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silêncio

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

87. Consequência de que os deuses permaneçam em seu «oculto reinar», mesmo após o aceno que acena para eles próprios e para o binômio «homem-mundo», que é homem do mundo e mundo do homem, é que também as mensagens de que os deuses são mensageiros não descobrem o ser da Divindade que expede os mensageiros portadores de suas mensagens. Supomos que a Divindade, como os deuses, permanece em seu «reinar oculto». [175] Mas o texto nos diz: «a partir do oculto reinar dos deuses, o Deus aparece em seu ser». Aqui expressa-se, em primeiro lugar, um traço de separação e um traço de união, ou um traço de separação que é traço de união ou um traço de união que é traço de separação, união e separação de Deus e dos deuses. União e separação residem no serem os deuses mensageiros de Deus. Mas, ao que parece, a união fala mais alto, mais expressivamente, porque «o ser do Deus aparece, partindo do oculto reinar dos deuses». Estaria aqui o significado do silêncio que perpassa pela linguagem mítica? Sendo assim, assim se revela a importância do mito. Pois o silêncio não é o silêncio de qualquer linguagem, mas só o da linguagem do mito. De que é silêncio o silêncio do mito? Que silenciam as palavras que, no mito, se referem ao acenar dos deuses? Que é o que por essas palavras se passa em silêncio? Decerto, o «oculto reinar» dos deuses! E parece claro que o reinar deles é oculto precisamente porque o mito não fala dele, passa por ele em silêncio, que é silêncio próprio da linguagem mítica. O mitólogo que não se apercebe do silêncio do mito julga que a ontofania também é teofania. Mas para quem se apercebe do silêncio, para quem lhe presta ouvidos atentos, nele e por ele verá que a ontofania é teocriptia, isto é, «oculto reinar» dos deuses. Daí parte o filósofo, não para converter a teocriptia em teofania, não para intercalar no entrepalavras do mito, que é sonoridade da linguagem significante de uma ontogonia, outras palavras que preenchessem o silêncio insignificado, em significado que fosse o da desocultação do «oculto reinar» dos deuses, isto é, que tendessem a identificar a ontofania com uma teofania, a abolir a teocriptia, a anulá-la, a desdenhar de uma importantíssima propriedade dos deuses — a que consiste em que eles permaneçam em seu «reinar oculto», e que não se deixam desocultar por seus acenos cosmo-antropogônicos. [EudoroMito:175-176]


LÉXICO: silêncio