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bios

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  
Thomas Taylor  

Thomas Taylor, o renomado platonista do século XIX, fez um breve estudo sobre o sentido filosófico do termo bios em Platão  . Começando por uma citação de Proclo  , assim se define bios na antiguidade grega: "A vida significada pela palavra bios é mais adaptada à alma. Pois se a qualquer tempo esta palavra é usada em falando do intelecto, como no Filebo   (Platão), ela significa a peculiaridade da vida. Pois bios manifesta estas duas coisas, ou seja, a forma peculiar de cada vida, e a evolução da escolha da qual ela tem sua progressão. Portanto, é propriamente afirmado de almas: pois nestas há uma evolução [de escolha]. (Proclo, Comentário ao Timeu  )

O que aqui é dito por Proclo, que bios significa uma evolução da escolha, é confirmado pela segunda passagem do Livro X da República  : "O discurso da virgem Lachesis, a filha da Necessidade: "Almas de um dia! O início de outro período de homens de raça mortal. O daimon não deve recebe-vos como seu lote, mas deves escolher o daimon. O primeiro, que seja primeiro a escolher uma vida (bios), à qual deve necessariamente aderir. A virtude é independente, a qual cada um deve partilhar mais ou menos, na medida que a honra ou a desonra: a causa está nele que faz a escolha, e Deus é sem culpa". A evolução das vidas que seguem este discurso, é portanto, evidentemente, a evolução de uma escolha. E a palavra bios perpetuamente ocorre em tudo que é dito por Platão sobre as vidas diferentes da alma humana. (Taylor, 1819)


Agamben  

O outro termo para “vida” em grego, bios (no sentido, que aqui interessa, de forma de vida ou de vida humana qualificada) aparece 35 vezes em Corpus, sobretudo no célebre incipit, de Aforismos: Ho bios brachys, he de techne makrè [a vida é curta, a arte é longa]. Confirmando a falta de tecnicização do conceito “vida” no âmbito médico, os textos de Corpus mostram, com relação àqueles literários e filosóficos, certa indeterminação da oposição zoe/bios (cf.,por exemplo, Flat., 4). [AGAMBEN, Giorgio. O Uso dos Corpos. Homo Sacer IV,2. São Paulo  , Boitempo, 2017, p. 222]


Hadot  

Apesar de que a significação destas duas expressões (bios e zoe) é frequentemente intercambiável, se pode estabelecer às vezes uma diferença de significado entre elas. Bios está frequentemente vinculado com o mundo propriamente humano e preferivelmente significa a duração da vida e o modo de viver. Hadot, artigo “Leben” do Historiches Wörterbuch der Philosophie de Joachin Ritter


Alexandre Costa

Segundo Alexandre Costa (1999), bios, enquanto vida, parece vincular-se estritamente ao homem. O termo aparece apenas duas vezes nos fragmentos de Heráclito   e nessas duas vezes está restrito ao universo humano. Esses dois fragmentos são os de número 62 e 48 e assim soam, respectivamente:

Imortais mortais, mortais imortais, vivendo (zontes) a morte (thanaton) destes, morrendo (tethneotes) a vida (bion) daqueles. (frag. 62)

O nome do arco, vida (bios); sua obra, morte (thanatos). (frag. 48)

Pode-se assim assegurar que bios se relaciona à vida do homem tomada em sua atividade e conduta (donde bio-grafia), correspondendo, portanto, ao homem em sua instância éthica. O acesso para uma compreensão efetiva de bios passa necessariamente pela questão do Logos, vista que a questão do êthos humano perpassa ou é perpassada fundamentalmente pelo fato de o homem ser o único ente que possui um logos particular e que esse logos particular surge da própria relação que o ser humano mantém para com o Logos.


Heidegger  

Βίος: a new concept of “life,” and not the same as ζωή. Modern biology does not have the Greek βίος in mind. Βίος is the “tending of life,” “course of life,” the specific temporality of a life from birth to death, “the run of one’s life,” so that βίος also means “life-account.” The how of a ζωή is the βίος, history of a life. What life makes of itself is drawn from the concerns in the vicissitudes of life, and this conception of life, drawn from the concerns in a determinate tending of life, is at the same time περὶ τῶν πράξεων, interpretation of the concerns themselves from which it is drawn. That is the methodological clue that Aristotle   takes from the consideration of the βίοι, in order to see, on the basis of this consideration, what life has grasped as τέλος καθ᾿ αὑτó itself. He lays out three such βίοι:

1. βίος ἀπολαυστικóς, “the life of pleasure, enjoyment”

2. βίος πολιτικóς, the mode of experiencing life that arises in the concern within concrete being-there

3. βίος θεωρητικóς, the mode of being-there that is characterized by contemplation [Heidegger, GA18:74]



LÉXICO: BIOS