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dedução

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Para ser [...] logicamente correto, legítimo, válido ou concludente, um raciocínio deve fornecer a prova de que a sua conclusão é discursivamente ou formalmente verdadeira em relação à sua hipótese, dito de outro modo, que é legítimo substituir a afirmação da hipótese pela afirmação da conclusão. [...]

Todos estes raciocínios têm como caráter comum instituir a verdade discursiva de uma conclusão com apoio exclusivo no princípio do acordo do pensamento consigo mesmo ou princípio de tautologia [o principio afirma que quando duas expressões são equivalentes, é legitimo substituir uma pela outra]. É esse caráter comum que se exprime quando os reunimos sob o nome de dedução.

Mas se a dedução se reduz por definição a uma tautologia, não é necessariamente estéril? Para quê todas essas regras e essas formas complicadas da lógica formal destinadas a substituir proposições por outras proposições cujo conteúdo de significação é exatamente o mesmo se são equivalentes, e é mesmo menos rico se são simplesmente implicadas por elas? É certo que a dedução nada cria no que respeita ao conteúdo de significação da conclusão em relação à hipótese, e é precisamente por esta razão que garante a verdade formal ou discursiva da conclusão. Mas ela exprime esse conteúdo de significação de uma maneira instrutiva na medida em que é nova. As operações do moleiro e do padeiro não acrescentam um átomo à substância do trigo, mas tornam-na comestível. Toda indústria consiste em levar a uma matéria preexistente modificações graças às quais ela se torna capaz de prestar serviços que não podia prestar no seu estado anterior. A dedução é uma indústria mental que trabalha sobre proposições; não acrescenta nada A sua significação, mas torna esta susceptível de uma utilização nova. Se, depois de ter olhado uma pessoa de costas, a olho de frente, é ainda a mesma pessoa, e no entanto a segunda posição fornece-me sobre a forma do seu nariz ou a cor dos seus olhos informações que a primeira me não fornecia. Analogamente, a dedução, se bem que assente no princípio de tautologia, é instrutiva, porque, se a conclusão repete a hipótese, repete-a sob uma forma nova, revela um aspecto da significação da hipótese que estava oculto nessa hipótese. Quando, por exemplo, o geômetra substitui a proposição: «o raio é perpendicular á tangente que passa pela sua extremidade», por estoutra: «a tangente é perpendicular ao raio que passa pelo ponto de contato», esta substituição é ao mesmo tempo ilegítima, na medida em que a proposição nova tem a mesma significação que a que substituiu, e fecunda, pois que a proposição nova já enuncia, não, como a precedente, uma propriedade do raio, mas uma propriedade da tangente. A dedução é uma maiêutica; o seu papel é revelar a quem a emprega que sabia alguma coisa que ignorava saber. [G. H. Luquet, Logique, Morale, Métaphysique, 1931, pp. 18 e 39-40.]

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