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quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Trabalho/função (ergon)

O uso do termo ergon é ambíguo em Platão em vários aspectos. De um lado, reflete-se nele uma mistura de “fazer” (no sentido de “produzir” ou “fabricar”) e “atuar” (“ser ativo”): portanto, ergon designa, de um lado, o produto de determinada atividade, especialmente de diferentes artes (technai), de modo que, por exemplo, a casa aparece como ergon do construir ou a saúde como ergon da medicina (Cárm. 161e, 165c-,Eutid. 280c). É característica desse uso poiético a distinção ôntica entre o trabalho como resultado e a atividade que o produz. Em oposição a isso, o trabalho e aquilo a que ele pertence, no caso do segundo uso, o uso prático do conceito, não são separados: assim, o ergon do olho é a atividade de ver e o trabalho da faca é cortar. Nesse segundo sentido, um ergon é atribuído tanto a seres vivos como um todo quanto a suas partes, assim como a artefatos (Rep.   352e-353a). Tanto no uso poiético quanto no prático, o aspecto da funcionalidade é conotado em determinados contextos de sistemas (em parte concebidos intencionalmente) (Crát. 388c-d), motivo pelo qual pode ser traduzido em muitas passagens também como “função” ou “tarefa”. A atribuição de tal função deve-se ou à providência divina (íon 537c) ou a considerações pragmático-sociais: assim, no Estado bem-ordenado, “cada um tem uma tarefa fixa que é obrigado a cumprir” (Rep. 406) Nisto, o funcionamento do todo é dependente do cumprimento da função das partes individuais; por exemplo no caso da teoria do Estado platônica: é dependente do exercício dos papéis dos estamentos individuais, dos quais cada um tem de fazer o lhe é próprio (ver justiça). [SHÄFER]