Página inicial > Termos e noções > organismo

organismo

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

A crítica radical de Hume   do princípio da causalidade, que preparou o caminho para a posterior adoção do princípio da evolução, foi tida frequentemente como uma das origens da filosofia moderna. O princípio da causalidade, como o seu duplo axioma central – de que tudo o que existe tem de ter uma causa (nihil sine causa) e de que a causa tem de ser mais perfeita que o seu efeito mais perfeito –, baseia-se, como é óbvio, inteiramente em experiências no âmbito da fabricação, na qual o produtor é superior aos seus produtos. Visto nesse contexto, o ponto crucial na história intelectual da era moderna ocorreu quando a imagem do desenvolvimento da vida orgânica – na qual a evolução de um ser inferior, como o macaco, por exemplo, pode causar o surgimento de um ser superior, como, por exemplo, o homem – apareceu no lugar da imagem do relojoeiro que tem de ser superior a todos os relógios dos quais é a causa.

Essa mudança implica muito mais que a mera negação da rigidez sem vida de uma visão mecanicista do mundo. É como se no conflito latente do século XVII entre os dois métodos que podem ser derivados da descoberta de Galileu   – o método do experimento e da produção, de um lado, e o método da introspecção, de outro – este último estivesse prestes a alcançar uma vitória um tanto tardia. Porque o único objeto tangível produzido pela introspecção, se é que esta deve produzir algo mais que uma autoconsciência inteiramente vazia, é realmente o processo biológico. E como essa vida biológica, acessível na auto-observação, é ao mesmo tempo um processo metabólico entre o homem e a natureza, é como se a introspecção já não precisasse perder-se nos meandros de uma consciência sem realidade, uma vez que encontra dentro do homem – não em sua mente, mas em seus processos corporais – suficiente matéria exterior para ligá-lo novamente a um mundo exterior. A cisão entre sujeito e objeto, inerente à consciência humana e irremediável na contraposição cartesiana do homem como res cogitans com um mundo circunvizinho da res extensae, desaparece inteiramente no caso de um organismo vivo, cuja própria sobrevivência depende da incorporação e do consumo de matéria exterior. O naturalismo, versão do materialismo no século XIX, aparentemente encontrara na vida o modo de resolver os problemas da filosofia cartesiana e ao mesmo tempo transpor o abismo cada vez maior entre a filosofia e a ciência [v. filosofia da vida]. [ArendtCH:43]

LÉXICO: organismo