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iniciação

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

55. A trans-objetividade é a única e verdadeira Skolé («escola», «lazer») em que os distraídos e excêntricos, aprendendo, sem querer, que o Separado-Originário reúne todos os pares de contrários, na forma simbólica, de que, não os homens, mas os deuses, são «sujeitos», também aprendem a conhecer uma via de acesso ao lugar, que não é lugar, iniciando-se, em tempo, que não é tempo, isto é, na Lonjura e no Outrora, no caminho que não é «método», para o último limite-liminar. Efetivamente, todas as iniciações têm seu início no liminar da trans-objetividade: a iniciação na vida religiosa, a iniciação na atividade poética, a iniciação no pensamento filosófico. Evidentemente, todas três são específicas formas de um só gênero dramático, e o desfecho do drama, por diversas que sejam as intrigas, é sempre o mesmo, uma simbólica «religação» das «coisas» com o respectivo «ser-origem». E também o mesmo é o destino do homem que desempenha genérica ação dramática, em qualquer de suas três formas específicas: a metamorfose invisível no corpo, mediante a qual, morre primeiro o «homem humano», para renascer no «desumano» ou «transumano» e, depois, a morte deste, para renascer no [142] divino, que é a sua «subjetividade irredutível». A primeira dessas mortes é a consumação dos «mistérios menores», a segunda, a dos «mistérios maiores». Mas o que entre eles, religioso, poeta e filósofo, há de comum é o morrer-renascer da metamorfose. O religioso morre e renasce no drama de sua religião; o poeta, no da sua poesia; o filósofo, no da sua filosofia. E todos morrem duas vezes; a primeira, na passagem da objetividade para a trans-objetividade, em que se representa o drama ritual, quer o da religião, quer o da poesia, quer o da filosofia; e a segunda, no momento em que todos deixam ficar para trás de si os deuses objetivantes, no simbólico, diacosmeses que, propriamente, não eram as de religioso, nem as de poeta, nem as de filósofo, mas em que todos três desempenhavam seu papel do modo que lhes é peculiar. Para o homem da objetividade, nada mais natural, mais em conformidade com sua natureza, do que tudo isto lhe parecer inepto, absurdo e impossível, como dizia Tertuliano  , referindo-se ao mysterium fidei. É claro que esse homem tem hoje um nome que muito bem o caracteriza, mas como o contrário do que ele significa: «positivista». [EudoroMito:142-143]

LÉXICO: iniciação