ao falado, na escuta ao falado não é realizado necessariamente e a cada vez o conhecimento propriamente dito, de tal modo que eu, quando compreendo uma frase, não preciso necessariamente repeti-la em cada um de seus passos. Posso dizer “há alguns dias choveu”, sem atualizar para mim o chover etc. Posso emitir e compreender proposições, sem ter uma relação originária com o ente sobre o qual eu falo. Nesse caráter gasto propriamente dito, todas as proposições são repetidas e aí compreendidas. As proposições ganham uma presença peculiar; nós nos orientamos (nos retificamos) por elas, elas se tornam correções, as assim chamadas verdades, sem que a função originária do ἀληθεύειν (desvelamento) seja levada a termo. Constroem-se concomitantemente as proposições; juntamente com os outros, as repetimos de maneira fiel e crível. Assim, ο λέγειν (falar) conquista uma liberdade e uma autonomia em relação aos πράγματα (às coisas). Permanece-se no falatório. O modo como se fala sobre as coisas possui um caráter imperativo peculiar; nisso nós nos atemos, na medida em que procuramos nos orientar em geral no mundo e não podemos nos apropriar originariamente por nós mesmos de tudo. [Heidegger  , GA19:25]
fala; dito