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quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Simples (haplous)

I. O termo “simples” (haplous) é aparentado com o monoeidês ou os conceitos negativos de “sem partes” (ameres), incom-posto (asyntheton) ou indivisível (atomon), contrapondo-se, assim, ao multiforme (poikilon, polyeidês, polyplokôteron) ou composto (syntheton, synkeisthai). O conceito indica, muitas vezes enfaticamente, a validade absoluta, geral de um conhecimento elementar (Teet. 188d; Fedro   244a; Parm. 163c), mas também constitui, no sentido da simplicidade como clareza e nitidez, a condição de um diálogo bem-sucedido, isto é, perguntas e respostas não podem ser poikilon (Teet. 146d). O uso do termo para caracterizar o homem moralmente íntegro, honesto, verdadeiro e simples — em sua contraposição ao versátil (polytropos) e falso — encontra-se em toda a obra de Platão (Híp. menor 364e-365b; Rep.   361b, 547e) e ganha uma determinação mais precisa nos ideais da narrativa simples (Rep. 393d-394b), da vida simples, da música simples ou das leis simples (Rep. 404b-e), que devem conduzir às realizações fundamentais, estáveis de estruturas de ordem como saúde, temperança e justiça. Portanto, justiça implica simplicidade e constância; o ideal de um Estado e de sua constituição reside na simplicidade sem mudança (Rep. 549c), e a forma de suas leis deve ser a mais simples possível (Leis 913c). Nesse sentido, vê-se na teologia que Deus deve ser simples e incomposto, portanto eterno e imutável, e assim deve ser representado (Rep. 380d, 382e), o que já mostra a “etimologia” do nome Apoio (Crát. 405b-406a). No entanto, o simples não é indeterminado, nem nas faculdades da alma nem nos deuses, mas significa, antes, a validade incondicional, universal ou imutabilidade de uma determinação (Banq. 183d, 206a), e isso também no caso das ideias. Apesar de ocasionais analogias feitas entre simples, indivisível (ameriston) e ser-um (Teet. 205c-e; Crát. 405b-c),

Platão geralmente separa o um ou a unidade e o simples (Féd.   108a), e nisto o simples caracteriza primordialmente realidades ontologicamente médias ou fenomênicas (deus, alma, Estado, leis, homens, cosmo ou linguagem), ao passo que a unidade também pode designar entidades metafísicas e logicamente superiores (as ideias e o próprio um) ou seu efeito em estruturas empíricas, fenomênicas. As determinações asyntheton e monoeidês também são mediadamente empregadas para ideias — por exemplo, a imortalidade da alma por causa de sua proximidade em relação a elas (Féd. 78c-d) —, mas servem para indicar o desprender-se das ideias acima das formas dadas de totalidades divisíveis no âmbito sensível, isto é, elas assinalam a negação de totalidades divisíveis. [SHÄFER]