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etiologia

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Etiologia em sentido estrito são todos os ramos da ciência da natureza que têm por tema principal, em toda parte, o conhecimento de causa e efeito: ensinam como, em conformidade com uma regra infalível, a um estado da matéria se segue necessariamente outro bem definido; como uma mudança determinada necessariamente produz e condiciona uma outra determinada, cuja prova se chama explanação. Aqui se incluem sobretudo a mecânica, a física, a química, a fisiologia.

Caso nos dediquemos ao aprendizado das ciências, logo perceberemos que a informação principal procurada não é fornecida pela etiologia nem pela morfologia, Esta última nos apresenta figuras inumeráveis, infinitamente variadas, aparentadas por uma inegável semelhança de família, para nós representações, mas que por essa via permanecem eternamente estranhas, e que, se consideradas apenas nesses moldes, colocam-se diante de nós como hieróglifos indecifráveis. — A etiologia, ao contrário, nos ensina que, segundo a lei de causa e efeito, este determinado estado da matéria produz aquele [I 116] outro, e com isso o explica, cumprindo assim a sua tarefa; não obstante, no fundo somente demonstra a ordenação regular segundo a qual os estados aparecem no espaço e no tempo, ao ensinar para todos os casos qual fenômeno tem de necessariamente aparecer neste tempo, neste lugar, portanto determina, segundo uma lei de conteúdo determinado aprendido da experiência, sua posição no espaço e no tempo, [153] cuja necessidade e forma universal, todavia, nos são conhecidas independentemente da experiência. Mas não recebemos por aí a mínima informação sobre a essência íntima de nenhum daqueles fenômenos. Essência que é denominada força natural e se encontra fora do âmbito da explanação etiológica, que chama de lei natural a constância inalterável de entrada em cena da exteriorização de uma força, sempre que suas condições conhecidas sejam dadas. Semelhante lei natural, com as condições de entrada em cena num determinado lugar, num determinado tempo da exteriorização da força, é tudo o que a etiologia conhece e pode conhecer. A força mesma que se exterioriza, a essência íntima dos fenômenos que aparecem conforme aquelas leis, permanece um eterno mistério, algo completamente estranho e desconhecido, no que se refere tanto ao fenômeno mais simples quanto ao mais complexo. Pois, embora a etiologia tenha alcançado mais perfeitamente o seu objetivo na mecânica, mais imperfeitamente na fisiologia, ainda assim a força em virtude da qual uma pedra cai na terra, ou um corpo repele outro, não é menos estranha e misteriosa em sua essência íntima do que aquela que produz os movimentos e o crescimento de um animal. A mecânica pressupõe matéria, gravidade, impenetrabilidade, comunicação de movimento pelo choque, rigidez etc. como impossíveis de fundamentação, chamando-as de forças naturais, e, de lei natural, a sua aparição necessária e regular sob certas condições; só em seguida começa a sua explanação, que consiste em indicar de maneira fiel, matematicamente precisa, como, onde, quando aquela força se exteriorizou, remetendo cada fenômeno encontrado a uma dessas forças. Assim também o fazem física, química e fisiologia em seus domínios, com a diferença de pressuporem mais e realizarem menos. De acordo com tudo isso, até mesmo a mais perfeita explanação etiológica de toda a natureza nada mais seria, propriamente dizendo, [I 117] do que um catálogo de forças inexplicáveis, uma indicação segura da regra segundo a qual os seus fenômenos aparecem, sucedem-se e dão lugar uns aos outros no espaço e no tempo. Porém, teriam de deixar sempre inexplicável a essência íntima das forças que assim aparecem, porque a lei observada pela etiologia restringe-se. aos fenômenos e à sua ordenação, não indo além disso. Assim, a explanação etiológica é comparável ao corte de um mármore que mostra [154] variados sulcos um ao lado do outro, mas não permite conhecer o curso de cada um deles do interior à superfície do bloco; ou, se me for permitida uma comparação burlesca, em virtude de sua plasticidade, — em face da etiologia de toda a natureza o filósofo investigador teria de se sentir como alguém que, sem saber, entrasse numa sociedade por inteiro desconhecida, cujos membros lhe apresentariam seguidamente seus respectivos parentes e amigos, tornando-os suficientemente familiares; ele mesmo, entretanto, todas as vezes que se alegrasse com a pessoa apresentada, teria sempre nos lábios a pergunta: “Diabos, como vim parar no meio dessa gente?” [Schopenhauer  , MVR1:153-155]

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