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educação

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  
Eudoro de Sousa  

Fala-se, então, em «desenvolvimento» — mas impropriamente —, pois uma criança desenvolvida, isto é, retirada uma e outra de suas envolturas, mais criança nos parece; assim os adultos. O tal desenvolvimento é mister do educador, se por «educação» se entender o que a palavra diz: a ação de «e-duzir»; ou conduzir para fora de si a criança que o é. Por outras palavras: destruí-la, como criança, para reconstruí-la, como adulto. A educação é isso, e dolorosamente concordamos em que tenha de ser isso, num Mundo que pertence a quem trabalha para fazer «coisas», e não a quem joga com «coisas» que deixam de o ser por virtude própria do jogo. [EudoroMito:101]


A educação, essa, por de mais [103] apressada no demolir todas as virtualidades da criança, deixando de pé só as poucas de que o adulto se faz, porque o modelo é ele, porque é ele o arquétipo daquela imitação que já Aristóteles propunha como o motor de todo o aprendizado (este filósofo não pôde escutar da boca de Goethe   que o gênio é a criança que conseguiu fugir à escola); os mestres do aprendizado, da educação ou do que quer que se chame do mister de preparar artífices e profissionais úteis, que se vão somando a outros que já o são, mal se apercebem de que o trabalho é a cruz do ócio criador e inventivo, ou seja, da inutilidade, que também se vai somando com o esbanjamento de uma Natureza a que, certamente, não foi dado o discernir entre o que é útil e inútil (claro que muito bem sabemos que, sem a ideia de utilidade, não haveria ecologia); e, enfim, aí temos o trabalho ao serviço do «desenvolvimento», a outra cruz, dependurados da qual todos nós podemos morrer, mas sem a resignação de Quem aceitou e assumiu a morte, por transbordante amor à nossa vida. O Diabo, portanto, é o Inimigo da Disponibilidade, do que, afinal, é princípio, elemento vital, causa eficiente (que não olha para eficiência nenhuma) do que é desumanidade para o «homem-humano», isto é, da sua irresignação diante de quaisquer limites ou, ainda, do seu ilimitado ímpeto de os transpor a todos, a tanto custo passando da Objetividade à Realidade. [EudoroMito:103-104]
Jaeger  

"Constituído de modo correto e sem falha, nas mãos, nos pés e no espírito", tais são as palavras pelas quais um poeta grego dos tempos de Maratona e Salamina descreve a essência da virtude humana mais difícil de adquirir. Só a este tipo de educação se pode aplicar com propriedade a palavra formação, tal como a usou Platão pela primeira vez em sentido metafórico, aplicando-a à ação educadora [1]. A palavra alemã Bildung (formação, configuração) é a que designa do modo mais intuitivo a essência da educação no sentido grego e platônico. Contém ao mesmo tempo a configuração artística e plástica, e a imagem, "ideia", ou "tipo" normativo que se descobre na intimidade do artista. Em todo lugar onde esta ideia reaparece mais tarde na História, ela é uma herança dos Gregos, e aparece sempre que o espírito humano abandona a ideia de um adestramento em função de fins exteriores e reflete na essência própria da educação. O fato de os Gregos terem sentido esta tarefa como algo grandioso e difícil e se terem consagrado a ela com ímpeto sem igual não se explica nem pela sua visão artística nem pelo seu espírito "teórico". Desde as primeiras notícias que temos deles, encontramos o homem no centro do seu pensamento. A forma humana dos seus deuses, o predomínio evidente do problema da forma humana na sua escultura e na sua pintura, o movimento consequente da filosofia desde o problema do cosmos até o problema do homem, que culmina em Sócrates, Platão e Aristóteles; a sua poesia, cujo tema inesgotável desde Homero   até os últimos séculos é o homem e o seu duro destino no sentido pleno da palavra; e, finalmente, o Estado grego, cuja essência só pode ser compreendida sob o ponto de vista da formação do homem e da sua vida inteira: tudo são raios de uma única e mesma luz, expressões de um sentimento vital antropocêntrico que não pode sei explicado nem derivado de nenhuma outra coisa e que penetra todas as formas do espírito grego. Assim, entre os povos, o grego é o antropo-plástico. [Paideia]



LÉXICO: educação

Observações

[1plattein. Platão, Rep., 377 B; Leis, 671.E.