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alegoria

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Mas que é alegoria? É a transposição mortificante da sensibilidade para a inteligibilidade, e, por conseguinte, da natureza sensível para a natureza inteligível. Mas esta é tão pouco abrangente, em extensão e profundidade, que, para emendar a mão, houve que se inventar um «sobrenatural» que se acrescenta ao «natural», quando se verifica que uma boa porção de natureza nunca chega à presença do presente e, demais, se é forçada a transpor o limiar da inteligibilidade. O passado, de cuja presença a expressão é mítica, está pois constituído só de natureza e sensibilidade, isto é, só daquilo contra o que se debate o homem presente à presença do presente. Lembremo-nos do que acima ficou dito acerca deste presente: o Homem da recusa e da negação. Agora, pomos tudo o que dissemos ao serviço de melhor definição do passado, dizendo, na sequela de Schelling  , que aí não se encontra um espírito sem natureza, frente a uma natureza sem espírito. Ainda não soou a hora da alegoria, que é exatamente o produto da aplicação do espírito sem natureza sobre a natureza sem espírito ou o não-mítico, por excelência, já que, no mítico, natureza é espírito visível (sensível), e espírito, natureza invisível. É claro que, neste contexto [348], dissolve-se toda a espécie de oposição entre sensível e inteligível e, portanto, não há que ver num mito a alegoria, isto é, o «outro dizer» (állo agoreúein), que é um dizer por imagens aquilo mesmo que já fora dito ou pensado por conceitos. Esta é a concepção da presença do presente, no momento em que ela se defronta com a presença do passado; concepção de todos os filósofos e historiadores gregos, quando não chegam ao rompimento de todas as relações possíveis e à guerra declarada do logos contra o mythos. [EudoroMito:348-349]


LÉXICO: alegoria