Página inicial > Termos e noções > Crítica

Crítica

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

12. Pois se o Diabo é o maior dos críticos, ainda assim, tão grande não foi, pois conseguiu ocultar-se atrás da franzina figura de Kant  . E este não podem os filósofos ignorar, por ignorantes que se vangloriem de ser, em torno do que ao Diabo concerne. O filósofo de Königsberg não se contentou com uma só «crítica»: em sua vida publicou três. Não podemos nem queremos ignorá-lo; tingir que ele não existiu, como tantos fingem que não existe o Diabo. E não queremos saber se o interpretamos bem ou mal, afirmando que na sua primeira Crítica ele criou o «mundo objetivo», um mundo que só não é o real porque não posso deixar de me interpor a mim entre a realidade que eu sou e a realidade que outro seja. Talvez me acusem de mal-entendê-lo, quer dizer, de entendê-lo a meu jeito, a jeito do que, acerca dele, me proponho pensar. Mas — prosseguindo — o mundo objetivo também é eminentemente subjetivo, na medida em que não seja errado dizer que não há objeto sem sujeito. Eis o que me parece um dos mais excitantes, se não o mais excitante, achados deste filósofo. A revolução copernicana de Kant foi o constituir o sujeito, que é o de uma humanidade em geral, em sol do domínio gnosiológico. Eu estou no centro de gravitação de um sistema planetário. Apenas se dá o seguinte: este sol é o da meia-noite, feito que é de um a priori, constituído de formas inteiramente vazias, tanto as formas da apreensão sensível, quanto as categorias da inteligibilidade. Mas, deixando isto ao inteiro dispor dos mui respeitáveis especialistas, vou recomeçar por um intencional desentendimento do kantismo. Penso que o sujeito lança reptos à Realidade (seja esta o número de Kant, ou o que quer que por eminentemente Real se denomine, sem que saibamos o que seja), reptos que são perguntas (talvez as que a própria Realidade nos sugere) formuladas em determinados termos, e Aquela me dá, nos mesmos termos, a resposta sua, que é o objeto correlato ao sujeito que nós somos. Só que ser sujeito não é o mesmo que ser «eu». O que entendo por «sujeito» (e aqui, mui consciente e deliberadamente me afasto de Kant, ou de todo o rejeito) anda muito próximo do que tem o nome de «personalidade» (ou de «personagem» de [99] certo drama gnosiológico). Por isso proponho que se medite nisto: há sujeito e sujeito. Portanto, haverá também objeto e objeto. O «objetivo» é tão pouco unívoco quanto o «subjetivo». [EudoroMito: 98-99]


LÉXICO: Crítica