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retórica

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Retórica (rhêtorikê [technê])

I. Platão cresceu em Atenas numa época em que a eloquência tinha conquistado lá uma posição de dominio como habilidade prática e como objeto da educação da elite na consciência pública. Por certo, as falas de personagens inseridas nas epopeias homéricas já atestam, para os primórdios da literatura grega, uma vivida atenção dos poetas e do público ao desenvolvimento artístico da eficácia oratória (cf. a respeito, por exemplo, Heitsch 1992, p. 107). Portanto, já nessa época parece ter havido um tipo de implícita “teoria retórica revestida na práxis retórica” (cf. Janka 2001). Quintiliano também elogia Homero   como “modelo e origem” da arte retórica (cf. Institutio oratoria 10, 1,46). Mas até que a retórica, desde 467 a.C., pudesse se estabelecer na Sicília e — com um atraso de poucas décadas — em Atenas como disciplina no sentido estrito um “período de incubação” de várias décadas ingressou na região. No início da história da retórica se encontra a diadoché dos três sicílios Córax, Tísias e Górgias   (cf. a respeito Schindel 1992, p. 12). O último deles simplesmente se tornou o símbolo da naturalização do programa educacional dos sofistas em Atenas; no diálogo Protágoras  , Platão se ocupa paradigmaticamente com a pretensão deles de transmitir amplas competências para uma atividade política bem-sucedida (aretê politikê); mas Górgias também inspirou a linha não sofista   de curricula marcadamente retóricos, por meio de seu ouvinte Isócrates  , o adversário contemporâneo de Platão como fundador de escola e preceptor da juventude intelectual ateniense.

Segundo uma tese fascinante, porém, em última análise, insustentável, teria sido justamente Platão a cunhar o termo rhêtorikê (viz technê) e, portanto, podería ser intitulado “inventor” da retórica (assim Meyer   2004, p. 210, com referência a Schiappa 1990). De fato, a designação rhêtorikê (precisamente technê) é atestada pela primeira vez relativamente tarde no corpus dos textos conservados, a saber, no Górgias de Platão (448d; não considerado em Schindel 1992, p. 13). No entanto, tudo leva a crer que os manuais mais antigos de retórica (technologiai) do século V, a que o Fedro   se refere expressamente, mas que foram todos expulsos do processo da tradição pelo Technôn Synagogê de Aristóteles, continham essa especificação da technê (cf. a argumentação plausível de Schindel 1992, p. 13). Ainda que o termo, por conseguinte, não represente uma criação de Platão, a Apologia e também outros diálogos contribuem com elementos essenciais para um perfil do conceito de retórica, assim como para uma sensibilização para os perigos associados a tal concepção de educação. [SHÄFER]