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Ser

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Ser/ente (ousia, on)

Como a maioria dos conceitos básicos da filosofia, o conceito de ser também não é independente, mas só adquire contorno com os múltiplos contraconceitos: ser e não-ser, ser e aparência, ser e devir. A contribuição genuína de Platão certamente consiste em ter sido o primeiro a pensar dessa maneira o conceito de ser: o conceito “ser” é firmemente estabelecido em si e, ao mesmo tempo, mantém múltiplas relações.

I. Em geral: Platão se apresenta como herdeiro dos primórdios da filosofia grega pelo fato de ter vinculado ao “ser” as propriedades, carregadas de valores, ou perfeições: imperecibilidade, imutabilidade, indivisibilidade e universalidade (cf. Parmênides, DK 28 B 8; Eéd. 80a-c; Banq. 211a; Rep.   508d, 527b). Por isso, para Platão, aquilo que não possui essas propriedades, ou seja, sobretudo a coisa sensível, não pode ser no sentido pleno e deve, ao mesmo tempo, ser entretecido de não-ser. Ele é o que está em devir, que “rola” constantemente entre o ser e o não-ser (Rep. 479d): ele só é na medida em que não é alguma coisa ou não ainda, ou não mais, é alguma coisa.

Se, portanto, Platão, na figura de Sócrates, está sempre perguntando o que é, por exemplo, virtude (Mên. 72a ss.), coragem (Laq. 190b ss.) ou saber (Teet. 145e), nessa pergunta já está implícito que nesse “o que” deve se tratar de uma forma do ser constante e imutável, que supera, fundamenta e explica toda ocorrência de uma ação corajosa ou o conhecimento de um estado de coisas determinado. A pergunta pelo “o que” de uma coisa é, ao mesmo tempo, a pergunta por seu “de onde”. De acordo com isso, esse “o que” ou essência própria de uma ou mais coisas também é propriamente, como inversamente essas coisas não são “verdadeiramente”. Platão dá a esse “o que” realmente existente, apreensível apenas espiritualmente, o célebre termo “ideia”. Em relação ao seu status ontológico, Platão também chama a ideia de ousia (Féd.   65d-e; Rep. 479c; Tim. 29c): à quididade de uma coisa também competem sua “entidade” ou ser verdadeiro. Em outras palavras: o conceito de ousia une em si aspectos quididativo-conceituais e aitiológicos, criadores de ser (Banq. 210e ss.; Fedro   246 ss.). Disso se segue que as ações concretas e os fenômenos sensíveis não são apenas formalmente determinados como justos, corajosos ou circulares etc. por um “o que” constante em si, mas também só adquirem seu ser por meio desse “o que”. Eles são na medida em que copiam ou imitam um “o que” transcendente a eles. Em última análise, para Platão, todo o cosmos é uma imitação projetada como cópia do que é etemamen-te (Tim. 28d ss.; 50 c ss.). [SHÄFER]